segunda-feira, 24 de junho de 2013

Revolução?

Jacqueline Costa



Tenho ficado calada. Talvez atônita diante de tudo isso que está acontecendo. Eu nunca acreditei de verdade que fosse ver o Brasil se levantando dessa maneira. Nunca esperei ver que assuntos com os quais as pessoas pareciam ter aprendido a lidar e a conviver fossem causar tanta revolta.

Quando não se espera nada, tudo isso que tem acontecido mais se parece com uma revolução. As pessoas ganharam as ruas contra uma série de questões que realmente incomodam, como os gastos com a Copa, a corrupção, a saúde e a educação. É realmente há muito mais motivos para debatermos do que os meros 20 centavos. É bom notar que olhos se abriram, mas talvez as mentes não tenham se aberto tanto.

Tenho visto nos últimos dias as pessoas se rebelando nas redes sociais contra a PEC 37 e a tal da cura gay. Sei que quase todas que demonstraram indignação não se deram ao trabalho de sequer ler esses documentos. Como é que eu posso ser contra o que não conheço? Para mim, é o mesmo que dizer que não gosto daquela comida que nunca provei. Vale ressaltar que a tal da cura gay sequer existe. Basta ler quais foram os artigos e incisos do suprimidos.

O que o projeto de lei pretende suprimir é o parágrafo único do art. 3º e o art. 4º, ambos da Resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia. Vamos a eles:

Art. 3° - Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4º - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.

Basta ser alfabetizado para perceber que a retirada do parágrafo único do citado art. 3º e do art. 4º não torna o homossexualismo uma doença nem autoriza que os psicólogos promovam a sua cura. Pelo contrário! Se o caput do art. 3º impede qualquer ação tendente à patologização, por um simples exame de lógica, constata-se ser então impedida também a prática de terapias de cura. Para quem quiser ler o Projeto de Decreto Legislativo na íntegra, basta acessar:

Sobre a PEC 37/11, já li bastante a respeito do tema, mas ainda não cheguei à conclusão nenhuma. Desculpem-me os que já se posicionaram, após intensas e acaloradas discussões, mas não vou me precipitar. Sei que atrás dessa PEC há muito mais questões políticas do que se possa imaginar, além, é claro, de o pessoal do MP temer a desvalorização da carreira sem essa atribuição, que tanta visibilidade lhe traz, e de a polícia, por outro lado, buscar maior valorização da sua carreira. Quero pensar e ler mais a respeito para me manifestar a respeito. Não vou entrar nessa onda de que a resposta a respeito do tema é óbvia. Como quase todo mundo, tendo a ser contra, mas, como disse antes, não quero me precipitar. A tramitação e a própria PEC 37 podem ser encontradas no seguinte atalho:

O que quero dizer com isso tudo é que não existe curiosidade pela busca da fonte da informação. As pessoas se convencem facilmente com aquilo que leem em sites de notícias e com o que apenas ouviram dizer. Elas não buscam mais informações e esclarecimentos a respeito dos temas e estão se mobilizando não por pouco, por muito, mas sem entender a fundo os problemas. Pautas rasas, que não especificam as questões e contra o que se posiciona, não levam a nada. A indignação das pessoas deve ser melhor trabalhada, bem como os questionamentos, que elas promovem. Não basta dizer que é contra a corrupção, porque esse tema é tão amplo, que acaba não suscitando a discussão sobre as medidas que podem ser adotadas para combatê-la.

Acho que a inflação e a desaceleração do crescimento mostraram para todos, que já começaram a sentir seus efeitos, que não vivemos no país dos discursos da Dilma. Na verdade, a estabilidade econômica, que vivenciamos nos últimos anos, e o crescimento da classe média, aumento do consumo e entrada de produtos importados, a que não tínhamos tão fácil acesso no país, mascararam, durante algum tempo, tudo que agora vem à tona. A insatisfação, que sempre existiu, explodiu nas ruas nesse misto de "orgulho de ser brasileiro" e "contra tudo que aí está".

