sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O Natal vem vindo...

Jacqueline Costa



Dei um tempinho das histórias da Índia para falar desse tempo mágico, cheio de luzes piscando, velhinhos barbudos, causando comoção por onde passam, e olhos brilhantes de crianças e adultos. É Natal!

Queria que esse tempo tivesse o mesmo efeito para todo mundo, quanto tem para mim. O Natal sempre provoca em mim uma profunda reflexão sobre como foi o meu ano, o que preciso mudar e o quanto gostaria de ter feito algumas coisas diferentes. É tempo de limpar o guarda-roupas e tirar tudo aquilo, que não uso mais, porque certamente existe alguém, que veste o mesmo número que eu e está precisando. As confraternizações, o encontro com os amigos e com a família sempre me fazem perceber o quanto eu amo as pessoas, que me cercam, e quanto eu gostaria de passar mais tempo com elas.

É hora de eleger minhas prioridades para o próximo ano. Elenco o que deve ser feito, o que precisa ser feito e o que pode ser feito. Penso sempre que tenho mais do que preciso e quero ser mais do que sou. Nessa época, sempre concluo, que li menos do que gostaria, que estudei menos do que deveria e que meus sonhos foram maiores do que eu. Constato que há em mim muito mais força, muito mais fé e que posso muito mais do que eu penso.

Gostaria que o Natal fosse, para todo mundo, uma época de balanço, de amor e de muita alegria. Queria fazer com que as pessoas sentissem o que eu sinto. No entanto, para muitos, só isso não é suficiente.

Presentear é sim muito gostoso. Adoro comprar aquilo que me fez lembrar alguém, que amo, e surpreender, por não se tratar do aniversário, de um dia especial nem nada disso. Para mim essa demonstração de carinho é o que realmente significa presentear. É lembrar de alguém e pensar no quanto o que comprei combina com a pessoa, o quanto poderá agradá-la ou só mesmo fazer rir.

Esse é o ponto. Eu detesto a lotação das lojas no mês de dezembro. Aliás, evito shoppings nessa época. Ver as pessoas lotadas de sacolas e em busca de muitas mais só porque é Natal me deprime. Ver as pessoas desesperadas, pensando no que comprar para as outras, só porque é Nata, me chateia. Ver todo mundo correndo atrás de coisas, que nem sabe o que são e para que servem, só para fazerem bonito no presente de fim de ano, me deixa bastante triste.

Queria que as pessoas abrissem mão das fitas, laços e caixas e se dedicassem aos mais profundos abraços, que permitissem um encontro de almas com aqueles, que amam. As pessoas deveriam experimentar mais perdoar sinceramente e rezar por aqueles, que ainda não conseguiram compreender o significado do encontro, do carinho e do perdão. Se as pessoas praticassem de coração todo o amor, que parecem ter nessa data, o mundo seria mesmo um lugar de muita paz.

Quero um mundo mais sincero. Quero que todo mundo entenda o valor de coisas simples, como uma ligação para simplesmente dizer que está com saudades e para me desejar um Natal e um Ano Novo felizes. Quero ver mais amor. Quero viver mais amor. E quero que todo mundo descubra o quanto é bom amar de todo jeito, de qualquer jeito.

Tirinha: Maurício de Sousa.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A escolha do traje indiano para o casamento

Jacqueline Costa



Além de passear, nos deliciar com a comida indiana e curtir as nossas férias, tínhamos a missão de comprar trajes típicos para o casamento, que fundamentou a nossa ida para a Índia. A princípio isso pode parecer uma missão muito fácil, mas, definitivamente, não foi.

Assim como para calças jeans, há uma infinidade de marcas de roupas indianas, tipos, modelos específicos e adequados para casamento. Tínhamos que saber ainda o que está na moda lá ou não. Pior, teríamos que procurar alguma coisa que nem sabíamos exatamente o que era.

A primeira coisa que descobrimos é que não existem apenas sáris para as mulheres. Outros modelos também podem ser usados nos casamentos, como anaarkali, que é um vestido rodado com saia, e salwar suit, que é um vestido bem menos rodado e com cortes laterais sobre uma calça.

Eu precisava arrastar meu sári na medina. Por isso, seguimos direto para a loja, que nos foi indicada pela noiva para a compra do sári. Havia cada tecido maravilhoso e tudo era bastante caro, mas eu estava bastante disposta a pagar o preço. Escolhi um em tons de verde e azul, minhas cores preferidas, mas não contava com um empecilho: Embaixo do sári é preciso usar petitcoat, que é uma espécie de anágua, e blouse, que é um top cropped lindo! Já estava pensando que isso com uma saia alta ia arrasar posteriormente... O problema é que essas duas peças são feitas sob medida e demoram, pelo menos, três dias para ficar prontas. Nós não tínhamos todo esse tempo antes de partir para Udaipur, onde aconteceria o casamento.

Ainda que superasse esse obstáculo, ainda tinha que aprender como vestir o sári. Aquela ideia que passa na cabeça de todo mundo, que se trata de uma toalha enrolada Fui obrigada, bem a contragosto, a desistir da ideia.

Na busca pelos outros possíveis modelos, encontramos uma loja, por que eu fiquei simplesmente encantada: a Fabindia. Lá tem todos os tipos de roupas indianas femininas e masculinas, acessórios, itens para a casa, óleos, sabonetes e cremes hidratantes. Ou seja, lá tinha tudo que eu gosto. Se um dia eu voltar na Índia, terei que voltar naquela loja e vou indicá-la para todo mundo que for dar uma voltinha lá na terra das especiarias.

Eu e o Gui nos divertimos horrores, provando as roupas e vendo o que ficaria melhor em nós. Eu já olhei para a calça pensando que era melhor eu arrumar algo que combinasse com preto para eu usar a minha legging por baixo, porque aquilo não passaria na minha canela extremamente roliça de jeito nenhum! Aprendi que havia um truque para vesti-la e passou! O Gui tinha encontrado uma roupa linda, mas não tinha a que fosse do tamanho dele. Ou era grande demais ou a camisa ficava justinha, o que não coadunava com o propósito do traje. Tivemos que escolher outro modelo. Enfim, encontramos um, que tinha toda a combinação exata! Não podia perder a oportunidade e escolhi logo uma clutch para combinar com a minha roupa e que agora vou usar bastante aqui no Brasil.

