quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Mais um ano

Jacqueline Costa



Mais um ano de vida. E foi muita vida para o último ano... Foi viagem para a Índia, concurso, preparativos para o casamento, lua de mel e ufa! Chegou a hora de viver uma vida de verdade, com dia a dia e sem tantas flores, guardanapos, discussões sobre medidas do vestido, bordados, copos, doces e sem caixas de bebidas empilhadas por todo canto disponível. Depois das listas de presentes, veio a administração dos presentes, o que não foi nada fácil.

Agora, com a cabeça mais vazia e pronta para receber mais Contabilidade, Direito Tributário e Economia, posso me dar ao luxo de, algumas vezes, parar para pensar e concluir o quanto sou privilegiada. Não precisei me desdobrar entre estudo e trabalho até o fim da faculdade. Nasci sem qualquer dificuldade adicional, ouvindo perfeitamente, capaz de andar, falar e aprender. Tanta gente tem ainda que, além das dificuldades do curso normal da vida e dos desafios que ela nos impõe, superar outras que vieram para elas, talvez porque sejam mais fortes.

Ontem eu vi uma mãe muito feliz no ônibus, voltando para a casa com seu filho, que tinha na cabeça vários sinais de cirurgias, usava aparelhos auditivos e tinha muita dificuldade para andar. Pensei na mãe, que acompanhava o filho sem qualquer sinal de amargura e que demonstra tanta paciência e amor com ele. Em relação ao filho, constatei que a vida foi bem menos generosa com ele, que tem várias dificuldades adicionais para superar antes das dificuldades normais por que todos passam, do que comigo.

Hoje vi uma mãe contando como descobriu um câncer no olho do filho e que enquanto passavam por um longo tratamento, que terminou com a retirada do olho, ela ficou grávida e teve outro menino. Fiquei imaginando na força dessa mulher, enquanto ela dizia o quanto tinha aprendido com a criança em todo esse processo extremamente doloroso.

Esses exemplos que misturam força e doçura são absolutamente inspiradores e me trazem a mais profunda gratidão com a vida. Quando paro para pensar em mais um ano, percebo o quanto sou abençoada, o quanto tive sorte e o quanto sou feliz. Só tenho a agradecer por minha vida, por meu amor, minha família e meu trabalho e pedir que venham muitos outros anos como esse.

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Respeito como linguagem universal

Jacqueline Costa



Dias depois de a menina Malala - aquela que levou um tiro na cabeça por ter divulgado ideias sobre a educação de meninas no Paquistão - voltar aos noticiários, por ter ganho o Prêmio Sakharov, no Parlamento Europeu, eu tenho pensado muito nas diferenças culturais que nos separam. E não apenas em relação aos países árabes, mas também em relação a todo tipo de cultura diferente da nossa.

Seria muito pretensioso achar que a nossa cultura é ideal, perfeita e com base nela poderíamos pensar tudo o que se passa no mundo. É justamente esse o problema quando começamos a debater situações contextualizadas em culturas diferentes da nossa, com base no que pensamos, fruto indissociável da criação que tivemos, da educação que recebemos e dos costumes de onde vivemos. O que quero dizer é que não posso avaliar a cultura de outros países com meus olhos de brasileira, classe média e pós-graduada. A cultura de cada um deve ser pensada em seu contexto.

Obviamente existem questões absurdas diante de qualquer cultura e de qualquer contexto, como a violência física, praticada pelos maridos às mulheres. Li uma reportagem com relatos dolorosos de mulheres que por anos foram violentadas sexualmente por seus próprios maridos, que, em muitos casos, as agrediam e as mantinham presas e sem comida e água por dias. Outro caso é a forte repressão que as mulheres sofrem em países como o Afeganistão e o Paquistão, quando lutam por seus direitos, como aconteceu com Malala. Ou ainda os casos absurdos de mulheres violentadas em plena Praça Tahrir, no Egito, em meio aos protestos contra o presidente Mohammed Morsi. Além desses, há os incalculáveis casos de mutilação genital feminina, praticada em vários países africanos e em alguns árabes. Para não dizer que trato apenas de questões relacionadas às mulheres, também fazem parte dessa lista de desrespeito ao ser humano em qualquer concepção que se adote o número que cresce a cada ano de refugiados africanos, que são expulsos de seus países pela guerra ou por questões políticas e migram para outros lugares. Eles fazem isso para não morrerem e deixam tudo para trás: emprego, casa e muitas vezes até a mulher e os filhos. Convivo com muitas dessas faces inevitavelmente tristes todos os dias, quando vou para o trabalho e passo próximo aos vários prédios do Centro de São Paulo, que abrigam os refugiados.

No entanto, não é a isso que me refiro. Falo de quando julgamos o uso do véu, da burca e de outros costumes tão estranhos para nós, como esses. As críticas, nesse caso, devem ser feitas com base em uma única coisa: respeito. O respeito à diferença deve guiar toda e qualquer discussão. Compreendo que nem todo mundo entenda a simbologia desses elementos na cultura árabe, por exemplo. Entendo também que muitos falam mais do que escutam, do que leem e não têm tanto interesse assim em pesquisar, em buscar compreender como o outro pensa, como o outro age ou com base em que suas decisões são fundamentadas. Mas quando estive por apenas dois dias em Doha, há um ano atrás, pensei muito no assunto e, desde então, trato esses temas com muito mais cautela do que já costumava empregar em qualquer discussão a respeito.

Penso que definição do meu conceito de liberdade pode ser, muitas vezes, tão restritiva, como acreditamos ser o uso da burca. A obrigação que temos de exibir um corpo perfeito o tempo todo leva muitas pessoas a se tornarem absolutamente escravas das dietas impossíveis, da malhação desenfreada e dos suplementos alimentares, que tomados sem orientação trazem mais malefícios, como a sobrecarga dos rins, do que benefícios. Vi um programa sobre uma ex-miss Estados Unidos, que não soube administrar as cobranças para que mantivesse o corpo perfeito e, por isso, acabou descontando toda a ansiedade que isso lhe causava na comida. Ela se tornou obesa, diabética e alcoólatra e entendia ser essa a sua sina. Por outro lado, nos shoppings de Doha, vi mulheres tão ou mais vaidosas do que eu, sentindo-se lindas e absolutamente livres da ditadura da balança por debaixo do véu; liberdade essa que muitas ocidentais não têm.

Querer impor a minha cultura, a forma como eu penso para outra pessoa, que possui outros parâmetros de vida e de entendimento do mundo é, antes de tudo, querer colonizar. É fazer o mundo girar ao contrário para voltarmos ao século XVI, quando se acreditava ser a cultura européia a melhor de todas e, justamente por isso, foi imposta violentamente aos países colonizados. Acredito que esse tempo ficou para trás e hoje o que mais existe no mundo é informação. Então, por que não aprender e compreender um pouco mais a maneira de pensar e de viver do outro antes de pensá-lo apenas com os nossos critérios?

