sábado, 27 de julho de 2013

O que ele me diz

Jacqueline Costa



A pia caiu. Na verdade, o bojo da pia da cozinha caiu. Ninguém pode imaginar o quão difícil é ficar sem pia. Talvez só se compare à falta de geladeira. A solução para o problema era mesmo não sujar nada até que o zelador resolvesse o problema.

Liguei para o Gui. Tínhamos que sair, mesmo com todo aquele frio, porque entre o problema e o conserto da pia tínhamos que jantar e cozinhar sem pia não seria nada prático e usar o tanque, nada higiênico. Combinamos que ele já me pegaria na porta do prédio para agilizar, porque, àquela altura, a fome já apertava.

Nem me arrumei, porque conto com a elegância intrínseca dos casacos e das botas do inverno, para deixar um pouco de lado a maquiagem. Trajada para mais uma noite de muito frio, como as que têm nos visitado ultimamente, entrei no elevador, passei só um batom ali mesmo e fiquei tremendo na porta, esperando por ele.

Apenas alguns minutos foram suficientes para que me sentisse um cubo de gelo. Parecia estar descalça, apesar das meias grossas e bota. Meu nariz, mais vermelho do que o da rena do Papai Noel. E eu ali, com meus amigos seguranças do prédio, aguardando ansiosamente a chegada do menino.

Ele chegou! Abraçou-me e me disse, tão carinhoso, o quanto se sentiu feliz quando pegou a chave do carro para voltar para a casa e me encontrar.

O frio instantaneamente passou e eu não conseguia mais parar de sorrir. Era só uma fala, mas para mim, a mais linda declaração de amor do mundo. Fiquei pensando no quanto também me sinto assim. Chegar em casa só não é melhor do que quando ele chega. Tê-lo perto, mesmo que seja de um lado da mesa trabalhando e eu do outro, estudando, é a melhor coisa do mundo para mim.

Acho que eu achei a fórmula do amor. A companhia dele é sempre deliciosa. Gosto quando saímos juntos. Adoro ficar em casa com ele. Encontrar em uma fala ou em um pequeno gesto tanto amor e carinho é o que me faz muito, muito feliz.

Foto: Reprodução.