Tudo separado e conferido, o Gui saiu de lá com os trajes do Alladim em mãos, mas tivemos que passar em outra loja para comprar os sapatos, que é a parte mais importante da roupa. Eu sai completa, porque já tinha as sandálias para combinar. Optei pelo salwar suit, já que não era possível encontrar o sári e o anaarkali é um traje, digamos, bastante "engordativo"... Mas escolhi um modelo lindo, com as minhas cores prediletas e que poderei modificar depois. Já sai da loja cheia de ideias para isso!

Pronto! Já estávamos aptos a participar de um casamento indiano. Agora só faltavam os dias de festa em Udaipur, que depois contarei como foi.

Fotos: Jacqueline Costa

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Agra day trip: Chegamos ao Taj Mahal

Jacqueline Costa



Depois de muito susto na noite anterior, saímos de mala e cuia do hotel em Karol Bagh. Íamos para Agra e, na volta, direto para o novo hotel, que conseguimos reservar, conforme indicado pelo amigo do Gui.

A Daria estudou com o Gui e, junto com o marido, ela nos convidou para ir com eles para Agra, cidade em que fica o Taj Mahal. Um amigo indiano tinha indicado para eles um motorista, que nos levaria e passaria o dia todo conosco.

Eu entrei no carro e apaguei! Não tinha dormido direito na noite de puro terror, que tínhamos vivido em Karol Bagh. Era um daqueles carros grandes, de sete lugares, e eu fiquei com o último banco só para mim. A partir daqui, contarei a ida com as palavras do Gui, já que dela não tive a oportunidade de participar intensamente.

Saímos do nosso hotel antes das 7h30' e esperávamos chegar em Agra de duas horas e meia a três horas depois. Infelizmente não tivemos essa sorte...

Existem duas estradas que vão para Agra: uma antiga, que passa por dentro de várias cidadezinhas, com o trânsito indiano de praxe, e uma highway excelente, vazia e bem sinalizada, mas com pedágio.

O senhor motorista, para economizar no pedágio, nos submeteu a uma viagem de mais de cinco horas na estrada velha. A Daria, quando percebeu o que ele estava fazendo, ficou uma onça! Ela gritava, esbravejava, xingava o motorista e o mandava pegar a highway, mas ele foi reticente por bastante tempo.

Em uma das paradas, por causa do trânsito nessas cidadezinhas, cortadas pela estrada antiga, na qual viajávamos, uma moto bateu na lateral do nosso carro, bem pertinho de mim, mas meu sono me impediu de ver o que tinha acontecido... Isso também ocorreu quando o motorista tentou ligar o som do carro, para aliviar a tensão dos passageiros. O botão de ajuste do volume estava quebrado e, sem querer, ele colocou no volume máximo. Isso também não me acordou, deixando a Daria perplexa com meu sono.

A tensão era tanta, que o marido dela não aguentou e começou a vomitar sem parar. Ele era um tipo magro, baixo, de aparência bem frágil e que sucumbia, sem titubear, àquela russa e tanto, que é a Daria. O coitado parecia que ia morrer! Ele ficou tão fraco, que achei que não fosse nem aguentar descer do carro.

Diante de tudo isso, só o Taj Mahal para nos fazer rir de novo (apesar de que eu estava rindo por dentro com aquela viagem quase inacreditável). Por isso, quando chegamos a Agra, ao invés de pararmos antes nos outros pontos turísticos da cidade, fomos direto para o Taj Mahal.

Quando entramos e vimos aquilo, concluímos que tudo tinha valido a pena. É mesmo encantador. É a coisa mais bonita, que eu já vi na vida. Realmente aquilo merece o título de uma maravilha do mundo. Todos nós ficamos arrepiados, entusiasmados e acabamos, mesmo que apenas por alguns instantes, nos esquecendo da ida traumática para Agra.

São minuciosos detalhes esculpidos em mármore. Na verdade, para mim, aquilo é pura poesia em mármore. É uma história de amor, contada para toda a eternidade pelo Sr. Mahal, que resolveu assim se declarar para a Sra. Mahal, sua esposa favorita, que morreu ao dar à luz ao seu décimo quarto filho. O Taj foi construído sobre o túmulo da senhora. Claro que a parte da esposa favorita, a gente adapta para a nossa realidade e continua vivendo um sonho romântico com tudo aquilo a nossa frente.

Só foi uma pena descobrir que o Sr. Mahal, que teve a ideia brilhante, não pararia por aí, se ele não tivesse sido deposto por um de seus filhos. Ele pretendia construir para ele, para o seu túmulo, um Taj igualzinho, porém preto, do outro lado do rio, que passa atrás do Taj original. É, essa maravilha do mundo poderia ser até mais completa. Acho que fomos nós que saímos perdendo com esse golpe de estado aí...

Voltamos para o carro, rumo às outras atrações de Agra. Só não contávamos com o fato de que o carro não ligaria. Indianos de toda parte se uniram para empurrar. Tentaram fazer pegar no tranco, ligação direta, mas nada deu certo. O jeito foi acionar o mecânico mais próximo. Mais de duas horas depois e com a conta do mecânico paga por nós, o jeito foi voltar para Delhi.



Eu nem fiquei tão chateada assim. Afinal de contas, voltar para o Brasil sem conhecer o Taj Mahal é que seria realmente muito frustrante... Pronto! Missão cumprida! O Menino já tinha a sonhada foto naquela maravilha do mundo com a camisa do Cruzeiro, como ele tinha sonhado.

De volta a Delhi, combinamos que ficaríamos no hotel em que a Daria estava com o marido e, de lá, pegaríamos um táxi para o nosso novo hotel. Obviamente quando fomos pagar a viagem, solicitamos um abatimento no preço por causa das horas que perdemos na estrada velha, do carro quebrado e da conta do carro, que pagamos. O motorista não quis aceitar. Ligamos para o chefe dele e para o indiano, que nos tinha indicado esse senhor, mas nada foi resolvido.

Muito cansados e com  a maior fome do mundo, já que o que comemos o dia todo foram os itens do regime (barrinha de cereal e biscoito integral), deixamos com a Daria o valor que achávamos justo e pegamos o táxi para o nosso hotel. Na saída, o Gui ainda conseguiu ver o motorista de tocaia com um outro homem, que deve ser o chefe dele.