Respeitar as diferenças culturais é ver no outro a possibilidade de pensar e agir diferente de mim. É ver que o mundo não é só do meu ou do seu jeito. É saber que as coisas funcionam, lá longe, de uma forma estranhamente diferente para mim, mas funcionam. De um jeito ou de outro, funcionam. O respeito é uma forma de enxergar o mundo sem lentes e as diferenças são o que o tornam mais colorido.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Seis meses depois

Jacqueline Costa



Já se passaram seis meses desde que dissemos "sim". Fui pega de surpresa quando constatei o fato. Eu queria estar até agora vestida de noiva lá na festa, rodeada das pessoas mais queridas, que tanto torceram por nós. Alguns desde o primeiro segundo estiveram na torcida. Outros deram os nossos primeiros puxões de orelha, preocupados com o nosso relacionamento e com aquilo que estávamos construído. Ali percebi o quanto tinha a agradecer a todos, porque senti, de verdade, que estavam tão felizes quanto nós.

Depois de seis meses, verifiquei também que era hora de parar e escolher as fotos para o álbum e avaliar as mudanças possíveis no nosso trágico vídeo de casamento (a melhor coisa nele é a musiquinha do Programa Amaury Junior, o que me rendeu boas risadas). Rever tudo isso foi para mim como reviver aquele dia lindo. Eu me vi tão emocionada como na hora em que me encontrei com a Raquel na porta da Igreja e pensava comigo no quanto sou privilegiada por tê-la na minha vida, afinal de contas nós compartilhamos toda a organização e estávamos ali, vestidas de noiva, esperando que aquele fosse o dia mais feliz de nossas vidas. Sentíamos as mesmas emoções e nossos corações batiam exatamente no mesmo ritmo. Realmente aquele foi o dia mais feliz de nossas vidas. Se alguém me perguntar se valeu a pena, responderei sem titubear e tão alegre quanto o fiz em frente ao padre: "Sim!" Foi um dia incrível, inesquecível e perfeito para mim.

Quem me vê falando assim, pode pensar que se estou tão nostálgica, é porque me amparo nisso e apenas levo a vida com a mudança do estado civil. Ledo engano. Acho que as descobertas do dia a dia e a alegria do reencontro após mais um dia de trabalho traduzem exatamente o quanto tem sido lindo viver juntos.

O Gui descobriu que o sabonete acaba mais rápido, vidros de xampu procriam e que a motivação para ver o vídeo de casamento varia muito entre homens e mulheres. Eu percebi que o creme dental também acaba mais rápido, que por mais que ele reclame dos nossos vidros de xampu, ele adora os meus importados, e o quanto é mais fácil arrumar a cama em equipe.

Acho que fazer parte dessa equipe faz com que me sinta mais segura, mais unida a ele. É o que nos faz planejar juntos e construir juntos o nosso futuro, que vai além do meu futuro e do futuro dele, também extremamente importantes, mas que são, de certa forma, atenuados pelo "nosso". Mesmo na correria dos nossos dias, encontramos tempo para nos preocupar um com o outro, para ficarmos um pouquinho juntos e para rirmos bastante juntos. Penso que a tradução perfeita para "equipe" é "juntos" e foi delicioso aprender isso nesses últimos seis meses.

Foto: Glades Olivier.



E para o Tuquinho, que sugeriu o post, aprendi também, nesse mesmo tempo, o quanto você faz falta no nosso dia a dia e o quanto me faz feliz lembrar dos nossos dias de sol, verão, bossa nova e Bibi ou mesmo por falar com você ainda que por menos de um minutinho pela internet ou pelo telefone! Já estou na contagem regressiva para a sua chegada!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dia do professor

Jacqueline Costa



Mais um dia dos professores. Como o tempo para mim começou a passar mais rápido, não tenho parado muito para pensar nessas datas que se repetem todo ano. Ocorre que ontem, vi uma homenagem linda de uma aluna à Professora Miracy, da Faculdade de Direito da UFMG, que foi a minha orientadora de monografia. Acho bastante injusto dizer que ela orientou só a minha monografia. Ela guiou a minha vida e me mostrou que a universidade em que eu sempre acreditei. Apesar de todos os problemas, essa universidade existia de verdade.

Com ela aprendi um pouco sobre pesquisa e extensão, sobre como ser mero observador de uma realidade e observador no sentido de que eu não posso mudar a vida das pessoas, mas posso mostrar para elas que existem caminhos para tanto. Posso mostrar o que é mobilização, como usar a conciliação, mas as verdadeiras mudanças, só elas mesmas podem operar. Com a professora Miracy, aprendi a acreditar, a ter esperança no mundo e nunca perder a fé nas pessoas.

Ela, sem dúvida, é um dos grandes exemplos de mestres que passaram pela minha vida. Foram muitos, mas não me esqueço também de quem me ensinou a escrever meu nome e as minhas primeiras linhas, de quem me incentivou a escrever cada vez mais e mais e de quem apostou em mim, como alguém com um talento a ser desenvolvido e aperfeiçoado.

Nesse caminho, os mais marcantes foram meus professores do Santo Agostinho. Naquela época, em que a escola era o centro da minha vida e ocupava quase todo o meu dia, vivíamos a incessante busca por pontos, em provas, trabalhos, exercícios. Aliás, sobrava bem pouco tempo depois de todas essas tarefas feitas. Por isso, reclamava. Dizia querer mais tempo para mim. Hoje me parece no mínimo engraçado querer tempo, quando tinha todo o tempo do mundo para mim. A escola era a minha única responsabilidade e não tinha que me preocupar com nada além disso. Todo o resto, corria por conta dos meus pais. Reclamava das férias de janeiro, quando a chuva do verão impossibilitava qualquer aventura mais empolgante. Mas posso me lembrar que, quando isso acontecia, começava a torcer para que as aulas voltassem logo. Queria rever meus amigos, reencontrar os professores e passar as mesmas raivas com mais trabalhos, provas e exercícios.

Sinto realmente muita falta daquele tempo. Sinto falta daqueles professores que fizeram mesmo tanta diferença na minha vida. E agora estou aqui doida para exercer esse papel, quem sabe, em algum momento, em tempo integral. Como já não tenho mais todo o tempo do mundo só para mim e para os estudos, posterguei um pouquinho esse plano em função de outras prioridades, mas ele não está esquecido. Será retomado o quanto antes possível. Só preciso passar logo em outro concurso.

Por enquanto, parabenizo todos aqueles que se dedicam por amor à educação e que sabem que podem ser capazes de mudar, por meio dela, a vida das pessoas atingidas por seu trabalho.

