quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Saber perder

Jacqueline Costa

Rafaela Sila, a judoca de 20 anos, era uma das esperanças do Brasil nas Olimpíadas de Londres 2012. A atual vice-campeã mundial acabou desclassificada por ter aplicado um golpe ilegal na húngara Hedvig Karakas. A catada de perna, que ela utilizou, era aceita até 2010 e até rendeu um bronze para Flávio Canto em Athenas 2004.

Por um acaso do destino, o mesmo Flávio Canto, que usou o tal golpe em 2004, fundou Projeto Reação, na Cidade de Deus, junto com o treinador Geraldo Bernardes. Foi lá que a judoca foi descoberta. Rafaela acabou se tornando a grande revelação do projeto e uma das maiores esperanças brasileiras em Londres. Toda essa expectativa desmoronou com a pegada na perna da adversária, que a desclassificou.

A vida da jovem judoca, que ainda terá pelos menos duas Olimpíadas em sua carreira, claramente depende do judô. A menina humilde, que teve o talento descoberto em um projeto social, fez do esporte a sua vida: ele a educou, a deu disciplina, a sustenta e, quem sabe, contribui até no sustento de sua família. Ela alicerçou a sua vida no judô e consagrar-se ainda tão nova em uma Olimpíada, seria realizar um grande sonho. Seria mais do que obter uma medalha ou um prêmio de patrocinadores. Seria uma forma de mostrar para a comunidade de onde veio e para outras tantas comunidades como a dela, que com esforço e dedicação é possível sonhar e conquistar um futuro vitorioso.

Mas quem disse que Rafaela não é uma grande vitoriosa? Uma menina que, a princípio, não teria um futuro muito promissor, se agarrou ao esporte e chegou a uma Olimpíada, depois de conquistar a prata em um campeonato mundial.  Quem disse que ela não serve de exemplo para crianças, que, assim como ela, ganham uma chance da vida e sonham em um dia subir no pódio?

Ninguém pode desmerecer o lugar em que Rafaela chegou e negar que ela foi longe sim. Ela é uma heroína, que ainda terá por muito tempo, pela pouca idade que tem, a chance de encher os brasileiros de orgulho.

Mas infelizmente nem todo mundo pensa assim. Depois da derrota, Rafaela Silva foi duramente atacada e condenada nas redes sociais. No entanto, os internautas, que usaram inclusive insultos de cunho racista, se esquecem que ela, mais do que ninguém, já se condenou e já foi dura o suficiente pelo erro cometido naquela luta.

Tento imaginar o que a menina sentiu assim que foi desclassificada. É muito mais do que desespero, para quem se dedica tanto, por tanto tempo, para quem vive do esporte e vê seu sonho desmoronar em apenas um golpe.

Eu ainda me impressiono com a agressividade que as pessoas expressam na internet. Ontem mesmo a Julia Petit publicou texto em seu site, falando exatamente sobre isso. As pessoas se sentem protegidas pela tela do computador e ofendem, agridem e acusam as outras, sem observar qualquer convenção social e sem o mínimo de polidez. Elas se sentem capazes de dizer tudo que pensam, em seus monólogos que não podem ser interrompidos pelo ofendido, que não pondera, não pontua, não faz qualquer intervenção enquanto o outro o agride, muitas vezes, gratuitamente.

A vida em sociedade também acontece on line. As pessoas se relacionam da mesma maneira e, portanto, devem tratar as outras com a mesma educação e delicadeza própria dos contatos reais. Aliás, duvido que teriam coragem de dizer, o que dizem, e agir, como agem nas redes sociais, se estivessem cara a cara com a outra pessoa.

Uma coisa é a livre manifestação do pensamento. Outra coisa, é transformar uma simples opinião em uma ofensa pessoal. Eu adoro feedbacks positivos ou negativos. Penso que isso faz com que eu reavalie a minha conduta e repense os caminhos, que escolho seguir.

A Rafaela, certamente, pensou em todas essas coisa mesmo antes de qualquer feedback sobre aquela luta. Ela recebeu além das provocações e ofensas, o carinho da comissão técnica e de outros atletas e muita força, para que aquela menina humilde se dedique ainda mais e esteja pronta para o Rio em 2016.

Foto: Reprodução.

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