No dia seguinte, soubemos pela Daria que ele não quis receber o pagamento e foi cobrar do nosso amigo indiano, com quem nos encontramos novamente em Udaipur e pudemos fazer o acerto direitinho. No fim das contas, essa viagem ainda saiu bem baratinha e apesar da confusão, o que ficou para a gente foi a vista do Taj Mahal, do que a gente nunca mais vai se esquecer.

Fotos: Jacqueline Costa

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Nunca confie em blogs de viagem sobre a Índia ou seja (in)feliz em Karol Bagh

Jacqueline Costa




Vista da Jama Masjid Mosque. Mas as rua de Karol Bagh não eram lá muito diferentes.

Depois de um almoço delícia com alguns amigos indianos do Gui, embarcamos de Mumbai para Delhi. Vôo atrasado e algumas horas no aeroporto não foram capazes de tirar a nossa alegria. É uma delícia passar o tempo com o Gui, seja viajando, passeando ou em casa, sem nada para fazer, porque a gente se diverte muito, quando estamos juntos.

Ainda no aeroporto comprei um presente de Natal para ele. Ele achou um outro mais legal do que o que eu comprei. Troquei pelo outro, que ele julgava melhor, e o menino parecia uma criança de tanta alegria com seu novo brinquedo tecnológico!

Chegamos em Delhi e pegamos um táxi. Já tínhamos ali nos acostumado com a logística indiana: Vários carregadores ao lado das esteiras, querendo carregar nossas malas por algumas rúpias, vendedores, que vendem de tudo e taxistas, que não falam inglês.

Aliás, essa foi uma das maiores quebras de paradigma da minha vida. A gente estuda na escola que o inglês é um dos idiomas oficiais da Índia e tem em mente que todo mundo lá fala algum outro idioma oficial, além do inglês, é claro. Definitivamente, isso não é verdade. Só os ricos, que tiveram a oportunidade de estudar em boas escolas, e as pessoas ligadas ao turismo, que trabalham em hotéis, lojas e nos pontos históricos das grandes cidades, falam inglês. Na verdade, todo mundo se comunica pelo hindi e suas variações.

Em Delhi, pegamos o táxi, já mais acostumados aquele trânsito maluco, rumo ao hotel em Karol Bagh. O Gui escolheu esse hotel com base no que os blogs de viagens para a Índia aconselhavam. Eles diziam que se você não for mochileiro, o que definitivamente não é o nosso caso, deve ficar em Karol Bagh. E lá fomos nós!

Notamos que o táxi estava rodando demais, fazendo curvas demais e entrando em ruas estranhas e vielas bem estreitas. De repente, as ruas já não tinham mais asfalto, apenas terra batida (isso não é incomum nas grandes cidades indianas). Havia montes de lixo por toda a parte e moradores de rua, dormindo em torno de fogueiras. Os que estavam acordados, reviravam o lixo. Era tudo bem parecido com o lixão do Nilo e da Mãe Lucinda.

O táxi parou e esperávamos que tivéssemos encontrado uma ilha limpinha e acolhedora em meio a toda aquela confusão. Quando chegamos no quarto e abrimos a porta do banheiro, compartilhamos uma enorme vontade de chorar. Somos adeptos do simples, sem chilique, mas limpinho. É só do que precisamos. Mas aquele banheiro não tinha a menor condição. Baldes sujos no banheiro, uma banheira inacabada, faltava reboco em boa parte das paredes e as toalhas pareciam lonas de caminhão. Era realmente inabitável. Estávamos no "No limite" no meio do lixão de "Avenida Brasil"!

A primeira reação do Gui foi ligar para um amigo dele de Delhi, que nos convidou para um jantar com outros amigos em comum. Aceitamos! Afinal de contas, precisávamos de dicas sobre um lugar minimamente habitável naquela cidade e com um quarto disponível para nós.

Pedimos um táxi na recepção do hotel. Eles nos disseram que custaria 1500 rúpias. Sabíamos que era um verdadeiro roubo, mas não tínhamos saída. Precisávamos chegar naquele jantar! Víamos nisso a nossa salvação. Sério! A gente precisava sair dali o quanto antes possível.

Mas antes, ainda tínhamos um embate com o pessoal da recepção, que não queria nos devolver os nossos passaportes para sairmos. Como diria o povo de Florestal, "vê lá" se eu ia sair dali sem meu passaporte, com a minha cara de estrangeira, naquela terra estranha, em que nem todo mundo fala uma língua, que eu entenda... Depois de ter que ser um pouquinho, digamos, enérgica, estávamos com nossos passaportes em mãos e prontos para o jantar com os amigos do Gui.

O taxista nos pegou no hotel e o sujeito não falava nem uma palavra em inglês. À medida que ele passava pelas ruas próximas, mais assustados nós dois ficávamos. Para piorar, não mais que de repente, ele parou, sem qualquer explicação, em uma rua totalmente escura com uns cômodos feitos com aquelas madeiras de tapume. Ali além de um bar com uma chapa para o churrasquinho local, que fazia uma fumaça sem fim, parecia funcionar alguma coisa como uma banca de jogo do bicho. Homens estranhíssimos estavam lá e o nosso taxista foi conversar com alguns deles.

A minha vontade era sair correndo dali, mas essa era, sem dúvida, a pior decisão. Eu via o pânico nos olhos do Gui e tudo o que eu tinha a fazer era tentar manter a calma, controlar meu coração, que queria sair pela boca, e as minhas mãos trêmulas, apesar de aquela ser a cena mais assustadora de toda a minha vida. Naqueles minutos, em que estivemos parados ali, um monte de coisas, todas ruins obviamente, passaram em nossas cabeças. Tráfico de pessoas? Não. Acho que já passamos da idade para isso. Arrancariam nossos rins? Talvez. Afinal de contas, somos jovens, estrangeiros, parecemos saudáveis e não falamos uma palavra em hindi. Podíamos ser facilmente sequestrados. Talvez quisessem só dinheiro. Em todo caso, éramos os reféns perfeitos!

O cara voltou para o carro e eu e o Gui ainda completamente assustados começamos ali mesmo a revelar nossos pensamentos e planos de fuga não efetivados. Segurávamos firme a mão gelada um do outro e resolvemos seguir. O motorista realmente nos levou para o restaurante, em que os amigos do Gui nos aguardavam.