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O que é ser nerd?

Jacqueline Costa



Fim de semana com aniversário do Luhen, que é aquele tipo de pessoa para quem não se diz não. Apenas questiono o que vamos fazer e vamos lá, por mais que nossas preferências pessoais não sejam exatamente parecidas. Ele curte o clássico programa de macho, com aqueles rocks estranhos e muita gente esquisita. Mulher? Nesses ambientes, se juntar todas, não dá meia. Mas vamos lá.

Ele juntou alguns amigos e fomos para o Pubcrawl na Vila Madalena. Era uma festa meio nômade, que ia mudando de lugar de tempos em tempos, indo de baladinha em baladinha com um bando de gente, que, a cada parada, ficava um pouquinho mais bêbado. Na concentração, notamos que pagaríamos mais caro, porque não estávamos fantasiados, o que, nesse caso, considero que seja uma bela vantagem. Preciso estar investida de surpreendente motivação para sair por aí em um sábado qualquer, que nem é de Carnaval, vestida de She-Ha ou de Chiquinha.

Era uma típica festa de jovens nerds. E no contexto jovem, definitivamente não nos inseríamos. Vi uma menina que se achada a verdadeira idosa por saber cantar inteira a música do Pokémon. Eu pensei: "Minha filha, eu sei recitar The get along gang!" Melhor do que isso, só o susto que a menina que servia cerveja tomou ao ver que um amigo do Luhen era noivo, realidade bem distante para ela.

Em meio a risadas, dancinhas e bebidas em copos gigantes, fomos parar em uma balada cubana. Adoro salsa, mas me sentia num vidro de tempero pronto de tão cheio que o lugar ficou. Fui ao banheiro e enquanto esperava a minha vez, em uma fila lado a lado com a do banheiro masculino, um rapaz me abordou e, sem pestanejar, me disse: "Sua bolsa não é nerd!" Concordo que chutches da moda realmente não façam parte do universo dele. Aliás, ele, de fato, não devia saber o que é uma clutch e para que serve exatamente. No mínimo, deve achar que aquilo tem cara de estojo ou porta-post-it.

Fiquei pensando nisso, meio indignada, confesso, até chegar em casa. Primeiro que acredito que o adjetivo nerd se coadune com pessoas, jogos, comportamentos, mas, em relação a bolsas, foi para mim novidade. Segundo que não consegui conceber exatamente o que seria uma bolsa nerd. Talvez seja uma bolsa feita de Lego. Não sei. Ainda não concluí nada a respeito. Acho que o mais próximo de bolsa nerd que eu posso chegar é usando a Chanel realmente inspirada no Lego. Essa sim combina comigo. Pena que ela não combina exatamente com o meu orçamento...



Foto: Reprodução.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Direito é linguagem

Jacqueline Costa



A minha nova pós-graduação, pela qual estou apaixonada e já triste porque vou entrar de férias daqui a pouco (queria dois anos ininterruptos de alegria e empolgação, inclusive com as noites mal dormidas, por causa dos seminários, livros espalhados por toda a casa e a cabeça cheia de dúvidas e da certeza de que sei ainda muito pouco) tem me feito pensar muito a respeito da linguagem, dos argumentos jurídicos e não jurídicos e da questão da coerência. Realmente é preciso ser coerente e não deixar que todo o seu discurso se esvaia, porque é contraditório, porque acredita nisso para uma coisa, mas ao ser questionado sobre outra hipótese para a mesma questão, já muda de ideia.

A minha nova pós tem me feito pensar muito, mas estamos vivendo um momento extremamente relevante politicamente, com a inquietação e desconforto da população, expresso pelas manifestações e, em especial, com o julgamento do mensalão, como um todo, não apenas quanto à admissibilidade dos embargos infringentes. Nunca vi tanta gente se manifestar a respeito de temas estritamente jurídicos, como o cabimento de tal recurso e, diante disso, todos os tipos de argumentos que definitivamente não são jurídicos emergiram. Cansei-me de ouvir que ladrão tem que ir para a prisão, mas que, nesse país, rico não vai para a cadeia. Tem gente que acha que estão dando um jeito de inocentá-los e que estão mudando as regras do jogo. Dizem que se já foram julgados, está tudo certo e pronto. Simples assim! Mas sobre as questões acerca da revogação do Regimento Interno do STF, muito pouco se falou. Nem mesmo meus colegas do direito discutiram essa questão, por mais relevante e difícil que seja.

Chamo à atenção o fato de que o direito é linguagem: É técnica e exatamente por isso não está acessível a todos, ou seja, aqueles que argumentam que se trata de uma ciência prolixa que deve ser simplificada não têm nem um pingo de razão. Até concordo que os advogados, juízes e todos aqueles que trabalham com o direito deveriam prezar pela norma culta, pelo respeito à gramática e, assim, observar a necessidade de objetividade, de elaboração de um texto coeso e coerente. O que quero dizer aqui é que não temos, enquanto operadores do direito, no exercício de nossa função simplificar os termos técnicos ou, até mesmo, inutilizá-los, comprometendo os institutos jurídicos, para que a população compreenda do que estamos falando.

Fico aqui me perguntando, por que ninguém questiona e clama pela simplificação da linguagem médica por nomes, descrição e tratamento de doenças em termos mais simples acessíveis a todos, abolindo o linguajar técnico, inclusive no que concerne aos medicamentos prescritos? Por que ninguém questiona a simplificação da linguagem dos engenheiros para que qualquer simples mortal tenha acesso e compreenda com perfeição o projeto de uma casa, por exemplo? Por que ninguém critica e se rebela contra as demonstrações contábeis para que se tornem mais simples e qualquer pessoa possa compreendê-las com exatidão?

Então! É isso! É disso que estou falando. Direito é linguagem e linguagem técnica. Não há de se buscar a simplificação de seus institutos ou de seus termos técnicos. Nem todo mundo precisa e quer saber a diferença entre recurso especial e recurso extraordinário. Não há a necessidade de transformar o telejornal em uma pseudo-aula de direito, para explicar o prequestionamento, exame de admissibilidade ou teoria da culpabilidade.

Quem não é operador do direito tem todo o direito de ter um pouco de dificuldade quanto a essa compreensão de que é direito é técnico e o direito positivo, objeto de estudo da ciência do direito, por quem faz ciência do direito. O que não aceito é que as pessoas que passaram cinco anos na faculdade e, inclusive, já tendo se rendido a cursos de pós-graduação, levante essa bandeira pela simplificação. Normalmente são desses que costumo ouvir argumentos não jurídicos para defender essa ou aquela decisão, se rebelar contra esse ou aquele posicionamento e discutir sempre sem qualquer preocupação com a concatenação de ideias em um discurso eminentemente jurídico. São esses que se investem na autoridade de "doutor" e soltam por aí, aos quatro ventos, as coisas mais estúpidas que já se viu.

