quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Eu sou ou só pareço ser?

Jacqueline Costa



Cheguei ao trabalho, cumprimentei os poucos colegas, que aqui já estavam, liguei o computador e assim que terminei de ler todos os feeds, que assino, fui passear pelo Facebook. Bom, eu começo todos os meus dias assim e gosto bastante desse ritual. O passeio pela rede social, de que quase ninguém escapa, me diz quem faz aniversário hoje e me mostra um pouquinho de todo mundo, especialmente dos que deixei para trás em BH e gostaria de tê-los trago para São Paulo comigo.

Vi um pouco de tudo. De propagandas dos negócios, que meus amigos abriram, a frases de auto-ajuda (Clarisse Lispector está em alta e até o Kibeloco já constatou essa tendência), passando por orações, tem um pouco de tudo lá. Vi também muitos comentários bastante interessantes sobre o julgamento do mensalão, pelo menos 20 posts com conteúdo “bica bicudo – Galo Doido” (também tem dominado a timeline de vários amigos, que já estão confiantes no título do Brasileirão) e fotos, muitas fotos.

Todo o conjunto da obra me intriga bastante. Percebo uma tendência já quase natural de as pessoas quererem parecer bem mais ricas, magras, lindas e influentes do que realmente são.

As pessoas são performáticas, divertidas, cheias de pose e estilo. Bem, elas parecem ser tudo isso nas redes sociais. Se são ou não é outra história. É bem engraçado ver o tímido fazer o desinibido, aquela que vem da periferia fazer a rica e os não muito inteligentes lançando citações desconcertantes.

Todo mundo quer mostrar a viagem, que fez para o exterior, nas últimas férias, mesmo que tenha ido de CVC e pago em dez parcelas. Ah, quem vai se lembrar disso, quando postar aquela foto incrível com as folhas amareladas de um outono em Nova York. Nesse caso, elas costumam fazer um check-in a cada esquina, como se quisesse lembrar a todos seus amigos que, enquanto eles estão trabalhando e fazendo contas para quitar a fatura do cartão de crédito, elas estão lá curtindo cada segundo da vida, como se fosse o último.

As pessoas querem que as outras saibam que elas estiveram naquele restaurante caro e da moda. Afinal de contas, ninguém vai notar que isso acontece apenas em tempos de Restaurant Week e não num domingo comum, em que ninguém da casa tem disposição para cozinhar.

As festas também são rotineiramente registradas, porque a sua participação nesses eventos pode sempre render várias repercussões. Baladas, shows e teatro também estão incluídos no mural da vida muito feliz e agitada, que as pessoas parecem ter.

Os amores do Face são todos doces, românticos, lindos. Levitam como se fossem sempre vividos ao som de bossa nova, como se a vida não lhes trouxesse nunca nenhum tipo de incômodo. Os amores do Face são como os que são vividos no Leblon nas novelas de Manoel Carlos. Mas nós bem sabemos que o que bem há são relacionamentos conflituosos, em que a harmonia só é encontrada mesmo nas timelines da rede.

As pessoas querem exibir encontros com famosos, que sequer são seus ídolos, para denotar certa influência e um acesso ao mundo das celebridades, como se isso trouxesse para ela alguns minutos da fama do outro. O que importa se é o franzino e espinhento do Michel Teló? As pessoas apenas pensam: “Não gosto de suas músicas, mas uma foto com ele ‘bombaria’ meu Face!” Aliás, estatisticamente falando, os famosos mais frequentes nessas fotos são ex-BBBs, mas nesse grupo, definitivamente, não estão incluídas Gazi Massafera nem Sabrina Sato. Por que será? Logo que saem do programa, eles são o pico da “famosidade”, mas poucos meses depois, ninguém se lembra mais deles, com raríssimas exceções.

Por falar em famosos, eles quase nunca aparecem sem maquiagem e quando o fazem, se tornam imediatamente uma das notícias mais lidas e comentadas do dia. Afinal de contas, temos a oportunidade de vê-los como eles realmente são.

É bem interessante isso, no caso das celebridades, estamos sempre interessados na descoberta do que eles são de fato. Nós vemos todos os dias, nos tapetes vermelhos mundo afora, como eles parecem ser. Mas o que realmente desperta a nossa curiosidade é saber como eles acordam, de cara lavada, com aquela roupinha velha, que todo mundo gosta de usar em casa.