Quando chegamos lá, ainda aterrorizados, recebemos imediatamente uma indicação, que nos parecia excelente. Seguimos a indicação e reservamos o hotel, que ficava pertinho da casa de um dos amigos dele. Era um hotel boutique lindo, chamado Visaya, com um restaurante delicioso e com um pouquinho de conforto imprescindível depois de tanto perrengue.

De todo jeito, antes de irmos para o outro hotel, tivemos que passar uma noite em Karol Bagh, no hotel imundo, no meio do lixão da Carminha. Não me lembro de sentir tanto medo nem quando eu era criança e me deparava com as coisas que eu não entendia. Mas naquela noite, percebi que no meio de todo aquele cenário desesperador, eu não tinha entrado em pânico, porque tinha o Gui ao meu lado. Antes de dormir, naquele dia, ele me deu o abraço mais forte de todos os tempos e me pediu para rezar e agradecer por tudo ter dado certo no fim das contas. Ele me fez sentir segura em seu abraço até que eu dormisse. Não foi nada fácil dormir depois de tudo aquilo, mas a saída daquele lugar estranho e a ida para Agra no dia seguinte nos inspirou.

Mais uma liçãozinha inusitada sobre a Índia: Conforme confirmado pelo amigo indiano do Gui, que nos indicou um novo hotel muito charmoso e bem confortável em Delhi, nunca confie nesses blogs de viagens sobre a Índia! Normalmente os que os alimentam e postam as informações, em que acabamos confiando, quando fomos parar em Karol Bagh, são mochileiros ou hippies, com padrão de exigência e de conforto bastante inferior ao nosso, já que estão em busca de meditação, ioga, do Tibet e do Nepal...

Foto: Jacqueline Costa

O trânsito na Índia

Jacqueline Costa







Hoje, aqui em São Paulo, a notícia dada com mais ênfase no noticiário na TV foi a respeito do trânsito. A capital paulista já registra quilômetros e mais quilômetros de congestionamentos, devido à chuva e a essa época do ano. As festas se aproximam e tentar completar a lista de presentes de Natal pode ser um grande desafio essa semana.

Congestionamento, impaciência, horas desperdiçadas no trânsito paulistano. Nada disso se compara às cidades indianas.

Lá carros, ônibus, motos, bicicletas, charretes, tuc-tucs e, não poucas vezes, é necessário desviar de alguma vaca pelo caminho. As buzinas são constantes a qualquer hora do dia e da noite. Depois de alguns dias, notamos que elas não tem um motivo definido. É simplesmente usada o tempo todo, como se fosse um item obrigatório ao dirigir. As pessoas se cumprimentam, protestam, gritam, xingam, vibram, comemoram e também não têm nada a dizer. Tudo isso, por meio de suas buzinas.

Vale lembrar que a segurança nunca está em primeiro lugar. Em todos os meios de transporte, a capacidade máxima é quase uma prova de resistência. Quatro pessoas em uma moto é bastante comum e normalmente nenhuma delas usa capacete. Crianças e até bebês no colo de suas mães são vistos nas garupas de motos nas ruas indianas. Nos ônibus, sempre há alguém viajando com metade do corpo para fora. E os carros me lembraram bastante quando não tínhamos nosso Código de Trânsito e viajávamos com quantos passageiros coubessem dentro de nossos carros. E íamos todos juntos para a praia: mãe, pai, irmãos, primos, tios. Sempre caberia mais alguém ou mais alguma mala.

Na Índia, a divisão de pistas é meramente ilustrativa. Se não houver um muro para dividir mão e contramão, não há regras para ocupação dos lados das pistas. Isso pode sim ser chamado de caos. E é o que é. Além disso, na prática, o número de pistas é proporcional à coragem e empreendedorismo dos condutores, que enfiam seus carros em qualquer espaço, ainda que para isso seja necessário abrir mão de seus retrovisores. Muitos carros já não vêm com o retrovisor externo esquerdo de fábrica e muitos outros já se perderam nesses caminhos.

Uma cena que é suficiente para descrever o trânsito indiano, foi quando passeávamos por Udaipur, a cidade indiana mais linda que conheci. Estávamos em um daqueles carros grandes de sete lugares e passávamos por uma rua bem estreita na parte antiga da cidade. No sentido contrário, vinham dois tuc-tucs, uma moto e um velhinho de muletas e sem a perna.

Nesse momento, o Gui me perguntou: "Pensando como um indiano, de quem é a preferência?" Nem deu tempo de responder e ficou bastante claro, ao som das buzinas de todos os veículos envolvidos que a regulação viária se dá de acordo com a lei do mais forte. Óbvio, então, que nosso veículo de sete lugares seria o primeiro a passar. E ai do velhinho sem perna se não aguardasse toda aquela movimentação...

As concepções que adoramos demonstrar, pregando o adesivo do coração azul, em nossos carros, ainda que nem pratiquemos sempre a tal gentileza urbana, definitivamente ainda não chegou na terra das especiarias.

Fotos: Jacqueline Costa




quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Luiz Gonzaga

Jacqueline Costa



Todo mundo que acessou o Google hoje notou que ele presta uma merecida homenagem a Luiz Gonzaga. É um dos desenhos mais fofos já exibidos e por isso, a escolha da imagem para ilustrar esse post não poderia ser outra.

Não sabia que Luiz Gonzaga completaria hoje 100 anos se estivesse vivo. Agora tudo se encaixa! Filme, séries e homenagens pipocaram em 2012 para um dos maiores compositores, que o país já teve.

Amantes ou não do forró, todo mundo já ouviu falar do Rei do Baião. A partir dele, os brasileiros se renderiam às músicas entoadas ao som apenas da sanfona, do triângulo e da zabumba. Sua música levou alegria ao povo sofrido de sua terra, o sertão nordestino, e tornou-se a grande marca das festas da região.

Quem nunca se emocionou com uma das inúmeras versões feitas por artistas de todos os gêneros de Asa Branca? Talvez essa seja a sua obra-prima, a sua maior criação. Linda e cheia de poesia, essa Asa Branca bateu asas do sertão, mas Luiz Gonzaga, sem dúvida, muito bem assinou o forró, o baião, o xote, o xaxado ou qualquer que seja o nome dado ao que toca nos arrasta-pés Brasil a fora.

Foto: Google.