Nós, operadores do direito, temos a obrigação de dele cuidar, de prezar por ele e devemos saber separar o que seja argumento jurídico do que não seja. Também temos o direito de termos opiniões leigas diante dos fatos jurídicos, mas não podemos fazer pensar que se trata de opinião jurídica ou que isso esteja de acordo com a lei. É essa pretensão de conferir jurisdicidade a tudo pelo simples fato de ter estudado direito que acho que temos combater. Opinião pessoal, indignação e se considero isso justo ou não não podem ser confundidos com o que, de fato, é o direito.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sexta 13

Jacqueline Costa



Simplesmente o fato de o dia começar deu ensejo a um monte de posts e correlações entre a sexta 13 e o ano de 2013 e sorte, azar. Já ouvi todo o tipo de piadas sobre o meu negro gato favorito, que atende pelo codinome Dinarte, e enquanto estava rindo, ok! Só que agora fiquei abismada, porque acho que as pessoas realmente acreditam nisso.

E acreditam... Vejo patuás de todos os gostos, para todo lado, inclusive tem uma pingente de pimenta no meu pescoço. Ouço histórias, que me parecem absurdas, mas demonstram a fé das pessoas no inexplicável, no sobrenatural. Cartas, búzios ou tarô são para mim tudo a mesma coisa: expressão da crença em algo que não se pode ver e esperança em um futuro bom ou, pelo menos, melhor do que o agora.

É essa esperança que fazem as pessoas jogarem semanalmente na mega-sena e fazerem planos para o prêmio que até hoje não apareceu. Como diz o Gui, esse é o psicólogo mais barato que existe. Pensar no que fazer com o dinheiro, no que você compraria, para onde iria, onde moraria deixa qualquer um feliz ainda que momentaneamente.

Aprendi a me responsabilizar mais por minhas escolhas e deixar menos a minha vida à mercê do acaso.  Eu escolho para onde quero ir, faço planos e traço meu futuro. Claro que, de alguma forma, às vezes, as coisas saem um pouco do controle e eu me vejo um pouco espectadora da minha própria vida, fico deixando que os dias passem livremente, como se estivesse na espera por uma solução milagrosa. O único milagre, nesse caso, é retomar as rédeas e trabalhar por mim mesma.

Hoje é sexta-feira. Só por ser sexta, já considero ser um dia de sorte, muita sorte. Ainda mais quando se tem o prenúncio de um fim de semana sensacional pela frente, com visitas, andanças e muita conversa fiada! Assim, dá para pensar no azar, caso ele me assombre, só na segunda, né?

Foto: Reprodução.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Eu realmente dei sorte

Jacqueline Costa



A Bella sempre diz que eu dei sorte. De fato, tenho que concordar que eu realmente dei muita sorte. Vejo os imbróglios em que as pessoas se metem quando o assunto é amor e isso só reitera a constatação da Bella: Eu dei sorte!

Não é fácil encontrar alguém que se enquadre nos parâmetros que estabelecemos ao longo da vida. Até aceitamos flexibilizá-los um pouco. O príncipe já não precisa mais ser tão moreno, tão alto e nem tão sensual. Ou então atenuamos o significado desses adjetivos e constatamos que uma barriguinha aqui ou uma gordurinha ali não descaracterizam o que se entende por sensualidade. Para ser moreno, basta um cabelo escuro. A essa hora, ninguém mais espera que o príncipe tenha tempo para tomar um sol e dourar a cútis antes de me encontrar. A altura também é relativizada, afinal o meu salto pode se adaptar a ele. Tempos em que era ele quem tinha que se adaptar ao meu salto ficaram para trás.

Mas mesmo com tanta força de vontade, é duro constatar que, ainda assim, não está fácil para ninguém. Acho que, em algum momento, todo mundo acaba se questionando ou apenas aplicando algum procedimento de verificação de praxe para ver onde está o erro.

Não há erro. Há desencontros. Conheço tantas pessoas que me parecem almas gêmeas, mas não se encontram. É o que dizem por aí: Não estão no mesmo "time".

É, foi aí que encontrei a sorte: Achei quem estivesse no mesmo "time" e com a mesma disposição para fazer dar certo que eu. E deu certo. Aliás, dei sorte.

Foto: Glades Olivier

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O que há de errado comigo?

Jacqueline Costa



Dia desses, sem contexto, sem nenhum caminho que levasse a esse questionamento, uma amiga me pergunta: "O que é que eu tenho de errado?" Fiquei, por alguns instantes parada, tentado compreender a pergunta. É que há nisso muito mais significação do que aparentemente se vê.

Pensei em alguns possíveis cenários que contribuíssem para a dúvida. Pensei na hipótese (e sempre ela) de um amor não correspondido, o que pode quase sempre e para quase todo mundo ser verdade. A ficha da "sorte no amor" não aparece para todos e, com o passar dos anos, e o repetir de jogadas não tão bem sucedidas provocam, no mínimo, reflexão. Quando as estatísticas, que alimentamos ao longo da vida, nos mostram mais erros do que acertos, tendemos a imaginar que a tendência, quase inevitável, é errar e não acertar.

No entanto, as estatísticas contrastam com a toda poderosa esperança e acabamos, por outro lado, tendo a certeza de que uma hora vai dar certo. Aí, vem a luta contra o tempo e começamos a pensar: "Mas quando isso vai acontecer?" O jeito é se apegar a paciência, mas, em alguns casos, haja paciência...

Achar um amor não é fácil, mas procurar por ele é, muitas vezes, com o perdão da expressão, um saco! Se estou aberta a conhecer alguém e pensando que esse alguém pode aparecer a qualquer momento, preciso fazer "a simpática" o dia todo. Mas não sou e ninguém é assim. Passar batom para ir à padaria é viável, mas "investir o espírito" na mais pura meiguice, boa vontade e simpatia não é não. E aí ela pensa: "Mas eu nem sempre tenho essa disposição! Tem dias em que quero me trancar no quarto, cobrir a cabeça e só ficar esperando que amanhã seja melhor, que eu acorde uma pessoa melhor e mais sociável".

O conflito parece não ter fim e já dá sinais de que o problema é interno. A ansiedade que a gente cria quando o tema é amor parece não caber na gente. Parece fazer com que nosso mundo vá explodir. E a pressão, que as pessoas vêem, criam e nos comunicam, com o avançar dos anos, incomoda. Se o êxito não chega a cavalo, a pé ou mesmo de trem ou de metrô, não há de se falar em culpa por incompetência.

Aliás, não é nada disso. Amor não é uma questão unilateral. É algo que depende de duas pessoas. É aquela coisa: "Quando um não quer, dois não brigam". Não se ama sozinho, não se namora sozinho, não se casa sozinho. Para todas essas coisas, é preciso haver um compartilhamento de objetivos e de emoções.