Vivemos, na verdade, uma crise de representação. O tal do "você não me representa" é muito maior do que as redes sociais mostram. As pessoas não se identificam com aqueles que foram por elas eleitos. Essa é uma crise do próprio modelo de democracia que adotamos e os protestos dos últimos dias só evidenciam isso, ao contrário do que a presidente disse em seu discurso na sexta-feira, ao afirmar “a força da democracia”. Isso explica para mim a postura dos manifestantes que se colocam contra aqueles munidos de bandeiras de seu partido, seja ele qual for.

Todas as pesquisas apontam para uma insatisfação com o desempenho de nossos representantes. A própria Dilma, na última pesquisa publicada, viu o índice de aprovação de seu governo desabar aproximadamente 10% antes mesmo de as pessoas irem para a rua. O que tem me deixado perplexa diante desses movimentos, que têm eclodido em todo o país, é que eles não possuem lideranças claras. Não se pode afirmar que o Movimento Passe Livre – MPL é responsável por tudo que está acontecendo, até porque na sexta-feira seus representantes disseram que não convocariam outras manifestações por enquanto, visto que o objetivo que era a redução da tarifa tinha sido alcançado, mas os protestos continuaram acontecendo.

Não posso discordar totalmente daqueles que se insurgem contra as manifestações, dizendo que a melhor forma de se fazer uma revolução começa nas urnas. De fato, o que temos visto é que os mais rebeldes agora acabam votando de maneira bem conservadora. Elegem sempre os mesmos representantes e não acompanham o mandato, as discussões, os projetos e nem avaliam se as propostas de governo foram cumpridas ou não antes de votar neles de novo nas próximas eleições. Mudar esse tipo de postura, acompanhar a vida política do país é essencial para quem quer mudar o rumo da nossa história.

O nosso voto é um importantíssimo instrumento de mudança, mas também temos outros e concordo que estamos diante de um momento histórico, quando as pessoas passam a questionar a política, os nossos representantes e os serviços públicos. Gostaria apenas que as pessoas que participam de todo esse processo se informassem mais, lessem mais e discutissem mais antes de levantar qualquer bandeira.

Vai ser impossível não continuar falando sobre isso. Vou precisar de alguns posts para esgotar o tema.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quem sabe no ano que vem não tem amor para todo mundo?

Jacqueline Costa



Quarta, dia dos namorados. Dia de surpreender, de se declarar, de dizer aquelas coisas guardadas pela correria do dia a dia. Quarta foi dia de amar, dia de fazer as pazes para quem brigou, de olhar com outros olhos para aqueles olhos que te olham todos os dias. Quarta foi dia de amar de verdade, de agradecer mais pelo cartão ou pela cartinha do que pelo presente.

Mas quarta também foi dia de entediar os solteiros com tantas declarações no Facebook, que acreditam que o 12 de junho deveria ser classificado como o dia mais meloso do ano. Muitos desses solteiros, após expressarem ódio na quarta, se jogaram nas simpatias para Santo Antônio na quinta. O santo sobrecarregado talvez não consiga realizar todos os pedidos que recebe até o próximo ano, mas o que vale é a esperança de que o seu esteja entre os primeiros da fila. Se não estiver, no ano que vem, a solução é rezar de novo e esperar que chegue a sua vez!

Tem os mais revoltados, que afogam o santo, o cozinham com feijão e até arrancam o menino, que ele carrega. Tem outros que já se tornaram devotos de Santo Expedito, o santo das causas impossíveis, visto que a situação é julgada como sendo mesmo grave. Alguns, vendo a idade chegar, se colocam como prioridade na lista de problemas que o santo tem por resolver, mas sem saber como é que ele classifica tantos pedidos.

É aquela coisa: Todo mundo quer ter um amor para chamar de seu. Por mais que diga o contrário, que se afirmem como eternos e felizes solteiros, todo mundo quer encontrar alguém com quem possa construir um novo mundo, um mundo dos dois. Todo mundo quer sonhar junto, viver junto, acordar junto e ter alguém para dividir a vida. É muito mais do que só companhia. É alegria, é dedicar-se e cultivar o amor todos os dias.

Eu comemoro o meu encontro com o Gui todos os dias, mas realmente o dia dos namorados demanda por toda minha criatividade, aliada a minha breguice intrínseca, em ação. Adoro corações, balões, camisetas com mensagens românticas e muitas, mas muitas fotos.