Chegada em Mumbai

Jacqueline Costa

Gateway of India

Enfim, depois de uma longa viagem, chegamos em Mumbai de madrugada. Como ficamos um dia em Doha e a nossa mala foi direto para Mumbai, temíamos que ela fosse extraviada no caminho. A espera por ela foi bastante tensa, apesar de ter separado algumas peças na mala de mão.

Desembarcamos e nos deparamos com uma quantidade enorme de indianos carregadores de malas perto das esteiras e quando eles notavam que aquela era a sua mala, avançavam logo para cima dela, antes mesmo que você tivesse tempo para reagir. Eles queriam carregar as malas para receberem algum dinheiro por isso.

Quando já estávamos chegando no táxi pré-pago, que arrumamos, tivemos que nos render a um desses indianos, já que o motorista não conseguia colocar sozinho nossa mala no teto do carrinho, que nos levaria ao hotel.

Pelo serviço, entregamos ao carregador uma gorjeta de 4 rúpias. O moço ficou completamente indignado e obviamente nos xingou bastante em hindi, a língua que verdadeiramente é falada na Índia. Não tínhamos feito ainda as contas de quanto valia cada rúpia! Mas assim que fizemos, entendemos exatamente o que ele queria nos dizer. Um real equivale a aproximadamente 25 rúpias. Não tínhamos dado a ele nem 10 centavos...

O táxi partiu rumo ao hotel. O que nos impressionou muito é que o trânsito, em plena madrugada, era inacreditável! As buzinas lá nunca param. O que parou foi aquele carrinho pequeno, que era uma mistura de Fiat 147 com aquela minivan de cachorro-quente, que fica nas portas das faculdades aqui no Brasil. Foi uma parada para o abastecimento. O motorista  só enche o tanque com o que será exatamente necessário para cada corrida. Descobrimos ali que a mala estava em cima do carro, porque o cilindro de gás ocupava todo o porta-malas.

Com normas de segurança inexistentes naquele país, fomos obrigados a saltar do carro enquanto ele era abastecido. Foi bom para irmos nos ambientando com o cheirinho característico da Índia e com as muriçocas, que não são exclusividade de Belém do Pará. Claramente éramos sangue novo naquelas terras e atraíamos todos os bichinhos.

Também comecei a notar que a Índia não seria exatamente o sonho da mamãe e das minhas tias. Desde a saída do aeroporto percebi que a limpeza não é bem a especialidade deles. A essa altura, eu e o Gui nos divertíamos pensando em quais dos nossos amigos amariam estar ali no meio daquela confusão e quais nunca devem se aventurar na Índia, porque não darão conta nem de atravessar o aeroporto.

Depois de manobras radicais e emoções sem fim, chegamos a Colaba, com a certeza de que para haver a noção de mão e contramão é necessário um muro dividindo as pistas. Do contrário, prevalece a lei do mais forte. Faixas são meramente ilustrativas e o negócio é ver quantos carros, motos, bicicletas e vacas caberão na pista.

E isso foi só o começo de uma Índia no mínimo intrigante, mas já tivemos ali a certeza de que nos divertiríamos bastante.

Foto: Jacqueline  Costa

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A melhor pergunta de todos os tempos

Jacqueline Costa



Enquanto estava na Índia, não postei nenhuma história nova aqui no blog não por preguiça, por descuido nem por querer férias de tudo. Não postei nada, porque não levei computador. Apesar de ter o Ipad, não tínhamos uma conexão, que me ajudasse nessa tarefa. Além disso, não queria contar nada sem ilustração e não tinha como transferir minhas fotos da câmera para o blog.

A gente também, quando viaja, sempre quer sair muito, conhecer tudo, saber como um mundo tão diferente do nosso funciona, mas sempre há um tempinho para relaxar no quarto, ver um pouquinho da TV local e acabar voltando para a BBC, já que o críquete e suas regras não são nossa especialidade e de Bollywood, já basta a versão brasileira encenada, de tempos em tempos, por Glória Perez, no horário nobre. Mas eu estava de férias e não queria me obrigar a nada. Não consegui criar uma rotina para escrever dentro desses dias sem regras para ditar horários ou o que fazer. Achei melhor guardar tudo para contar na volta, por meio do meu computador, com as fotos que tiramos. Não queria resumir nada e nem esconder qualquer detalhe.

Em uma das vezes que consegui acessar a página do Toda conversada no Face, eu me deparei com a melhor afirmação, que já me foi enviada, desde que tenho o blog. O meu sumiço temporário foi expresso da forma mais objetiva e eloquente:

"Toda conversada, você está muito calada!"

A Jaqueline Nascimento, que trabalha comigo, me mandou essa mensagem. A minha vontade foi parar na frente do Ipad e escrever até esgotar todas as histórias, que já tinha vivido na Índia até então. Mas também não podia deixar de viver o que ainda tinha por viver  para fazer isso.

Morri de saudades disso! Escrever, escrever e escrever. Contar as histórias e falar do quanto tudo na Índia me chamava a atenção. Acho que já vou vivendo, tentando diagnosticar o que pode se transformar em uma boa história para o Toda conversada. E, por mais que pareça estranho, isso é uma delícia! Vou contar tudo aqui.

Acho que as nossas carinhas na foto são capazes de resumir tudo o que pudemos ver e viver lá, né?

Foto: Jacqueline Costa

De malas prontas

Jacqueline Costa



Quando decidimos ir para a Índia e compramos as passagens, esse dia parecia muito distante. O começo do ano é sempre o ponto mais distante do final. Isso justifica a sensação de que essas férias jamais chegariam.

Ir para a Índia já é algo diferente e, por si só, capaz de me fazer suspirar de tanta ansiedade e curiosidade. Como diria a prima Ticinha, bastante Floratil será necessário, porque o meu intestino definitivamente não está apto a essa tempestade de curry. Presente de casamento comprado, vouchers impressos e malas prontas. Enfim, estávamos prontos para a viagem.

Faltava apenas as despedidas dos que deixamos para trás. Queria tê-la feito por aqui, mas a correria do dia da viagem não me permitiu. Recebi mensagens e e-mails e agradeço a todos por terem nos enviado seus desejos de ótimos dias na terra das especiarias. Mas, devo registrar que a melhor de todas as mensagens veio da Raquel, irmã do Gui. Nunca recebi um e-mail, desejando boa viagem, tão fofo!