Acho que, por isso, respondi: "Nada. Não há nada de errado com você. Acho que deve haver com os outros".

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Qual é o meu talento?

Jacqueline Costa



Ainda não sei se tenho talento para alguma coisa ou se tenho talento para coisa alguma. Difícil descobrir isso já adulta, imagina quando se é adolescente e está prestes a definir seu futuro no vestibular...

Vejo agora o quanto aquelas dúvidas eram relevantes. Tanto que tenho vários amigos fazendo uma nova faculdade. Outros que acabaram mudando de curso, de área e de vida antes mesmo de se formar. Mas fato é que todos esses optaram pela mudança, questionando qual seria mesmo o seu talento.

Quando se está olhando para a inscrição no vestibular e com aquela lista de cursos em mãos, dá para imaginar como seria a vida em cada uma daquelas hipóteses. O que ninguém te conta é que, dentro de todas elas, há uma infinidade de possibilidades que só serão descobertas com o passar dos anos, das matérias e dos professores, que sempre relatam uma infinidade de experiências.

Há ainda a possibilidade de se formar e não trabalhar exatamente naquela área. Muita gente usa, ainda que de forma reflexa, os conhecimentos que adquiriu ao longo de anos nos bancos da faculdade, em salas de aula, em bibliotecas e em laboratórios, frustrando os professores, em muitos casos, para trabalhar com outras coisas. Talvez não haja coragem suficiente para mudar de curso no meio do caminho ou não haja necessidade de fazê-lo.

O que quero dizer é que cada um constrói o seu sonho de uma maneira. Cada um descobre, a sua maneira, como trilhar um caminho. Não existe aqui certo ou errado. Alguns descobrem o seu lugar no mundo e se realizam com mais facilidade; outros, chegam à velhice sem saber ainda se possui algum talento.

Mas isso não está associado  à profissão. Talvez torne-se mais evidente ali, porque passamos a maior parte do dia nos dedicando ao trabalho. Muitos realmente se encontram no tempo livre. Tenho tantos amigos que se descobriram exímios cozinheiros. Outros se revelaram astros do rock, do sertanejo ou do jazz. Alguns ainda começaram a correr, a pedalar ou se encontraram em algum outro esporte. Até no ballet, tem gente que depois de grande resolveu arriscar.

Quanto a mim, ainda não tenho a mais absoluta certeza a respeito, mas arriscaria dizer: escrever. Esse talvez seja o meu talento. Não sei se acredito nisso a ponto de pensar que um dia viverei da minha escrita, dos meus pretensos livros. Mas devo dizer que isso alimenta e muito os meus sonhos.

Queria mesmo era passar o dia, escrevendo capítulos de novelas. Para os que me conhecem, nem preciso dizer que meu "muso inspirador" seria Manoel Carlos, que me faria chorar de emoção caso o encontrasse um dia, por acaso, passeando pelas calçadas do Leblon. Não sei se o abraçaria, pediria um autógrafo, tiraria uma foto ou cantaria uma bossa nova. Mas, de fato, qualquer uma dessas coisas levaria em consideração que estaria diante de alguém que sabe bem como combinar as palavras, revelando as mais profundas emoções, que nelas existem. Estaria diante de alguém que realmente tem o talento em que eu acredito.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Espelho, espelho meu

Jacqueline Costa



Era só uma espera. Aguardava no shopping, enquanto meu marido não saía do trabalho. (Aliás ainda estou me adaptando a dizer "meu marido", mas acho uma delícia!) Aproveitava para ver vitrines, apreciar o que posso e especialmente o que não posso comprar, mas que há muito incluí na minha lista de desejos de consumo secretos. Ainda havia umas boas dezenas de minutos para esperar, quando resolvi entrar na Zara e provar algumas peças.

Enquanto eu escolhia, notei que duas adolescentes aproveitavam aqueles últimos dias de férias para fazer compras juntas, bem no fim da tarde. Uma discutia com a outra a respeito das escolhas daquela que estava acima do peso e eu só observava. Certamente, o espelho dessa mocinha era bastante caridoso e carinhoso com ela, que se via com uma silhueta bem mais fina e esguia do que realmente apresentava. Ela escolhia modelos curtos, decotados, rodados. Só aqueles capazes de ressaltar o que ela tinha de pior.

A amiga, preocupada ao constatar o gosto estranho da outra, dava alguns conselhos recheados de bom-senso, mas a mocinha não queria ouvir. Repetia que gostava de roupas assim e que era ela quem as usaria, enquanto apostava em cores e em um mix de estampas das araras da promoção.

O que mais me chamou a atenção é que a amiga preocupada, era das mais magrinhas e eu ficava imaginando como ela ficaria linda com sainhas mais curtas e camisas coloridas ou estampadas, mas ela só buscava vestidões soltos, tipo camisa, que também não eram os melhores para ela. Percebi que havia ali um excesso de conservadorismo desnecessário ou que o espelho a maltratava, já que o corpo dela aceitaria feliz um leque bem variado de opções.

Uma tão gordinha e liberal e a outra, magrinha e conservadora, pensava eu, enquanto saíam ambas da loja felizes com suas escolhas e eu parti para as minhas. Entrei para os provadores com umas 10 ou 12 peças. Dessas, apenas duas me serviram. O meu espelho também não tem sido o meu melhor amigo. Tenho me visto bem mais gorda do que realmente estou e só escolhia peças com tamanhos anormais para mim.

Definitivamente não sou o que eu acho que vejo no espelho sempre. Quando estou mais sensível, por qualquer motivo, penso que visto 42. Já se acordo de bom humor, me vejo garrada no 38, quiçá 36. Acho que todo mundo tem um pouco dessa inquietação consigo mesmo. Mas mais do que a amiga preocupada e conservadora, quero ser a amiga gordinha, desprendida, livre e feliz comigo mesma.

Foto: Reprodução.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Papa no Brasil

Jacqueline Costa



Na semana passada, o assunto que dominou os noticiários foi a visita do Papa Francisco. Muita gente pode dizer isso ou aquilo a respeito da Igreja, mas a verdade é que é impossível ser indiferente a ele. O mais pop dos papas trouxe muitos mais questionamentos para nós do que os que comumente propomos para contestar a Igreja.

Figura carismática, o senhorzinho fofo conquistou muitos fiéis nessa visita e o respeito inclusive de pessoas de outras religiões. Sempre sereno, ele arrebatou corações quando falou que quem é ele para questionar ou condenar a fé dos gays e conclamou os jovens a serem verdadeiramente revolucionários e, sobretudo, a acreditarem no amor.

