quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Mais um ano

Jacqueline Costa



Mais um ano de vida. E foi muita vida para o último ano... Foi viagem para a Índia, concurso, preparativos para o casamento, lua de mel e ufa! Chegou a hora de viver uma vida de verdade, com dia a dia e sem tantas flores, guardanapos, discussões sobre medidas do vestido, bordados, copos, doces e sem caixas de bebidas empilhadas por todo canto disponível. Depois das listas de presentes, veio a administração dos presentes, o que não foi nada fácil.

Agora, com a cabeça mais vazia e pronta para receber mais Contabilidade, Direito Tributário e Economia, posso me dar ao luxo de, algumas vezes, parar para pensar e concluir o quanto sou privilegiada. Não precisei me desdobrar entre estudo e trabalho até o fim da faculdade. Nasci sem qualquer dificuldade adicional, ouvindo perfeitamente, capaz de andar, falar e aprender. Tanta gente tem ainda que, além das dificuldades do curso normal da vida e dos desafios que ela nos impõe, superar outras que vieram para elas, talvez porque sejam mais fortes.

Ontem eu vi uma mãe muito feliz no ônibus, voltando para a casa com seu filho, que tinha na cabeça vários sinais de cirurgias, usava aparelhos auditivos e tinha muita dificuldade para andar. Pensei na mãe, que acompanhava o filho sem qualquer sinal de amargura e que demonstra tanta paciência e amor com ele. Em relação ao filho, constatei que a vida foi bem menos generosa com ele, que tem várias dificuldades adicionais para superar antes das dificuldades normais por que todos passam, do que comigo.

Hoje vi uma mãe contando como descobriu um câncer no olho do filho e que enquanto passavam por um longo tratamento, que terminou com a retirada do olho, ela ficou grávida e teve outro menino. Fiquei imaginando na força dessa mulher, enquanto ela dizia o quanto tinha aprendido com a criança em todo esse processo extremamente doloroso.

Esses exemplos que misturam força e doçura são absolutamente inspiradores e me trazem a mais profunda gratidão com a vida. Quando paro para pensar em mais um ano, percebo o quanto sou abençoada, o quanto tive sorte e o quanto sou feliz. Só tenho a agradecer por minha vida, por meu amor, minha família e meu trabalho e pedir que venham muitos outros anos como esse.

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Respeito como linguagem universal

Jacqueline Costa



Dias depois de a menina Malala - aquela que levou um tiro na cabeça por ter divulgado ideias sobre a educação de meninas no Paquistão - voltar aos noticiários, por ter ganho o Prêmio Sakharov, no Parlamento Europeu, eu tenho pensado muito nas diferenças culturais que nos separam. E não apenas em relação aos países árabes, mas também em relação a todo tipo de cultura diferente da nossa.

Seria muito pretensioso achar que a nossa cultura é ideal, perfeita e com base nela poderíamos pensar tudo o que se passa no mundo. É justamente esse o problema quando começamos a debater situações contextualizadas em culturas diferentes da nossa, com base no que pensamos, fruto indissociável da criação que tivemos, da educação que recebemos e dos costumes de onde vivemos. O que quero dizer é que não posso avaliar a cultura de outros países com meus olhos de brasileira, classe média e pós-graduada. A cultura de cada um deve ser pensada em seu contexto.

Obviamente existem questões absurdas diante de qualquer cultura e de qualquer contexto, como a violência física, praticada pelos maridos às mulheres. Li uma reportagem com relatos dolorosos de mulheres que por anos foram violentadas sexualmente por seus próprios maridos, que, em muitos casos, as agrediam e as mantinham presas e sem comida e água por dias. Outro caso é a forte repressão que as mulheres sofrem em países como o Afeganistão e o Paquistão, quando lutam por seus direitos, como aconteceu com Malala. Ou ainda os casos absurdos de mulheres violentadas em plena Praça Tahrir, no Egito, em meio aos protestos contra o presidente Mohammed Morsi. Além desses, há os incalculáveis casos de mutilação genital feminina, praticada em vários países africanos e em alguns árabes. Para não dizer que trato apenas de questões relacionadas às mulheres, também fazem parte dessa lista de desrespeito ao ser humano em qualquer concepção que se adote o número que cresce a cada ano de refugiados africanos, que são expulsos de seus países pela guerra ou por questões políticas e migram para outros lugares. Eles fazem isso para não morrerem e deixam tudo para trás: emprego, casa e muitas vezes até a mulher e os filhos. Convivo com muitas dessas faces inevitavelmente tristes todos os dias, quando vou para o trabalho e passo próximo aos vários prédios do Centro de São Paulo, que abrigam os refugiados.

No entanto, não é a isso que me refiro. Falo de quando julgamos o uso do véu, da burca e de outros costumes tão estranhos para nós, como esses. As críticas, nesse caso, devem ser feitas com base em uma única coisa: respeito. O respeito à diferença deve guiar toda e qualquer discussão. Compreendo que nem todo mundo entenda a simbologia desses elementos na cultura árabe, por exemplo. Entendo também que muitos falam mais do que escutam, do que leem e não têm tanto interesse assim em pesquisar, em buscar compreender como o outro pensa, como o outro age ou com base em que suas decisões são fundamentadas. Mas quando estive por apenas dois dias em Doha, há um ano atrás, pensei muito no assunto e, desde então, trato esses temas com muito mais cautela do que já costumava empregar em qualquer discussão a respeito.