Sempre estamos abertos a encomendas do exterior e, por isso, pedi para todos, que quisessem algo, que me mandasse a descrição completa para facilitar a compra. A Raquel mandou a listinha abaixo:


"Estava pensando em algumas coisinhas que eu estou precisando muito... sem as quais não posso viver.

Segue a lista completa:

ü  Muitas fotos...muitas mesmo... incluindo elefantes, tecidos exóticos, comidas típicas, danças e maquiagens lindas
ü  Causos....bem detalhados! Afinal quero saber tudo dessa experiência!!!!
ü  Dancinhas....vocês vão ter que me ensinar as coreografias da região!!!
ü  Maquiagem... essa é exclusiva pra vc Jacque, depois vc vai ter que dar aula de maquiagens de olhos BEM marcados!!!"


Depois disso, o jeito foi voar para a Índia sem esquecer nenhum dos pedidos da Kel. Lá vivemos histórias inesquecíveis, vimos coisas fantásticas e literalmente nos aventuramos e experimentamos todos os sabores de lá.

Vou contando aqui tudo que vimos e vivemos na Índia aos poucos. Afinal de contas são tantos os casos, que não dá para contar de uma vez só. Vou registrar aqui, no Toda conversada, nos próximos dias, tudo que aconteceu lá.

Foto: Reprodução.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sou assim

Jacqueline Costa




Já conversamos sobre a coisa de as pessoas nas redes sociais nunca serem quem de fato são. Todo mundo é rico, bonito, bem relacionado, passa a vida viajando e os dias na beira da piscina. Ah, se não conhecêssemos os nossos amigos (e, em especial, aqueles que nem são tão amigos assim), passaríamos a crer que todos nós realmente vivemos na Ilha de Caras e já acordamos com um espumante na mão, simplesmente para brindar à vida.

Como "nem tudo que reluz é ouro" e "nem tudo que balança cai", sabemos que, na vida real, tudo é bem diferente. Nem todo mundo é tão bonito quanto parece. Todo mundo acorda com cara amassada. Às vezes, dormimos de maquiagem no rosto. Ir à academia não é tão delicioso como fazemos parecer. Passar um dia na companhia de um bom livro, jogada no sofá e vestindo aquela calça de moletom, não tem nada de glamour, mas é sim uma delícia. Nem todo mundo mora na zona sul. Qual o problema em admitir que moramos bem e que o nosso cantinho predileto no mundo inteiro fica um pouquinho longe? O desapego manifestado em excesso e a felicidade transbordando o tempo todo também não são normais. Não há nenhum problema em se admitir carente e sozinha algumas vezes.

Eu tenho me esforçado bastante para viver uma vida cada vez mais real. Acho que com o tempo, a gente aprende que não há vergonha nenhuma nisso. Todos nós temos fraquezas, não sabemos direito como lidar com a ansiedade nem com o medo. Eu aprendi que sou um misto de sentimentos e que, o tempo todo, vou medindo e achando um lugarzinho para cada um deles dentro de mim. É difícil ser segura o tempo todo. Vivo, algumas vezes, momentos de pânico e de tensão. Eles podem ser amenizados com uma simples ligação para o Eduardo Romeiro me fazer rir ou agravar a situação e, ainda assim, me fazer rir.

Cada vez mais tenho tentado ser eu e escolher o que gosto, não me render ao que não gosto, apenas para não ficar de fora. Estou tentando comprar o mínimo possível e usar mais tudo que tenho. Repito (e muito!) as minhas roupas. Afinal de contas, a maioria delas, eu sei exatamente quanto custou. Não ganho peças de marcas para divulgá-las (bem que eu gostaria!), porque sei que não sou nenhum ícone de estilo e elegância formadora de opinião. Em dias de inspiração, quero me produzir e me sentir linda. Nos dias de preguiça, prendo o cabelo em um coque desestruturado e no rosto, fico só com o protetor solar. Nesses dias, aposto em combinações que já usei e que deram certo, para não ter que pensar no que vestir. Quem disse que tenho que ser impecável sempre?

Eu me sinto gorda demais algumas (ou melhor, muitas) vezes. Mas elegi minhas prioridades e, nesse momento, a academia definitivamente não está entre elas. Decidi estudar e vou dar o meu melhor nisso, sem perder o foco e nem mesmo desviá-lo. Quando essa fase acabar, eu poderei me internar na academia todos os dias após o trabalho. Por mais que saiba que é uma fase, o relativo desleixo com o meu corpo me deixa insegura, mas eu logo penso que essa é apenas uma temporada e relaxo. Retomo o foco, as leituras, cadernos e exercícios, que são as coisas que mais importam para mim agora.

Sou normal. Sou uma mulher como outra qualquer. E acho que todas nós somos bastante assim, por mais que não queiramos admitir, para não afastar o glamour de nós nem por um segundo. Considero que eu não tenho nada de especial. Apenas talvez me enquadre perfeitamente na definição do Gui: Sou um ser binário, que quando não está conversando, está dormindo. Eu apenas ressaltaria uma correção na assertiva: Quando não estou dormindo estou conversando ou escrevendo...

Foto: Reprodução.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Agora falta pouco para o matrimônio!

Jacqueline Costa



O casamento era antes algo que me parecia tão distante. Por mais que sempre tivesse brincado com o tema e desafiado a imaginação até dos mais descrentes no amor, tamanha a convicção das minhas palavras, nunca imaginei que um dia fosse encontrar alguém tão disposto a viver o amor, em que acredito. Nunca pensei que existisse no mundo alguém que acreditasse num amor, em que o  respeito, a cumplicidade e o carinho estão em todas as coisas, permeiam todas as nossas decisões e guiam as nossas escolhas.

Eu achei e quando notei que isso estava acontecendo comigo de verdade, eu me entreguei. Desde então, tudo tem passado muito rápido, mas tudo é tão bom quanto no primeiro encontro. Eu me encho de saudades com apenas um dia longe e uma revoada de borboletas acontece na minha barriga todos os dias à noite, quando ele chega em casa.

Com os preparativos para o casamento, tornei-me muito mais emotiva e acho que até um pouco mais doce. Exatamente por isso, não consigo imaginar, menos ainda conseguiria prever, qual será a minha reação quando estiver na porta da Igreja, com toda a minha família, os meus amigos e o Gui me esperando. Não sei o que vou sentir quando vir também a Kel, a noiva mais linda do mundo, lá no altar. Considerando o meu entendimento de que todo mundo é um pacotinho, que vem com família, amigos e uma história, o meu pacotinho foi bem generoso e eu ganhei uma irmã ainda mais linda por dentro do que por fora, com quem também vou me casar.

