sábado, 4 de agosto de 2012

Dia de jogo

Jacqueline Costa

Na semana passada, diante das reações do Gui, proporcionadas por uma paixão desmedida, com a qual não estou apta para disputar, resolvi escrever um novo post para o site da Julia Petit. O texto, reproduzido abaixo, está disponível no seguinte link: http://juliapetit.com.br/home/dia-de-jogo/



A rotina de todo e qualquer brasileiro é inevitavelmente afetada pelo futebol. Mesmo aquele que não seja o mais fanático dos torcedores ou que sequer tenha elegido um time do coração sofrerá de alguma forma os efeitos disso. Afinal de contas, sempre temos um amigo que não pode participar de nenhum evento na quinta-feira, por exemplo, porque é dia da pelada com os amigos. Outros que nada podem fazer enquanto seu time está em campo, porque volta todas as atenções para a disputa. Há ainda aqueles chamados sócios-torcedores, que estão sempre no campo, com a torcida, empurrando o time. Isso sem contar a comemoração dos campeões, com rojões e foguetes em punho, impedindo o sono do vizinho, que nada tem a ver com isso.

Depois que o Campeonato Brasileiro adotou a regra dos pontos corridos, cada partida é encarada como uma final e os mais pessimistas só se sentem tranquilos após atingirem aproximadamente 40 pontos na temporada, o que os afasta praticamente em definitivo da zona de rebaixamento. Depois de atingida essa meta, todo mundo quer mais: classificar-se para a Copa Sul-Americana, para a Libertadores e, quiçá, lutar pelo título do Brasileirão. Os objetivos sempre mudam, para que haja sempre um bom motivo para torcer, para sofrer, para chorar ou comemorar.

A minha rotina é substancialmente alterada quando o time, pelo qual meu noivo torce, entra em campo, o que pode inclusive ter reflexos após a partida. O resultado pode alterar e muito o humor do menino, que realmente sofre e se chateia com as derrotas e fica radiante com as vitórias. Se vamos ficar sem assunto por algumas horas ou se retomaremos a vida normal, rindo de tudo e de nós mesmos e fazendo planos, tudo isso depende do resultado da partida.

Durante o jogo, qualquer palavra proferida em momento, julgado pelo torcedor fanático, como inoportuno, pode ser duramente reprimida ou até mesmo passar em brancas núvens, como se nada tivesse sido dito. Entre o início e o fim da partida, apenas o certame importa. Qualquer outro assunto que não seja correlato à rodada e ao desempenho do time e do adversário definitivamente não merecem a atenção do torcedor, que passa os 90 minutos atônito e fascinado pela disputa. Um convite para jantar ou para uma festa de amigos muito especiais, o fato de ter comprado os ingressos para um show, que esperávamos há meses, ou uma história muito divertida, a melhor ouvida há tempos e que eu quero contar, nada disso importa.

Mas não é só isso, a alegria do torcedor depende também do resultado do jogo do principal adversário e o melhor cenário possível é a vitória do time do coração e a derrota desse adversário. Lá em casa, infelizmente, não é o que tem ocorrido nas últimas rodadas.

Eu adoro futebol, mas ele definitivamente não exerce sobre mim toda esse poder, toda essa atração, todo esse fascínio, capaz de me anular para o resto do mundo e para todo e qualquer outro assunto durante a partida. E é justamente esse sentimento, que o futebol desperta em seus amantes mais fiéis, que tanto me intriga. Penso que meninos como o meu devem ver seus 11 heróis, com um experiente comandante, duelando com 11 vilões e o seu maior malfeitor, pela musa bola, em busca do gol. Talvez essa visão seja excessivamente romântica para o futebol, mas é a que mais se aproxima do que vejo.

Hoje é quarta, dia de mais uma rodada do Brasileirão. As esperanças se renovam e, depois do jogo, a história sempre pode ser diferente lá em casa, mas uma coisa é certa: o resultado trará alegria para uns e deixará outros, inevitavelmente, descontentes. Empate, coluna do meio e zebra são temas para outras conversas, mas só depois do jogo, viu?


Fotos: Reprodução

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A sua opinião, positiva ou negativa, sobre as minhas palavras sempre é importante para mim. Obrigada pelo feedback e por me ajudar a aprimorar e pensar sobre o que escrevo!