Penso que definição do meu conceito de liberdade pode ser, muitas vezes, tão restritiva, como acreditamos ser o uso da burca. A obrigação que temos de exibir um corpo perfeito o tempo todo leva muitas pessoas a se tornarem absolutamente escravas das dietas impossíveis, da malhação desenfreada e dos suplementos alimentares, que tomados sem orientação trazem mais malefícios, como a sobrecarga dos rins, do que benefícios. Vi um programa sobre uma ex-miss Estados Unidos, que não soube administrar as cobranças para que mantivesse o corpo perfeito e, por isso, acabou descontando toda a ansiedade que isso lhe causava na comida. Ela se tornou obesa, diabética e alcoólatra e entendia ser essa a sua sina. Por outro lado, nos shoppings de Doha, vi mulheres tão ou mais vaidosas do que eu, sentindo-se lindas e absolutamente livres da ditadura da balança por debaixo do véu; liberdade essa que muitas ocidentais não têm.

Querer impor a minha cultura, a forma como eu penso para outra pessoa, que possui outros parâmetros de vida e de entendimento do mundo é, antes de tudo, querer colonizar. É fazer o mundo girar ao contrário para voltarmos ao século XVI, quando se acreditava ser a cultura européia a melhor de todas e, justamente por isso, foi imposta violentamente aos países colonizados. Acredito que esse tempo ficou para trás e hoje o que mais existe no mundo é informação. Então, por que não aprender e compreender um pouco mais a maneira de pensar e de viver do outro antes de pensá-lo apenas com os nossos critérios?

Respeitar as diferenças culturais é ver no outro a possibilidade de pensar e agir diferente de mim. É ver que o mundo não é só do meu ou do seu jeito. É saber que as coisas funcionam, lá longe, de uma forma estranhamente diferente para mim, mas funcionam. De um jeito ou de outro, funcionam. O respeito é uma forma de enxergar o mundo sem lentes e as diferenças são o que o tornam mais colorido.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Seis meses depois

Jacqueline Costa



Já se passaram seis meses desde que dissemos "sim". Fui pega de surpresa quando constatei o fato. Eu queria estar até agora vestida de noiva lá na festa, rodeada das pessoas mais queridas, que tanto torceram por nós. Alguns desde o primeiro segundo estiveram na torcida. Outros deram os nossos primeiros puxões de orelha, preocupados com o nosso relacionamento e com aquilo que estávamos construído. Ali percebi o quanto tinha a agradecer a todos, porque senti, de verdade, que estavam tão felizes quanto nós.

Depois de seis meses, verifiquei também que era hora de parar e escolher as fotos para o álbum e avaliar as mudanças possíveis no nosso trágico vídeo de casamento (a melhor coisa nele é a musiquinha do Programa Amaury Junior, o que me rendeu boas risadas). Rever tudo isso foi para mim como reviver aquele dia lindo. Eu me vi tão emocionada como na hora em que me encontrei com a Raquel na porta da Igreja e pensava comigo no quanto sou privilegiada por tê-la na minha vida, afinal de contas nós compartilhamos toda a organização e estávamos ali, vestidas de noiva, esperando que aquele fosse o dia mais feliz de nossas vidas. Sentíamos as mesmas emoções e nossos corações batiam exatamente no mesmo ritmo. Realmente aquele foi o dia mais feliz de nossas vidas. Se alguém me perguntar se valeu a pena, responderei sem titubear e tão alegre quanto o fiz em frente ao padre: "Sim!" Foi um dia incrível, inesquecível e perfeito para mim.

Quem me vê falando assim, pode pensar que se estou tão nostálgica, é porque me amparo nisso e apenas levo a vida com a mudança do estado civil. Ledo engano. Acho que as descobertas do dia a dia e a alegria do reencontro após mais um dia de trabalho traduzem exatamente o quanto tem sido lindo viver juntos.

O Gui descobriu que o sabonete acaba mais rápido, vidros de xampu procriam e que a motivação para ver o vídeo de casamento varia muito entre homens e mulheres. Eu percebi que o creme dental também acaba mais rápido, que por mais que ele reclame dos nossos vidros de xampu, ele adora os meus importados, e o quanto é mais fácil arrumar a cama em equipe.

Acho que fazer parte dessa equipe faz com que me sinta mais segura, mais unida a ele. É o que nos faz planejar juntos e construir juntos o nosso futuro, que vai além do meu futuro e do futuro dele, também extremamente importantes, mas que são, de certa forma, atenuados pelo "nosso". Mesmo na correria dos nossos dias, encontramos tempo para nos preocupar um com o outro, para ficarmos um pouquinho juntos e para rirmos bastante juntos. Penso que a tradução perfeita para "equipe" é "juntos" e foi delicioso aprender isso nesses últimos seis meses.

Foto: Glades Olivier.



E para o Tuquinho, que sugeriu o post, aprendi também, nesse mesmo tempo, o quanto você faz falta no nosso dia a dia e o quanto me faz feliz lembrar dos nossos dias de sol, verão, bossa nova e Bibi ou mesmo por falar com você ainda que por menos de um minutinho pela internet ou pelo telefone! Já estou na contagem regressiva para a sua chegada!