É muita felicidade, muita alegria e muito amor para ser expresso em poucas palavras. Viver tudo isso é indescritível. Comentava com a mamãe que, quando fiquei noiva, faltava um ano e agora, restam apenas cinco meses. Vou controlando a ansiedade, que fica evidente, quando percebo que esse tem sido um dos meus temas favoritos.

Acho que se esse casamento fosse só meu e do Gui,  isso tudo ainda assim seria tão marcante e tão lindo para nós. Dividir isso com a Raquel e com o Ricardo, só adiciona ainda mais alegria e mais emoção para esse dia. Tudo vem em dobro. É muito mais empolgante ter com quem dividir cada detalhe, das decisões mais irrelevantes às grandes decisões sobre o tema. É muito mais divertido poder contar com as ideias do Ricardo e com os imbatíveis argumentos do Gui para não fazer o que ele não quer e rebater as quase obrigações, impostas pelos costumes e pelas listas do Cerimonial.

Queria conseguir guardar cada sugestão, cada piada e cada discussão sobre os temas mais engraçados. Acho que se puder fazer isso, terei bons motivos para sorrir sempre que me lembrar da preparação para o casamento.

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dividindo as tarefas

Jacqueline Costa



Eu e o Gui escolhemos dividir a vida e ter a nossa casinha. A partir de então, foi necessário muito mais do que amor. São muitas tarefas, que demandam esforço e um verdadeiro trabalho em equipe. Costumamos dizer que somos uma equipe. Cada um faz uma parte, ajuda como pode, para que todas essas tarefas sejam cumpridas com êxito.

Quem nunca morou fora de casa, não faz ideia de quantas decisões e iniciativas são necessárias por dia. Nós, sem entender nada sobre boa parte desses assuntos técnicos, já tivemos que resolver coisas sobre iluminação dos cômodos, decoração e organização. Não é fácil incluir na correria nossa de cada dia esses temas, mas os encaramos como "é o que temos para hoje".

Tivemos que comprar uma nova geladeira. Depois, um novo liquidificador e uma nova máquina de lavar. Tudo isso foi necessário após os antigos quebrarem. Tem entrega, instalação e o trabalho de nos livrar do item velho. Teve também a manutenção corretiva dos pés das cadeiras da sala, quando a marcenaria já é uma profissão rumo à extinção. Às vezes, temos ainda que nos lembrar da necessidade de aspirar os sofás, por causa da alergia.

Toalhas ficam velhas. Os lençóis que temos são insuficientes, quando recebemos visitas. Temos que comprar outros. Mais travesseiros reserva e colchões infláveis já aguardando o preenchimento da capacidade total da casinha para receber os amigos. Taças para vinho e  alguns utensílios domésticos, que não podem aguardar o casamento, também tiveram que ser adquiridos. Ainda tem as compras mensais de material de limpeza e dos alimentos e idas semanais ao sacolão.

Quem me dera fossem só compras... Os serviços são muito mais difíceis de lidar. Já sofremos muito para conseguir uma manutenção para os vidros da varanda. A migração do telefone do Gui até hoje ainda não foi concluída com êxito. Temos que estipular as tarefas diárias da moça, que trabalha aqui para a gente, para facilita a organização do trabalho dela. Temos ainda que organizar nossos guarda-roupas, dividindo os espaços e avaliando a necessidade de tudo aquilo que temos e guardamos.

Tudo isso dá trabalho, exige tempo e muita disposição. Para alguns casais isso será uma eterna fonte de discórdia à medida que apenas um se responsabiliza pela execução de tudo isso. Para mim e para o Gui, são coisas chatas, mas imprescindíveis. São chatas para nós dois e por isso, não apenas um merece carregá-las sozinho. Nós então as dividimos.

Desenvolvemos com o tempo uma técnica sem regras, mas em que há a divisão das tarefas. É custoso em termos de esforço e de tempo e nenhum de nós dois tem tempo de sobra. Eu tenho que aproveitar cada minuto, que tenho livre, para estudar. O Gui também nunca tem  tempo de sobra. O que faz a nossa técnica dar certo é mesmo o carinho que imprimimos em cada uma dessas coisas. Nós as encaramos como coisas importantes para a nossa casa, para o nosso espaço e vamos resolvendo cada uma delas com alguma dedicação e com muita paciência.

Todos os dias vão surgir novos afazeres, mas sabemos que temos um ao outro para dividi-los. E é nessa hora que descobrimos que dividir é também somar. A parceria, em todas essas coisas, aumentam a nossa cumplicidade e descobrimos o quanto tudo isso tem de carinho e de cuidado intrinsecamente. Nesse momento, relativizamos qualquer esforço ou raiva que tenhamos passado com essas coisas.

É delicioso viver isso! É mesmo! Mas vejo muita gente planejar a vida sem sequer mencionar a existência de tarefas domésticas, que podem ser demasiadamente desgastantes. Ouço muitas histórias, mas poucas são as pessoas que têm consciência disso. Começar uma vida a dois pode ser simplesmente delicioso para os que sabem amar e dividir para multiplicar esse amor.

O problema é que muitos não imaginam que o conto-de-fadas tem muitos detalhes que não aparecem nas páginas dos livros. Nunca há uma lixeira aberta nem roupas sujas. Nunca faltam talheres na cozinha nem Vanish na lavanderia. A geladeira nunca se esvazia e toda noite há um jantar e um bom vinho a sua espera. Ainda que você seja uma princesa, rodeada de serviçais, ainda surgirão tarefas e é justamente quando a execução se torna muito difícil e concentrada em apenas um dos dois, que o príncipe vira sapo.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Black Friday

Jacqueline Costa



Parece que a Black Friday chegou ao Brasil. Pelo menos foi o que os anúncios na TV me prometeram ontem. Até as marcas de carros anunciaram grandes descontos.

Como não estou precisando de nada e nada comprometida com os gastos excessivos, não procurei conferir nas ruas o que, de fato, está acontecendo. Meus colegas de trabalho, estão em polvorosa e só falaram sobre isso boa parte da manhã. Isso me deu uma vontadezinha de, pelo menos, espiar o que está acontecendo.

