Jacqueline
Costa
Ontem,
na homilia, o padre falava apenas dos casais que, naquela missa, celebravam 50
e 60 anos de união. Ele contou uma historinha e floreou bastante simplesmente
para dizer que o tempo passa, sem que a gente perceba.
Nunca
paramos para pensar nisso. Não temos tempo para pensar no tempo. Não fazemos
contas. Não contamos os dias e as horas. Isso só acontece quando falamos de
saudades. Quantas vezes passei a semana contando os dias para matá-la? Perdi a
conta. Parei de contar. Simplesmente esperei que logo o reencontro chegasse,
com a sexta-feira.
O
tempo realmente é um tema que me encanta. Quem diria que eu já estou na beira
dos 30? Há dias em que eu me vejo como a menina curiosa da 3ª série, que
pesquisava sobre tudo, que lhe chamava a atenção. Em outros, vejo-me como a mãe
de família, que em uma relação inversa, se preocupa em cuidar da mãe, do pai,
da irmã e agora do Gui e do Luhen. Outras vezes, vejo-me como a menina, que virou
mulher e que descobriu que amar, como eu amo, e ter alguém que também está
disposto a viver o amor, em que eu acredito, é a melhor coisa do mundo. É só o
tempo do relógio que me separa de todas elas. Dentro de mim, vivo simultaneamente
todas essas meninas, todas essas mulheres.
O
tempo passa e quando constato que há dias não falo com alguém, de quem gosto
muito, ligo. E ainda me impressiono quando converso e percebo que parece que
ontem foi uma segunda-feira de “emboríveis”. Parece que não passou tempo nenhum
desde que nos encontramos pela última vez.
Muitas
vezes, a vida nos impõe condições adversas para cultivar uma relação de dia a
dia, mas é o tempo que nos mostra o que existe, de verdade, entre nós. À medida
que ele passa, medimos, pelas saudades e por quão doces são os reencontros,
quem queremos realmente levar para sempre conosco, dividir a vida e quem, de fato,
faz parte da nossa história, dos nossos dias, do nosso tempo.
Quero
cultivar mais relações assim, dessas em que o passar do tempo não deixa marcas,
não deixa nenhuma dor. Pelo contrário, ele nos surpreende a cada reencontro,
como se a nossa última conversa tivesse sido ontem ou apenas há algumas horas.
Foto:
Reprodução.
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