terça-feira, 28 de agosto de 2012

Diário de classe

Jacqueline Costa



Inconformada com a triste realidade da Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis – SC, a menina Isadora Faber criou sozinha um perfil no Facebook, para denunciar as péssimas condições a que professores e alunos são submetidos. Só que ela não contava com o sucesso da iniciativa e com a pressão que sofreria em decorrência disso.

A menina tímida, mas bastante questionadora e crítica, fez da internet a sua válvula de escape. Ela começou mostrando maçanetas quebradas e fios de eletricidade expostos, que posteriormente foram consertados e mostrados novamente por ela. Isadora também já falou sobre outros itens de infraestrutura da escola e sobre a qualidade do ensino. Com isso, ela esperava ter criado um canal de comunicação para melhorar a sua escola, já que as reclamações que ela e outros colegas apresentavam diretamente não surtiam efeitos. Mas isso acabou se tornando um grande problema para a menina.



Isadora sofreu represálias na escola e seus pais foram chamados. A diretora, inclusive, tentou convencer a mãe da menina a forçá-la tirar o perfil do ar. Ela conta que as cozinheiras riem dela e sempre dizem quando a veem: “Lá vem a fotógrafa”. As professoras frequentemente dão indiretas e pedem para que a página seja retirada do ar. A professora de Português, por exemplo, preparou uma aula sobre política e internet e disse, com o claro intuito de humilhá-la diante dos colegas, que falar mal dos professores é errado. Os colegas não a apoiam e dizem que ela quer prejudicar a escola, quando estão em sala. Fora da escola, eles dão outra versão para essa história e apoiam a iniciativa da menina, especialmente pela internet.

Após a divulgação pela imprensa do caso, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que irá apurar o que está acontecendo, especialmente em relação à pressão que a menina vem sofrendo. Hoje será realizada uma reunião com a direção da escola e só depois disso, a Secretaria se pronunciará. Por óbvio, ninguém espera que a Secretaria de Educação do Município elogie a iniciativa de Isadora, que denuncia as deficiências do trabalho que ela deveria fazer e dos serviços que deveria prestar adequadamente aos alunos. Mas espero que essa Secretaria ao menos coíba manifestações, oriundas especialmente dos professores e dos demais funcionários da escola, que reprimam e atentem contra a dignidade da menina, que não faz nada além de cobrar o que lhe é de direito.

Isadora teve a ideia de criar o perfil para falar sobre as condições de sua escola depois de ler sobre o blog criado pela escocesa de nove anos, que nele avaliava a qualidade da merenda escolar, que incluía pizza, hambúrguer, frituras, pouco ou nenhum vegetal ou fruta. Depois de mais de dois milhões de acessos e de ter recebido o apoio do chef Jamie Oliver, Martha Payne foi proibida de fotografar a merenda para postar em seu blog com a avaliação respectiva. No entanto, depois de tanta repercussão, o cardápio da escola foi substancialmente alterado.

Eu criei o Toda conversada há pouco mais de um mês, mas ele já me fez parar para pensar várias vezes no poder e no alcance, que a internet tem. No meu caso, eu o utilizo para dividir o que escrevo com as pessoas que dedicam um pouco do seu tempo para ler meus textos. Acho que não teria outro meio para fazer isso. Há gente que a utiliza para fazer coisas muito maiores e louváveis do que eu. Outras, sequer usam ou sabem do que essa ferramenta é capaz.

A internet pode ser usada para muitas outras iniciativas como essa. Isadora realmente não imaginava que receberia tanto apoio, mas mais de 10 mil pessoas se manifestaram. Penso que isso se deve ao tema escolhido. A educação é um assunto extremamente delicado e que atinge a todos: estudantes, pais, os que ainda não são pais, mas querem sê-lo. Ninguém escapa dessa discussão. E temos que reconhecer que poucos fizeram tanto como Isadora pela educação. Poucos tiveram a coragem que a menina de 13 anos teve ao criar o perfil no Facebook e mantê-lo mesmo sob tanta pressão. Certamente, nas últimas semanas, a menina aprendeu muito sobre o poder de suas palavras e o alcance que elas ganham na rede.

Isadora afirma que suporta tudo isso com o apoio que recebe das pessoas na internet e que pretende continuar com o perfil no Facebook, para tentar melhorar a realidade de sua escola. O que deveria ser um direito assegurado, não o é. Para realizá-lo minimamente, é necessário reivindicar, mobilizar e esperar que a vontade política se coadune com isso. Mais do que apontar os problemas da escola, a menina espera poder contar as soluções que foram adotadas. Tudo que ela quer é uma escola melhor. Ela quer aprender mais em um ambiente adequado e que a entusiasme. Esse também é o desejo de todos os brasileiros.

Fotos: Reprodução.

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