sábado, 15 de setembro de 2012

11 anos depois do 11 de setembro

Jacqueline Costa



Há 11 anos, eu fui para a aula, como todos os dias. Fazia cursinho para o vestibular na época. Eu assisti a aula até quase dez da manhã, quando alguém noticiou que um avião tinha atingido uma das chamadas Torres Gêmeas do World Trade Center.

Pensei na hora que, diante da proibição de vôos sobre a ilha de Manhattan, tinha acontecido algo realmente grave. Por mais que formulasse várias hipóteses, nenhuma contemplou com perfeição a magnitude do que estava acontecendo. Não tinha, naquele momento, a capacidade de mensurar o chamado maior atentado terrorista de todos os tempos.

Quando voltava para casa, lembro-me que parei na porta de uma loja de eletroeletrônicos. Muitas pessoas fizeram o mesmo e todos observavam incrédulos aquelas cenas. Durante algum tempo pensei que as mesmas imagens estavam sendo excessivamente reprisadas. Concentrei-me e percebi que o avião vinha agora do lado oposto e que, portanto, não apenas um avião, mas dois atingiram aqueles prédios. A partir de então, já não imaginava mais que aquilo tinha sido um acidente.

Botei-me à caminho de casa. Nem que eu quisesse, diante de tudo isso, conseguiria me concentrar nas outras aulas. Na época, meu dia era bastante longo, com aulas de manhã de todas as matérias e de Português e Redação na parte da tarde.

Cheguei em casa e lá estavam meus amigos, estudantes de Relações Internacionais, dissertando para a minha irmã sobre a grandiosidade daquilo que estava acontecendo. Lembro-me de que enquanto ouvia as notícias sobre um terceiro avião lançado contra o Pentágono e sobre um quarto, que caiu na Pensilvânia, após os passageiros lutarem com os sequestradores, eles falavam sobre soberania, segurança internacional e projetavam o impacto de tudo aquilo na economia mundial.

Eu só conseguia pensar nas pessoas. Não saía da minha cabeça a imagem daquelas que pulavam não de encontro à morte, mas por constatarem que, naquele cenário, não havia perspectiva de resgate e que o chão era quente demais. Elas pulavam, sem esperanças, por preterirem o fato de que, se ficassem, não conseguiriam respirar por muito mais tempo.

Via uma quantidade enorme de folhas e páginas, que iam pelos ares. Aquela chuva de papel trazia consigo o trabalho de tantos, os sonhos, o suor, os planos e marcou para sempre a história.

Eu, que estava começando a sonhar de fato, que tinha escolhido uma profissão e me dedicava por uma vaga em uma das melhores universidades do país, pensava em quanta gente viu a vida desmoronar com aquelas torres. Filhos se tornaram órfãos. Pais ficaram sem seus filhos. Esposas tornaram-se precocemente viúvas. E a vida para eles nunca mais voltaria ao normal. A maior parte dessas pessoas nunca pôde enterrar seus entes queridos, porque eles nunca foram encontrados em meio aos destroços de mais de 100 andares de cada edifício e dois aviões. Elas receberam apenas caixinhas com restos do local, para que pudessem apenas celebrar um enterro simbólico.

Além de um imenso buraco no chão, as cinzas, a terra e a areia, que restou, deixou o mundo perplexo diante de tanto ódio e de tanta crueldade. Aliás, independente da cultura e da crença, esses dois substantivos (ódio e crueldade) possuem a mesma amplitude de significação. E eu nunca pensei que um dia os veria cultivados com tanto extremismo.

Não discuto a política americana, o desrespeito do país à soberania de outros povos e nem a questão econômica envolvida. Refiro-me apenas à falta de amor ao próximo, à noção de que, independente de nacionalidade, raça e religião, qualquer outro ser humano é tão ser humano quanto eu. Falo realmente da proporção inimaginável de expressão do ódio, que foi aquele 11 de setembro.

Agora, 11 anos depois, estou aqui. Construí uma carreira, escrevi a minha história, sou a noiva mais apaixonada do mundo e continuo estudando. Confesso que só constatei que todo esse tempo se passou há poucos minutos. Depois de pensar e escrever tudo isso, sempre que as imagens daquele dia me vêm à cabeça, sinto o mesmo aperto no peito, a mesma angústia e a mesma aflição, que senti naquele dia.

O tempo passou e a vida seguiu, mesmo para aqueles que perderam alguém no World Trade Center e que pensou que não sobreviveria à dor daquele dia. O tempo passou para os filhos, que ainda estavam na barriga, naquele instante, e que nunca terão a oportunidade de ganhar um abraço do pai. Passaram-se 11 anos.

Mas aquele dia, que marcou a história, nunca será esquecido, bem como os inocentes que entraram nas Torres Gêmeas para apenas mais um dia de trabalho e que nunca mais saíram dali, além dos que fizeram seu último vôo em vida. Eles eram personagens comuns, com histórias comuns, como a minha. Eles não se tornaram heróis ou mártires. Eles definitivamente não tinham o intuito de, naquela manhã, dar a vida por uma causa. Mas acabaram se tornando a parte mais triste de toda essa história. Não só nessa data, mas por toda a eternidade, todos eles merecerão o nosso respeito e um pouquinho do nosso silêncio.

Foto: Reprodução.

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