Já na vida real, quando nos deparamos com as pessoas reais, queremos ver o que elas parecem ser. É isso que todo mundo faz questão de mostrar. Afinal de contas, quem não quer parecer um pouquinho artista, né? Isso só se torna um problema, quando as pessoas encaram aqueles personagens que elas representam nas redes sociais e passam a viver como se tudo aquilo que elas mostram fosse verdade. É muito triste quando percebemos que não e que aquele mundinho cor-de-rosa, na verdade, não existe, pelo menos para aquele personagem, que mascara a pessoa, que realmente existe por trás dele. Eu mesmo conheço muita gente que é muito mais legal na vida real do que o que elas querem parecer no Facebook.

Essa é a grande contradição dessa história toda. Morremos de curiosidade em relação à simplicidade dos famosos e a “famosidade” das pessoas comuns.

Todo mundo tem um pouco disso tudo. O interesse pela vida alheia e por fazer a própria vida parecer uma novela está presente em quase todo mundo. Não há nada de errado nisso, desde que isso não seja levado a extremos.

Eu mesma já estou contando os dias para fazer a fã “chorosa”, trajada como “piriguete” do samba, com as letras das músicas na ponta da língua e câmera em punhos para registrar cada minuto do show do Diogo, o Gato Nogueira. Quem sabe não garanto uma foto com ele para “bombar” meu Face?

Foto: Reprodução.

5 comentários:

  1. Oi Jacque!!

    Mais um texto digno de estar nas colunas dos jornais mais importantes! Parabéns!!!!

    Achei muito interessante a leitura que você fez do comportamento das pessoas nas redes sociais, principalmente o fato de usarmos o Face como um lugar onde podemos transformar a vida que temos na vida que queríamos ter.

    Ontem mesmo eu postei uma foto minha fazendo uma trilha de bicicleta, toda suja de terra!! Acho que muitos dos meus amigos ao verem a foto me imaginaram como uma atleta (já que vários curtiram a foto), alguém que acorda sempre cedo e sai para praticar esportes... alguém radical que se joga na terra, sobe e desce morro!!!

    Não fosse o comentário da minha mãe lembrando que eu literalmente me joguei na terra naquele dia, até eu teria acreditado que sou uma grande ciclista!

    A verdade dos fatos é que essa foto foi tirada na ultima trilha que eu fiz e que eu nem me lembro quando foi! Alias, já que estou confessando a verdade, nesse mesmo dia eu abandonei a trilha porque a falta de folego não me permitiu continuar...

    Mas isso, só quem ler este post vai saber, pois no Face eu continuo sendo a atleta que acorda cedo para pedalar!

    Realmente as coisas no Face não são como parecem ser e vou me lembrar do seu texto sempre que, ao visitar os perfis de meu amigos, eu pensar porque só a minha vida não é perfeita!!!

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    1. Carol,
      Sensacional! É exatamente isso! A gente mesmo acaba mostrando alguém diferente do que somos nas redes sociais. Eu estive avaliando o meu Face e depois que criei o Toda Conversada, ele acabou se tornando um mero instrumento de divulgação dos meus textos. Já não fico mais pensando em coisas para postar, mensagens para compartilhar e acho que, para muitos, já sou a chata do blog, que não faz nada da vida além de escrever.

      Só que por trás disso tudo, eu estudo, trabalho, leio notícias, sou dona-de-casa, cuido do Gui, durmo, acordo, tomo cerveja, mas nada disso é conteúdo para o Face, porque ninguém vê glamour no dia a dia. Só o que parece over tem lugar lá.

      Como disse, nesse mundo cor-de-rosa, que a gente cria, não existe tristeza e nem problemas. Como bem salientou o Gui, ao compartilhar o meu texto, se tudo fosse como no Face, todos os psicólogos estariam desempregados...

      Bjos!

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  2. Jacke estou fa nûmero 1dos seus textos, nao consigo ficar nenhum um dia sem passar por aqui.Bjs!

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    1. Ah, Cecília! Fico super lisonjeada por você dedicar todos os dias um tempinho para ler o que eu escrevo. Isso me incentiva muito! Obrigada mesmo! Bjos!

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  3. Jacque,
    Mas sempre foi assim, não? Afinal de contas, as fotos da estante de casa não são de momentos rotineiros e simples da vida diária, mas de viagens e grandes celebrações. O FB é só uma forma de nos mostrarmos ao mundo e -geralmente- queremos mostrar a nossa melhor parte. Ou, inclusive, inventar um lado ainda melhor e esperar que as pessoas acreditem que são reais. Quando vamos a uma festa, a um passeio, ao trabalho, não vamos de chinelo e aquela camisa furada tão confortável para estar em casa comendo pipoca e vendo comédia-romântica. Quando vamos ao bar, não comentamos das tarefas de casa - falamos das coisas que nós achamos mais interessantes e legais. O FB é só mais uma forma de tentar aparecer na multidão...
    :)
    Beijo grande e parabéns pela página no FB, Raul.

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