quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Tamanhos

Jacqueline Costa



Na semana passada, vasculhando alguns sites de compras pela internet, achei uma camiseta de paetês pretos em promoção. Sempre quis ter uma como aquela! Naquele mesmo instante, o meu senso de oportunidade foi aguçado e eu não me senti enganada pelas forças consumeristas, como normalmente ocorre quando vejo algo, que considero caro demais. Eu pensei que aquela compra me botaria, de alguma forma, em uma posição mais favorável diante do mercado, como se gastar dinheiro pudesse fazer isso. Mas toda mulher sabe explicar o efeito psicológico que uma comprinha carrega em si. A gente até acaba se auto-enganando, ao pensar que gastar dinheiro pode ser, de fato, um grande negócio.

Resolvi pensar um pouquinho mais e, alguns minutos mais tarde, ainda um pouco incerta do que fazia, apertei o botão “comprar”. Começava então a saga de escolha pelo tamanho certo. Resolvi consultar uma tabela de tamanhos, com medidas de cada parte do corpo, para que eu pudesse verificar qual seria a minha medida exata.

Sabia que me enquadraria no P ou no M, mas, naquele instante, não conseguia parar de pensar na fala de uma amiga, a Maria Raquel, uma das pessoas mais lindas e estilosas, que conheço, dissertando sobre a perda de alguns quilinhos. Ela, certa vez, disse: “o problema de quem emagrece é que acha que, a partir de então, cabe em uma latinha de cerveja”.

O meu medo foi tanto de me enquadrar nessa situação, que resolvi exercitar toda a minha humildade e, sem titubear, pensei: “ainda sou G”. Não queria ser aquelas pessoas, que compram roupas apertadas, pensando que depois é só emagrecer e ficará bom, como se isso fosse muito fácil.

Passei, então, a contar os dias para receber a caixa. Acho que o que mais me atrai nas compras online são elas: as caixas. Eu sempre adorei ganhar presentes que vinham assim embalados e é um afago no meu coração pensar que, apesar de ter gastado dinheiro, o produto viria acondicionado dessa forma e que eu poderia abri-la sozinha, como se ali dentro tivesse uma grande surpresa. É quase como se eu realmente não soubesse o que estava ali. De certa forma, a gente sempre quer ver, como no meu caso, se a blusa é legal, se o acabamento bacana e se os paetês não são aqueles ruins que descascam após o primeiro sinal de chuva no céu (aqueles que não esperam nem a primeira lavagem e já estão desbotados).

E chegou! Abri aquela caixa extremamente ansiosa para ver todos esses detalhes. A blusa estava embalada em uma folha de seda muito charmosa, azul de bolinhas brancas, com um adesivo fofo da marca, prendendo o encontro da folha ao meio.

Tirei a blusa, sem estragar a folha de seda (sempre faço isso, mas nem sei bem o porquê, já que nunca mais a usarei). E aí realmente veio a surpresa proporcionada pela minha completa falta de bom senso. A blusa G era praticamente um vestido! Sobrava pano de todos os lados e quase me cabia abraçada com o Gui dentro dela!

Frustrei todas as minhas expectativas e agora sofro uma nova espera. Já enviei a blusa para troca, mas a nova ainda não chegou.

É muito estranho isso. Eu, de fato, ainda não caibo em uma latinha de cerveja, apesar de fazer todo o possível para atingir essa meta. Mas, pelo visto, já perdi por completo a noção dos meus tamanhos. Entro nas lojas e quando sou questionada a respeito, ainda digo “42” ou “G” sem pestanejar. Penso que isso acontece com todo mundo que está vencendo a luta contra a balança. É ótimo se ver menor no espelho, mas quando fechamos os olhos, ainda nos vemos com medidas mais generosas do que aquelas que definem nossas novas formas.

Aos poucos vou me acertando com essa nova e deliciosa realidade. Mas espero ainda me surpreender muito, escolhendo coisas de tamanhos maiores do que os meus, pensando que é exatamente o cabe em mim.

Foto: Reprodução.

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