Em tempos de relações efêmeras é verdadeiramente revolucionário quem acredita na instituição do casamento, quem quer construir uma família e passar o resto da vida juntos. Eu sou uma revolucionária. Acho que sempre fui, sempre acreditei, apesar de muitas vezes pensar que isso não era para mim, que não ia acontecer comigo. Complexos de inferioridade à parte, o compartilhar a vida e planejar juntos tudo que virá é maravilhoso. Considerar que não sou mais eu, mas que somos uma equipe, muda tudo. Somos nós dois. Temos a nossa vida.

As pessoas também deixaram de lado a fé. Não estou falando da religiosidade necessariamente. As pessoas perderam a fé na vida, no próximo e no amor. Só isso explica comportamentos cada vez mais frequentes de falta de respeito, de caridade, compaixão e de amor ao próximo.

São as nossas crenças que embasam as nossas metas, que solidificam o que buscamos e que definem que sempre queremos um futuro melhor. Todo mundo só espera alguma coisa de um sábado à noite e de viver sempre como se fosse o último dia da vida, como se tudo pudesse imediatamente acabar. E realmente pode, mas sopesar o futuro e o imediato, é preciso. Afinal de contas, não podemos ficar na mão se o tal do futuro chegar.

É preciso acreditar, é preciso ter fé na gente mesmo, nas pessoas e no mundo. É preciso planejar e construir um mundo melhor e que cada um acredite que seu mundo pode ser melhor. É preciso acreditar de verdade, de coração.

O Papa inspirou muito carinho, muito amor em todos esses dias em que esteve no Brasil. Assim como ele, já estou com saudades. Ele, sem dúvida, resgatará muitas pessoas que se afastaram da Igreja, mas, mais do que isso, ele pregará a importância de acreditar e de ter fé especialmente no amor.

Foto: Reprodução.

sábado, 27 de julho de 2013

O que ele me diz

Jacqueline Costa



A pia caiu. Na verdade, o bojo da pia da cozinha caiu. Ninguém pode imaginar o quão difícil é ficar sem pia. Talvez só se compare à falta de geladeira. A solução para o problema era mesmo não sujar nada até que o zelador resolvesse o problema.

Liguei para o Gui. Tínhamos que sair, mesmo com todo aquele frio, porque entre o problema e o conserto da pia tínhamos que jantar e cozinhar sem pia não seria nada prático e usar o tanque, nada higiênico. Combinamos que ele já me pegaria na porta do prédio para agilizar, porque, àquela altura, a fome já apertava.

Nem me arrumei, porque conto com a elegância intrínseca dos casacos e das botas do inverno, para deixar um pouco de lado a maquiagem. Trajada para mais uma noite de muito frio, como as que têm nos visitado ultimamente, entrei no elevador, passei só um batom ali mesmo e fiquei tremendo na porta, esperando por ele.

Apenas alguns minutos foram suficientes para que me sentisse um cubo de gelo. Parecia estar descalça, apesar das meias grossas e bota. Meu nariz, mais vermelho do que o da rena do Papai Noel. E eu ali, com meus amigos seguranças do prédio, aguardando ansiosamente a chegada do menino.

Ele chegou! Abraçou-me e me disse, tão carinhoso, o quanto se sentiu feliz quando pegou a chave do carro para voltar para a casa e me encontrar.

O frio instantaneamente passou e eu não conseguia mais parar de sorrir. Era só uma fala, mas para mim, a mais linda declaração de amor do mundo. Fiquei pensando no quanto também me sinto assim. Chegar em casa só não é melhor do que quando ele chega. Tê-lo perto, mesmo que seja de um lado da mesa trabalhando e eu do outro, estudando, é a melhor coisa do mundo para mim.

Acho que eu achei a fórmula do amor. A companhia dele é sempre deliciosa. Gosto quando saímos juntos. Adoro ficar em casa com ele. Encontrar em uma fala ou em um pequeno gesto tanto amor e carinho é o que me faz muito, muito feliz.

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Revolução?

Jacqueline Costa



Tenho ficado calada. Talvez atônita diante de tudo isso que está acontecendo. Eu nunca acreditei de verdade que fosse ver o Brasil se levantando dessa maneira. Nunca esperei ver que assuntos com os quais as pessoas pareciam ter aprendido a lidar e a conviver fossem causar tanta revolta.

Quando não se espera nada, tudo isso que tem acontecido mais se parece com uma revolução. As pessoas ganharam as ruas contra uma série de questões que realmente incomodam, como os gastos com a Copa, a corrupção, a saúde e a educação. É realmente há muito mais motivos para debatermos do que os meros 20 centavos. É bom notar que olhos se abriram, mas talvez as mentes não tenham se aberto tanto.

Tenho visto nos últimos dias as pessoas se rebelando nas redes sociais contra a PEC 37 e a tal da cura gay. Sei que quase todas que demonstraram indignação não se deram ao trabalho de sequer ler esses documentos. Como é que eu posso ser contra o que não conheço? Para mim, é o mesmo que dizer que não gosto daquela comida que nunca provei. Vale ressaltar que a tal da cura gay sequer existe. Basta ler quais foram os artigos e incisos do suprimidos.

O que o projeto de lei pretende suprimir é o parágrafo único do art. 3º e o art. 4º, ambos da Resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia. Vamos a eles:

Art. 3° - Os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados.
Parágrafo único - Os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades.
Art. 4º - Os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica.

Basta ser alfabetizado para perceber que a retirada do parágrafo único do citado art. 3º e do art. 4º não torna o homossexualismo uma doença nem autoriza que os psicólogos promovam a sua cura. Pelo contrário! Se o caput do art. 3º impede qualquer ação tendente à patologização, por um simples exame de lógica, constata-se ser então impedida também a prática de terapias de cura. Para quem quiser ler o Projeto de Decreto Legislativo na íntegra, basta acessar:

Sobre a PEC 37/11, já li bastante a respeito do tema, mas ainda não cheguei à conclusão nenhuma. Desculpem-me os que já se posicionaram, após intensas e acaloradas discussões, mas não vou me precipitar. Sei que atrás dessa PEC há muito mais questões políticas do que se possa imaginar, além, é claro, de o pessoal do MP temer a desvalorização da carreira sem essa atribuição, que tanta visibilidade lhe traz, e de a polícia, por outro lado, buscar maior valorização da sua carreira. Quero pensar e ler mais a respeito para me manifestar a respeito. Não vou entrar nessa onda de que a resposta a respeito do tema é óbvia. Como quase todo mundo, tendo a ser contra, mas, como disse antes, não quero me precipitar. A tramitação e a própria PEC 37 podem ser encontradas no seguinte atalho:

O que quero dizer com isso tudo é que não existe curiosidade pela busca da fonte da informação. As pessoas se convencem facilmente com aquilo que leem em sites de notícias e com o que apenas ouviram dizer. Elas não buscam mais informações e esclarecimentos a respeito dos temas e estão se mobilizando não por pouco, por muito, mas sem entender a fundo os problemas. Pautas rasas, que não especificam as questões e contra o que se posiciona, não levam a nada. A indignação das pessoas deve ser melhor trabalhada, bem como os questionamentos, que elas promovem. Não basta dizer que é contra a corrupção, porque esse tema é tão amplo, que acaba não suscitando a discussão sobre as medidas que podem ser adotadas para combatê-la.

