quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Raio, estrela e luar

Jacqueline Costa


Logo depois de acordar de fato, já quando estou embaixo do chuveiro, sempre pergunto ao menino: "posso cantar uma música?" Independente da resposta, eu sempre canto. Algumas vezes, elaboramos desafios para que o outro adivinhe a música por meio de palmas, batuques ou assobios. Uma que sempre está presente em nossas paradas de sucessos matinais é Fogo e Paixão.

Quando isso aconteceu hoje, o Gui me disse: "você tem que postar no Toda conversada o texto, que escreveu quando o Wando morreu". E aqui vai o que escrevi originalmente em 8 de fevereiro deste ano, quando o cantor nos deixou:



Hoje, sem dúvidas, as amantes do estilo inconfundível do colecionador de calcinhas mais famoso do Brasil acordaram mais tristes. Wando não resistiu às tendências a problemas cardíacos, agravada pela vida desregrada que levava. Não me refiro aos inúmeros relacionamentos, que o cara mais amante latino que já vi, nutria, mas aos hábitos alimentares e por nunca ter encontrado tempo em sua atribulada vida para encaixar qualquer atividade física, além do sexo rotineiramente praticado, como ele gostava de salientar.

São tantas as viúvas deixadas... Algumas reais; outras, imaginárias. Não para ele. São incontávais as mulheres na casa dos 50, 60 anos, que se sentem um pouco menos "mulheres" hoje.

Não se pode negar, que a grande sacada do cara foi perceber o que essas mulheres, naquela época da uniformização de todas as coisas, inclusive da música, ocorrida no fim dos anos 70 e nos anos 80, queriam ouvir. Ele dizia para elas o que provavelmente seus maridos, namorados e nem amantes diziam. E foi essa a tônica do sucesso, a receita com as medidas certas para seduzi-las.

Como não ser fã do cara que teve essa idéia brilhante e a coragem de expô-la da forma mais clara possível? Todo mundo sabia exatamente que em suas letras não havia metáforas. Ele ia mesmo direto ao ponto. Adorava bailarinas nuas no palco e beijava calorosamente suas fãs em seus shows. E, naquele contexto, isso se coadunava perfeitamente, sem parecer apelativo ou agressivo. Talvez o fosse para o seio da tradicional família mineira, mas nunca foi esse o público, que ele pretendeu atingir. Pode ser que algumas tenham se libertado dessas amarras, mas não era essa a regra. As mulheres de Wando eram as mais destemidas, as mais, digamos, abertas a novas experiências em geral ou, pelo menos, experiências claramente inovadoras na vida de cada uma.

E qual poderia ser o melhor presente para alguém que as faziam se sentir tão femininas e realizavam, mesmo que apenas subjetivamente, seus desejos mais secretos? Isso mesmo! Uma calcinha! A obviedade desse raciocínio o tornou o Wando das calcinhas. Elas dedicavam a ele esse mimo nos shows, nos hotéis, por onde passou, nos aeroportos ou em qualquer lugar, que o viam. Refiro-me às calcinhas dadas, mas imagino que tenham sido muitas outras roubadas para o seu acervo pessoal. Em volume, certamente esse é o maior patrimônio dele ou pelo menos as recordações, que foram mais presentes em sua vida.

Esses bens não inventariáveis agora serão herdados por alguém, mas isso não importa. Muitos outros herdaram a desenvolta sedução de Wando. É exatamente o que acontece no show de Nando Reis quando ele emenda Fogo e paixão com My pledge of love. A feiura de Rogério Flausino é até amenizada pelo ar garanhão que ele ganha ao cantar essa música. E quem sabe não podemos esperar uma interpretação, com sorte performática, do Rei no seu especial de fim de ano?

Até lá, acompanhamos saudosos as repercussões e acho que, em algum momento, surgirá uma coroa de flores com os artigos, que mais marcam sua presença. Quem sabe uma coroa de calcinhas?

Foto: Reprodução.

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