Quem sabe, no ano que vem, não presto consultoria sobre como surpreender, que presente comprar e disserto sobre a importância do cartão e das cartinhas de amor para os solteiros de hoje? O amor não tem hora para chegar. Basta aguardar com paciência e um pouco de fé  nessa espera também vale a pena.

Foto: Reprodução.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sucesso

Jacqueline Costa



Há alguns dias, venho pensando no que é sucesso para mim. É impossível falar disso sem pensar no meu primo-amigo João, que sempre me mata de rir quando esse é o tema. Ele tem uma definição peculiar, que associada a algumas metáforas incompreensíveis para quem não nos conhece, resulta em sucesso sou eu.

Não sou bem sucedida profissionalmente. Não estudei ainda tudo que gostaria. Acabei deixando várias coisas em stand by ao longo da vida e sempre que me lembro delas, penso em quando poderei retomá-las. Tenho medos, problemas e fico triste muitas vezes. Definitivamente, sob essa ótica, não sou bem sucedida.

Mas apesar de todas essas coisas, sou imensamente grata pela vida que tenho, por minha casa, meu trabalho e por ter conhecido ao longo da vida muito mais gente que me trouxe coisas boas do que gente que não valia a pena. Aprendi muito com tudo que vi, com as oportunidades que tive e com as guerras que perdi. Acho que ser feliz sempre, desde a hora em que acordo, é a tônica da minha vida. Isso é sucesso para mim: Ter uma vida deliciosa, um amor lindo, os melhores amigos do mundo, uma família incrivelmente unida e rir muito.

Tem gente que não consegue pensar em sucesso desvinculado de dinheiro. Uma coisa pode realmente ser decorrência lógica da outra quando pensamos apenas no sucesso profissional.  Para aqueles que almejam apenas um golpe certeiro na vida, sucesso também será sinônimo de dinheiro. Mas vamos ficar apenas com a questão do trabalho, porque essa outra dá muito pano para manga...

Acontece que quando imaginamos a vida, normalmente ligamos as coisas boas ao tempo livre, ou seja, a vida parece acontecer apenas quando não estamos trabalhando. De certa forma, devo concordar que há muito mais vida nas férias do que no resto do ano. Mas o que, de fato, quero dizer aqui é que sucesso não se limita ao trabalho e vai muito além. Sucesso é ser feliz. É sentir-se completo. É acordar com alegria e dormir sempre tranquilo por mais um dia em que foi feito tudo que se podia fazer. Sob essa ótica, o João está certo, sou mesmo sinônimo de sucesso.

Foto: Reprodução.


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Positividade

Jacqueline Costa



Ando tendo pesadelos. Talvez eles expressem os meus medos. Tenho sim! Tenho medo de um monte de coisas. Agora, no caso, meu maior medo é passar os próximos anos adiando outros planos para estudar para um novo concurso e não dar certo. Mas, quer saber? O risco é intrínseco a todo e qualquer investimento, seja de tempo ou de dinheiro.

Sendo assim, só quero positividades! Nem sei se essa palavra de fato existe. Não olhei no dicionário. Apenas fiz uma breve análise da etimologia que eu acho que ela tem. Quero tudo que seja bom. Quero tudo que seja alegre. Quero entrar em um ciclo virtuoso sem fim, em uma espiral de energia boa, bons fluidos, de leveza, de bem-estar.

Quero estudar mais, aprender mais, fazer mais exercícios físicos. Quero aproveitar ainda mais a minha casa e o meu marido e transformar tardes de folga em doces momentos de nós dois. Quero aprender a cozinhar mais pratos, fazer maquiagens lindas e cabelos sensacionais. Quem sabe voltar a estudar Francês?

Quero positividades! Quero energia e fazer diferente muitas coisas que sempre acabam saindo do mesmo jeito. Quero conviver, cada vez mais, só com coisas boas. Quero deixar os problemas e as pessoas-problema para lá e ser cada vez mais feliz! Como diz a Bella, quero cada vez mais sinceridade e objetividade. Não quero fazer média. Isso para mim é o mesmo que mentir. Quero leveza e alegria em cada pequena coisa do meu dia.