Acho que a inflação e a desaceleração do crescimento mostraram para todos, que já começaram a sentir seus efeitos, que não vivemos no país dos discursos da Dilma. Na verdade, a estabilidade econômica, que vivenciamos nos últimos anos, e o crescimento da classe média, aumento do consumo e entrada de produtos importados, a que não tínhamos tão fácil acesso no país, mascararam, durante algum tempo, tudo que agora vem à tona. A insatisfação, que sempre existiu, explodiu nas ruas nesse misto de "orgulho de ser brasileiro" e "contra tudo que aí está".

Vivemos, na verdade, uma crise de representação. O tal do "você não me representa" é muito maior do que as redes sociais mostram. As pessoas não se identificam com aqueles que foram por elas eleitos. Essa é uma crise do próprio modelo de democracia que adotamos e os protestos dos últimos dias só evidenciam isso, ao contrário do que a presidente disse em seu discurso na sexta-feira, ao afirmar “a força da democracia”. Isso explica para mim a postura dos manifestantes que se colocam contra aqueles munidos de bandeiras de seu partido, seja ele qual for.

Todas as pesquisas apontam para uma insatisfação com o desempenho de nossos representantes. A própria Dilma, na última pesquisa publicada, viu o índice de aprovação de seu governo desabar aproximadamente 10% antes mesmo de as pessoas irem para a rua. O que tem me deixado perplexa diante desses movimentos, que têm eclodido em todo o país, é que eles não possuem lideranças claras. Não se pode afirmar que o Movimento Passe Livre – MPL é responsável por tudo que está acontecendo, até porque na sexta-feira seus representantes disseram que não convocariam outras manifestações por enquanto, visto que o objetivo que era a redução da tarifa tinha sido alcançado, mas os protestos continuaram acontecendo.

Não posso discordar totalmente daqueles que se insurgem contra as manifestações, dizendo que a melhor forma de se fazer uma revolução começa nas urnas. De fato, o que temos visto é que os mais rebeldes agora acabam votando de maneira bem conservadora. Elegem sempre os mesmos representantes e não acompanham o mandato, as discussões, os projetos e nem avaliam se as propostas de governo foram cumpridas ou não antes de votar neles de novo nas próximas eleições. Mudar esse tipo de postura, acompanhar a vida política do país é essencial para quem quer mudar o rumo da nossa história.

O nosso voto é um importantíssimo instrumento de mudança, mas também temos outros e concordo que estamos diante de um momento histórico, quando as pessoas passam a questionar a política, os nossos representantes e os serviços públicos. Gostaria apenas que as pessoas que participam de todo esse processo se informassem mais, lessem mais e discutissem mais antes de levantar qualquer bandeira.

Vai ser impossível não continuar falando sobre isso. Vou precisar de alguns posts para esgotar o tema.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Quem sabe no ano que vem não tem amor para todo mundo?

Jacqueline Costa



Quarta, dia dos namorados. Dia de surpreender, de se declarar, de dizer aquelas coisas guardadas pela correria do dia a dia. Quarta foi dia de amar, dia de fazer as pazes para quem brigou, de olhar com outros olhos para aqueles olhos que te olham todos os dias. Quarta foi dia de amar de verdade, de agradecer mais pelo cartão ou pela cartinha do que pelo presente.

Mas quarta também foi dia de entediar os solteiros com tantas declarações no Facebook, que acreditam que o 12 de junho deveria ser classificado como o dia mais meloso do ano. Muitos desses solteiros, após expressarem ódio na quarta, se jogaram nas simpatias para Santo Antônio na quinta. O santo sobrecarregado talvez não consiga realizar todos os pedidos que recebe até o próximo ano, mas o que vale é a esperança de que o seu esteja entre os primeiros da fila. Se não estiver, no ano que vem, a solução é rezar de novo e esperar que chegue a sua vez!

Tem os mais revoltados, que afogam o santo, o cozinham com feijão e até arrancam o menino, que ele carrega. Tem outros que já se tornaram devotos de Santo Expedito, o santo das causas impossíveis, visto que a situação é julgada como sendo mesmo grave. Alguns, vendo a idade chegar, se colocam como prioridade na lista de problemas que o santo tem por resolver, mas sem saber como é que ele classifica tantos pedidos.

É aquela coisa: Todo mundo quer ter um amor para chamar de seu. Por mais que diga o contrário, que se afirmem como eternos e felizes solteiros, todo mundo quer encontrar alguém com quem possa construir um novo mundo, um mundo dos dois. Todo mundo quer sonhar junto, viver junto, acordar junto e ter alguém para dividir a vida. É muito mais do que só companhia. É alegria, é dedicar-se e cultivar o amor todos os dias.

Eu comemoro o meu encontro com o Gui todos os dias, mas realmente o dia dos namorados demanda por toda minha criatividade, aliada a minha breguice intrínseca, em ação. Adoro corações, balões, camisetas com mensagens românticas e muitas, mas muitas fotos.

Quem sabe, no ano que vem, não presto consultoria sobre como surpreender, que presente comprar e disserto sobre a importância do cartão e das cartinhas de amor para os solteiros de hoje? O amor não tem hora para chegar. Basta aguardar com paciência e um pouco de fé  nessa espera também vale a pena.

Foto: Reprodução.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Sucesso

Jacqueline Costa



Há alguns dias, venho pensando no que é sucesso para mim. É impossível falar disso sem pensar no meu primo-amigo João, que sempre me mata de rir quando esse é o tema. Ele tem uma definição peculiar, que associada a algumas metáforas incompreensíveis para quem não nos conhece, resulta em sucesso sou eu.

Não sou bem sucedida profissionalmente. Não estudei ainda tudo que gostaria. Acabei deixando várias coisas em stand by ao longo da vida e sempre que me lembro delas, penso em quando poderei retomá-las. Tenho medos, problemas e fico triste muitas vezes. Definitivamente, sob essa ótica, não sou bem sucedida.

Mas apesar de todas essas coisas, sou imensamente grata pela vida que tenho, por minha casa, meu trabalho e por ter conhecido ao longo da vida muito mais gente que me trouxe coisas boas do que gente que não valia a pena. Aprendi muito com tudo que vi, com as oportunidades que tive e com as guerras que perdi. Acho que ser feliz sempre, desde a hora em que acordo, é a tônica da minha vida. Isso é sucesso para mim: Ter uma vida deliciosa, um amor lindo, os melhores amigos do mundo, uma família incrivelmente unida e rir muito.