Procurei, em alguns sites, algumas coisas, pelas quais busquei nos últimos dias. Todas elas estavam com o mesmo preço. A máquina de lavar, a Nespresso, algumas roupas, sapatos, livros e itens para o cabelo e maquiagem, em todos os lugares em que antes havia buscado, tiveram os seus preços mantidos inertes. Quase todas as páginas dedicam um lugarzinho para as promoções. O que está diferente é mesmo a divulgação diferenciada desses espaços nessa sexta-feira. Nada além disso.

Parti para as passagens aéreas e tentei marcar datas dentro do período promocional, mas o site dessas companhias sequer completa a minha busca. Tentei mais algumas vezes, só para culpar a minha conexão aqui e consegui! Nada de preços fenomenais. Quando as companhias fazem aquelas promoções de final de semana, aparecem preços melhores.

Mas nada como alavancar as compras de Natal daqueles que ainda nem receberam o seu décimo terceiro, mas estão cheios de vontade de gastar! As pessoas se sentem atraídas pela promissora economia de alguns reais. Mesmo que ela não seja real, o que importa é a sensação de ter alguma vantagem na negociação do produto. Esse dia me parece ser especial mesmo apenas nas propagandas. Mas o que isso importa? A emoção de correr para o shopping e disputar o último produto da prateleira, faz o consumidor ficar muito mais satisfeito com a sua mais nova aquisição. E o preço não é item obrigatório no quesito satisfação.

Por falar nisso, quando vinha para o trabalho, o moço que andava na minha frente sacou o celular do bolso, ligou e ao ser atendido, disse:

- Bom dia, my friend! Dizem que hoje tem uma tal de "brack frIday"!

Leia-se "friday", com um sonoro "i" da língua portuguesa e com a exata pronúncia da palavra "frigideira". Ali já tinha ganhado o meu dia e como vou dizer que a Black Friday não vale a pena?

Foto: Reprodução.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Como se ter uma boa ideia?

Jacqueline Costa



Nos dois últimos dias, em função de uma viagem para BH, deixei as notícias irem se acumulando no meu Reader. Hoje, enquanto me atualizava e as botava em dia, eu me peguei pensando além das notícias, que ali estavam. Contemplava especialmente os blogs e divagava sobre como é bom poder falar o que penso, sobre as coisas, que me chamam a atenção e sobre o que acho importante, por esse meio.

Sei que nem todo mundo ainda tem acesso à internet, tem computador em casa e pode manifestar a sua opinião sobre tudo, sobre o mundo e sua realidade. Eu posso e me sinto muito privilegiada por isso. Tento fazê-lo da melhor forma possível.

Criei o Toda conversada, sem uma pauta ou uma estrutura definida. Não fui pretensiosa. Queria apenas permitir que outras pessoas tivessem acesso ao que escrevo, às minhas ideias expressas em palavras, que antes eram guardadas só para mim. Se um dia escreverei um livro, se minhas histórias estarão nas prateleiras das livrarias, eu não sei. Posso dizer que me apaixonei pelo desafio de criar e manter o blog, sem uma linha editorial, sem conteúdo definido, nem nada disso. O que me guia são as coisas, que me chamam a atenção.

Agora mesmo estava aqui pensando em quais foram as grandes ideias das pessoas que começaram a trabalhar com a internet nos últimos anos. Os blogs, que leio, em geral, são escritos por jovens, que escolheram um tema e mergulharam nele. Alguns mergulhos mais profundos do que outros, mas todos eles bem sucedidos. Essas pessoas entenderam mais rápido do que outras o potencial das redes sociais e das marcas na venda de suas ideias. Atrelaram uma coisa a outra e o sucesso foi inevitável.

Não conheço a fórmula para uma grande sacada. Isso não existe. Acho que acontece como um lampejo e algumas pessoas, que nele acreditam, acabam se dando bem. O "look do dia" e o "manual make-up" são grandes exemplos disso. Mas a rede já está repleta de pessoas que replicaram essa ideia e já não há espaço para ninguém, que não represente um grande talento, para fazer a releitura desse modelo.

Não sei se sou eu que sou inquieta demais e estou em busca desse lampejo para o blog ou se busco uma boa ideia para desenvolver na vida, em outros meios. Em qualquer caso, continuo fazendo a minha parte. Eu estou sempre lendo e pesquisando. Quem sabe o lampejo uma hora não aparece?

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Bossa

Jacqueline Costa



Depois de o apartamento ao lado ter se transformado em uma marcenaria, tive que adotar medidas para atenuar a minha dor de cabeça e continuar estudando. Os fones, que o Menino me trouxe da América, com noise canceling, não foram suficientes diante do barulho estrondoso. Acho que até motosserra eles estão usando.

Tive que adotar alguns sons que me permitissem estudar e reduzissem o ruído da instalação, que estão fazendo aqui ao lado. Escolhi a bossa nova. Gosto tanto dessa música, que consigo criar histórias, imaginar cenários, mas sempre a tendo como minha trilha sonora favorita. Aliás, não consigo passear pelo Leblon sem cantar alguma música que tenha o "tantantantan" característico.

Essas músicas são muito mais do que trilhas de Manecos, que embalam os amores e desamores de suas Helenas. Elas são atemporais. Muita gente ainda vai se encantar por Tom Jobim, mesmo depois de ter nos deixado, ou virar fã de João Gilberto, sem nunca ter ido a um show seu.

Eu sempre me surpreendo e me encanto com essas canções. Aos meus ouvidos, elas são mágicas. Imagino o Rio de Janeiro e mundo especialmente mais bonitos com elas. Não consigo eleger a minha favorita. Tenho algumas, mas em cada época, torno o meu olhar para uma e, naquele momento, digo que ela é a minha preferida. Posso dizer que tenho um carinho especial por "Wave", "Corcovado", "Desafinado", "Chega de saudade", "Ela é carioca" e "Pela luz dos olhos teus".

Depois de algumas horas de "tantantantan", que tornaram meus exercícios de Contabilidade muito mais doces, é impossível não ver um dia ainda mais bonito do que está. Veja só do que eu estou falando e Play!




Foto: Reprodução (Desculpem-me por ter repetido a foto usada há poucos dias, mas não encontrei nada que demonstre mais a minha sensação ao ouvir bossa nova do que ela).

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=dwLJhBzs-jo