Foto: Reprodução.

sábado, 1 de junho de 2013

Quando começa e quando acaba

Jacqueline Costa



No início dessa semana, recebi a visita da Alyne e da Pat, irmã dela. Por mais que elas venham sempre para cá cheias de compromissos, o tempinho que resta para ficarmos juntas é pouco, mas dá para botarmos a conversa em dia e rirmos um pouco.

Falávamos de relacionamentos em geral e de como as pessoas perderam de vista que a vida a dois não significa anular individualmente nenhum deles. Duas pessoas se unem, em prol de um objetivo comum. Normalmente, esse objetivo comum é ser feliz, mas ele acaba se esvaindo e sem que os dois percebam, o relacionamento se torna a busca de comprometimento, de cumplicidade, de amor e de respeito. Ele se torna a busca por coisas que deveriam, na verdade, ser sua base.

É cada vez mais comum ouvir casais dizendo que precisam fazer dar certo. Para isso, muitas vezes, um abre mão da própria dignidade e se submete a verdadeiras humilhações; situações absurdas, fruto de machismo exacerbado, de ciúmes sem fim e de discordância a respeito de tudo. Até o cor do mato passa a ser motivo para as mais vergonhosas brigas.

Ontem, depois de um passeio pelo parque, eu e o Gui paramos para comprar uma água de coco ao lado do estacionamento e tinha lá um casal aos berros, discutindo a relação e expondo todas as vergonhas para quem quisesse ouvir. Fiquei me perguntando que amor é esse? Por que as pessoas que se amam às vezes se tratam como se fossem inimigos?

O pior disso tudo é que é cada vez mais comum ouvir o discurso de que se o namoro está ruim, quem sabe se ficarem noivos resolve? Esse é só o início de uma cadeia de erros sem fim, porque essa decisão em nada muda a qualidade da relação. Pelo contrário! Isso implica em uma série de decisões e responsabilidades que só trará mais discórdia se o casal não estiver em sintonia.

Ficarem noivos não resolve, mas eles acabam resolvendo se casar. Outro erro e o relacionamento continua com os mesmos problemas, que tendem inclusive a só aumentar. Depois que se casam, resolvem ter um filho para, quem sabe, melhorar tudo. Depois do filho, os laços entre eles ficam cada vez mais fortes e indissolúveis, mas isso não garante a felicidade dos dois enquanto casal.

Depois de tudo isso, separar-se é muito mais traumático do que seria lá atrás, quando os dois constaram que o respeito tinha acabado e que faltava uma boa dose de cumplicidade e afeto para fazer dar certo. Esse tipo de história é sempre triste e me faz lembrar o que normalmente ouço do povo de Florestal: "O que é mal começado, é mal acabado".

Depois da conversa com a Alyne e com a Pat, fiquei me lembrando de quantos amigos eu vejo passando por isso. Quantas pessoas levam esse tipo de relação aos trancos e barrancos, mas preferem acreditar que o "antes só do que mal acompanhado" deve ser levado ao extremo. Quantas pessoas passam por situações ridículas, por brigas homéricas e por cenas que ultrapassam qualquer limite quanto ao desrespeito? O pior é ver quem a gente nunca imaginou passar por isso, vivendo uma submissão enorme em nome de um amor, que não reflete o verdadeiro significado da palavra. Quantas vezes já ouvi o relato da preguiça de voltar a procurar alguém e começar tudo de novo, por isso é melhor ficar com quem já se conhece bem, inclusive os defeitos. Mas será?

Bom, cada pessoa faz a escolha que acredita ser melhor para si. Mas para mim acreditar no amor não é engolir cada dia um novo sapo. Não é tolerar desrespeito e nem ficar pensando em como transformar o que é, de fato, imutável. Acreditar no amor é não desistir de encontrar alguém que te complete de verdade, que te respeite e te ame pelo que você é, que confie em você, torça por você e te admire. Acreditar no amor é buscar alguém para ser seu melhor amigo, seu cúmplice, alguém com quem queira dividir a vida.

Que as pessoas acreditem mais no amor...

Foto: Reprodução.