Tem gente que não consegue pensar em sucesso desvinculado de dinheiro. Uma coisa pode realmente ser decorrência lógica da outra quando pensamos apenas no sucesso profissional.  Para aqueles que almejam apenas um golpe certeiro na vida, sucesso também será sinônimo de dinheiro. Mas vamos ficar apenas com a questão do trabalho, porque essa outra dá muito pano para manga...

Acontece que quando imaginamos a vida, normalmente ligamos as coisas boas ao tempo livre, ou seja, a vida parece acontecer apenas quando não estamos trabalhando. De certa forma, devo concordar que há muito mais vida nas férias do que no resto do ano. Mas o que, de fato, quero dizer aqui é que sucesso não se limita ao trabalho e vai muito além. Sucesso é ser feliz. É sentir-se completo. É acordar com alegria e dormir sempre tranquilo por mais um dia em que foi feito tudo que se podia fazer. Sob essa ótica, o João está certo, sou mesmo sinônimo de sucesso.

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Positividade

Jacqueline Costa



Ando tendo pesadelos. Talvez eles expressem os meus medos. Tenho sim! Tenho medo de um monte de coisas. Agora, no caso, meu maior medo é passar os próximos anos adiando outros planos para estudar para um novo concurso e não dar certo. Mas, quer saber? O risco é intrínseco a todo e qualquer investimento, seja de tempo ou de dinheiro.

Sendo assim, só quero positividades! Nem sei se essa palavra de fato existe. Não olhei no dicionário. Apenas fiz uma breve análise da etimologia que eu acho que ela tem. Quero tudo que seja bom. Quero tudo que seja alegre. Quero entrar em um ciclo virtuoso sem fim, em uma espiral de energia boa, bons fluidos, de leveza, de bem-estar.

Quero estudar mais, aprender mais, fazer mais exercícios físicos. Quero aproveitar ainda mais a minha casa e o meu marido e transformar tardes de folga em doces momentos de nós dois. Quero aprender a cozinhar mais pratos, fazer maquiagens lindas e cabelos sensacionais. Quem sabe voltar a estudar Francês?

Quero positividades! Quero energia e fazer diferente muitas coisas que sempre acabam saindo do mesmo jeito. Quero conviver, cada vez mais, só com coisas boas. Quero deixar os problemas e as pessoas-problema para lá e ser cada vez mais feliz! Como diz a Bella, quero cada vez mais sinceridade e objetividade. Não quero fazer média. Isso para mim é o mesmo que mentir. Quero leveza e alegria em cada pequena coisa do meu dia.

Foto: Reprodução.

sábado, 1 de junho de 2013

Quando começa e quando acaba

Jacqueline Costa



No início dessa semana, recebi a visita da Alyne e da Pat, irmã dela. Por mais que elas venham sempre para cá cheias de compromissos, o tempinho que resta para ficarmos juntas é pouco, mas dá para botarmos a conversa em dia e rirmos um pouco.

Falávamos de relacionamentos em geral e de como as pessoas perderam de vista que a vida a dois não significa anular individualmente nenhum deles. Duas pessoas se unem, em prol de um objetivo comum. Normalmente, esse objetivo comum é ser feliz, mas ele acaba se esvaindo e sem que os dois percebam, o relacionamento se torna a busca de comprometimento, de cumplicidade, de amor e de respeito. Ele se torna a busca por coisas que deveriam, na verdade, ser sua base.

É cada vez mais comum ouvir casais dizendo que precisam fazer dar certo. Para isso, muitas vezes, um abre mão da própria dignidade e se submete a verdadeiras humilhações; situações absurdas, fruto de machismo exacerbado, de ciúmes sem fim e de discordância a respeito de tudo. Até o cor do mato passa a ser motivo para as mais vergonhosas brigas.

Ontem, depois de um passeio pelo parque, eu e o Gui paramos para comprar uma água de coco ao lado do estacionamento e tinha lá um casal aos berros, discutindo a relação e expondo todas as vergonhas para quem quisesse ouvir. Fiquei me perguntando que amor é esse? Por que as pessoas que se amam às vezes se tratam como se fossem inimigos?

O pior disso tudo é que é cada vez mais comum ouvir o discurso de que se o namoro está ruim, quem sabe se ficarem noivos resolve? Esse é só o início de uma cadeia de erros sem fim, porque essa decisão em nada muda a qualidade da relação. Pelo contrário! Isso implica em uma série de decisões e responsabilidades que só trará mais discórdia se o casal não estiver em sintonia.

Ficarem noivos não resolve, mas eles acabam resolvendo se casar. Outro erro e o relacionamento continua com os mesmos problemas, que tendem inclusive a só aumentar. Depois que se casam, resolvem ter um filho para, quem sabe, melhorar tudo. Depois do filho, os laços entre eles ficam cada vez mais fortes e indissolúveis, mas isso não garante a felicidade dos dois enquanto casal.

Depois de tudo isso, separar-se é muito mais traumático do que seria lá atrás, quando os dois constaram que o respeito tinha acabado e que faltava uma boa dose de cumplicidade e afeto para fazer dar certo. Esse tipo de história é sempre triste e me faz lembrar o que normalmente ouço do povo de Florestal: "O que é mal começado, é mal acabado".

Depois da conversa com a Alyne e com a Pat, fiquei me lembrando de quantos amigos eu vejo passando por isso. Quantas pessoas levam esse tipo de relação aos trancos e barrancos, mas preferem acreditar que o "antes só do que mal acompanhado" deve ser levado ao extremo. Quantas pessoas passam por situações ridículas, por brigas homéricas e por cenas que ultrapassam qualquer limite quanto ao desrespeito? O pior é ver quem a gente nunca imaginou passar por isso, vivendo uma submissão enorme em nome de um amor, que não reflete o verdadeiro significado da palavra. Quantas vezes já ouvi o relato da preguiça de voltar a procurar alguém e começar tudo de novo, por isso é melhor ficar com quem já se conhece bem, inclusive os defeitos. Mas será?

Bom, cada pessoa faz a escolha que acredita ser melhor para si. Mas para mim acreditar no amor não é engolir cada dia um novo sapo. Não é tolerar desrespeito e nem ficar pensando em como transformar o que é, de fato, imutável. Acreditar no amor é não desistir de encontrar alguém que te complete de verdade, que te respeite e te ame pelo que você é, que confie em você, torça por você e te admire. Acreditar no amor é buscar alguém para ser seu melhor amigo, seu cúmplice, alguém com quem queira dividir a vida.

Que as pessoas acreditem mais no amor...

Foto: Reprodução.