terça-feira, 21 de agosto de 2012

Assento preferencial

Jacqueline Costa

Há algumas semanas, peguei o metrô rumo a Congonhas para ir para BH e me deparei com a informação acima sobre as condições de utilização do assento preferencial.
Fiquei estarrecida com a definição de "pessoas obesas" gravada na plaquinha, qual seja, "IMC acima de 40". Imaginava o público alvo do aviso e constatei que a maior parte das pessoas, que o lêem, sequer imaginam o que seja o tal do IMC. Para os que algum dia já ouviram falar, 40 é um número inócuo. Ou seja, a informação foi transmitida, mas o leitor não faz ideia do que ela quer dizer.
Pensei ainda que dos que sabem o que é o IMC, metade conhece a conta para obter o índice e a outra metade, só de pensar que existe uma fórmula com um dos termos ao quadrado (na verdade, a fórmula é peso dividido pela altura ao quadrado), prefere fechar os olhos e fingir que nunca viu a informação.  Algumas pessoas certamente já se perguntaram: se aparecer uma pessoa que é mais gordinha, mas que não me pareça tão obesa assim, será que eu preciso perguntar peso, altura e sacar uma calculadora da bolsa para verificar se ela se enquadra nas condições postas? Isso acontece quando o excesso de definições acaba desafiando a concepção de cada um sobre o tema.
Não quero ser extremamente crítica, mas ninguém me pede o meu IMC quando vou comprar uma calça jeans. Ele não me é questionado quando preencho um formulário médico em um pronto-atendimento ou quando vou a uma entrevista de emprego. Então, se não sei nem o meu IMC, por que deveria presumir o dos outros? Pior, o que aquela informação estava fazendo justo no metrô?
Por mais que o IMC maior do que 40 classifique o indivíduo como obeso mórbido, esse tipo de informação não acrescenta nada para os usuários do transporte coletivo urbano, que sequer devem saber disso. Não seria melhor deixar que o bom senso prevalecesse e gravar na plaquinha apenas que aqueles assentos eram destinados a pessoas obesas? Acho que todo mundo consegue distinguir um obeso quando se depara com um e saberá que aquele assento é destinado preferencialmente para ele.

No fim das contas, é o que acaba acontecendo todos os dias. As pessoas contam com o bom senso para não ocuparem indevidamente esses lugares. Acredito ser desnecessário desafiá-las com informações do tipo "IMC acima de 90",  que causa apenas desconforto e as faz pensar se o que elas entendiam por obesidade é aquilo mesmo ou se as coisas mudaram. Será que os obesos de antes não são mais tão obesos assim? Ou será que os obesos agora devem se identificar por aquele estranho dado: o tal do IMC?

Na expectativa de delimitar a concepção das pessoas, o aviso pode, na verdade, criar ainda mais constrangimento para os obesos. É como se os lugares reservados ali estivessem como se fosse uma concessão, um favor a essas pessoas. E definitivamente não é o caso.
As pessoas obesas demandam sim um tratamento diferenciado e a lei que determina que a reserva desses assentos para elas é apenas uma medida de justiça. É um absurdo não termos em todos os ônibus, trens e metrôs poltronas em que essas pessoas consigam se assentar com dignidade. Mas espero que em outros lugares, a informação seja apenas de assentos reservados para pessoas obesas, sem outras definições, sem IMC nem nada disso.

Foto: Jacqueline Costa

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