segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Jogos Paraolímpicos de Londres

Jacqueline Costa

Depois das Olimpíadas, muitos nem se lembram de que acontecem os Jogos Paraolímpicos. Em Londres, eles foram disputados entre os dias 29 de agosto e 09 de setembro e trouxeram gratas surpresas e lindas histórias para contar.

Paraolímpicos sim! O Comitê Paraolímpico Brasileiro adotou a aberração “paralímpico”, passando para Comitê Paralímpico Brasileiro, para se aproximar do termo em inglês paralympic. Em Portugal, já se dizia Comité Paralímpico. Isso mesmo! Além de ser “paralímpico”, o “comité” deles possui acento agudo.

Pasquale Cipro Neto já esclareceu que o prefixo “para” significa, segundo o dicionário Houaiss, “junto”, “ao lado de”, “ao longo de”, “para além de”. No caso, os jogos são paraolímpicos, porque são disputados à semelhança dos jogos olímpicos.

Considerando a formação do termo, ela é similar a de palavras como hidrelétrico/hidroelétrico, socieconômico/socioeconômico. Nesse caso, a vogal do primeiro termo pode ser retirada, mas nunca a do segundo. Sendo assim, admitiríamos parolímpico ou paraolímpico, mas nunca paralímpico.

Depois desse desabafo, só para reiterar a minha recusa quanto à utilização errônea do termo (errônea sim!), posso dizer o que pretendia com esse post.

Os jogos olímpicos são a expressão mais clara do que significa o termo superação. Superar marcas, bater recordes e vencer são os objetivos de todos os atletas, que deles participam. Eles precisam superar seus limites físicos e psicológicos para obter os resultados, que almejam. São anos de dedicação e treino para revelar-se o melhor atleta do mundo apenas em uma fração de segundos. Uma batida de mão, uma passada, um lance, um chute, um gol são elementos que podem levar o atleta às lagrimas de alegria pela vitória ou pelo amargo sabor da derrota.

Mas no caso dos jogos paraolímpicos, a superação seja talvez a marca mais aparente das disputas. Além de todos os desafios intrínsecos à vida esportiva, antes mesmo de se tornarem atletas, os praticantes das modalidades em disputa já tiveram que superar vários problemas relacionados à deficiência, com que convivem.

Muitos se perguntariam como enfiar o cadarço no tênis se eu não tivesse as mãos. Outros questionaram como pensar o mundo e tudo que está em volta, caso não pudesse vê-lo. Outros ainda não conseguem imaginar como é viver sobre uma cadeira de rodas num país como o nosso, em que a acessibilidade é ainda um tema novo e que definitivamente ainda é muito pouco respeitado.

Alguns outros, antes mesmo de formularem tantos “POR QUEs”, tantos “SEs” e “COMOs” decidiram que o esporte poderia abreviar-lhes esse período de dúvidas e se tornar, além de uma paixão, uma profissão. Se os atletas olímpicos já enfrentam uma série de dificuldades com patrocínio, treino adequado e apoio do governo (ou melhor, falta de), imagine como deve ser difícil ser um atleta paraolímpico. Mas para eles, que já estão acostumados com dificuldades, essas se tornaram apenas algumas pedras, que eles foram tirando do caminho com dedicação e esforço.

Ao contrário das Olimpíadas, as Paraolimpíadas eram noticiadas sem muita empolgação apenas nos jornais. Não vimos a sua transmissão na TV e os canais pagos que o fizeram, tinham uma cobertura bem ruim da disputa.

No entanto, o Brasil paraolímpico apresentou em Londres a melhor campanha de todos os tempos e cumpriu a meta de terminar sua participação com o sétimo lugar no quadro geral, com 43 medalhas, sendo 21 de ouro, 14 pratas e oito de bronze. Essas vitórias foram conquistadas na natação, no atletismo, bocha, no futebol de cinco, esgrima, judô e no goalball.


Daniel Dias tornou-se o atleta paraolímpico brasileiro, que colecionou mais medalhas na história dos jogos com 15 no total. Das seis provas disputadas em Londres, trouxe seis ouros. Com apenas 24 anos, o nadador certamente estará presente no Rio, em 2016 e terá a oportunidade de ampliar ainda mais essa marca.

Alan Fonteles, o quase desconhecido, que desbancou o ídolo Oscar Pistorius, com uma arrancada espetacular, conquistou o ouro nos 200m e despertou a indignação de Pistorius, em relação às próteses que usava. Alan observava estritamente as regras e o sul-africano se desculpou no dia seguinte, eliminando a imagem de mau perdedor. Nas outras provas, que os dois disputaram, Pistorius chegou à frente do brasileiro e voltou para a casa com outros dois ouros.

Além do sul-africano, a polonesa Natalia Partyka, que nasceu sem parte do braço direito, também disputou as Olimpíadas, o que ela já havia feito em Pequim. Bicampeã paraolímpica no tênis de mesa, a atleta não se incomoda e considera que o assédio a Pistorius é muito maior, por ele disputar as provas no atletismo, muito mais popular do que o tênis de mesa. Agora ela sonha em disputar os dois jogos também no Rio.



Os atletas da bocha também tem muito o que comemorar. Eles trouxeram para o Brasil três ouros e um bronze, sendo que Dirceu Pinto e Eliseu dos Santos consagraram-se bicampeões. A equipe do futebol de cinco, de que muita gente nunca ouviu falar, celebrou em Londres o tricampeonato paraolímpico na modalidade, ao contrário dos campos, em que nunca conquistamos o tão sonhado ouro olímpico. O maratonista Tito Sena também garantiu o ouro para o Brasil.

Uma das imagens mais bonitas dos jogos foi a da deficiente visual, Therezinha Guilhermina, que, após o tropeço e queda de seu guia, jogou-se na pista e o ajudou a levantar para que os dois cruzassem juntos a linha de chegada. A recompensa veio no dia seguinte, em que a atleta levou o ouro e quebrou o recorde mundial nos 100m T11 e também venceu os 200m.



Além dessa, outra imagem que marcou as Paraolimpíadas ou a do italiano Alessandro Zanardi, ao conquistar dois ouros no ciclismo paraolímpico. O ex-piloto de Fórmula 1 e da Indy teve as duas pernas amputadas após um grave acidente em 2001, quando corria na CART. Os médicos, que não acreditavam que ele sobreviveria, já que ele chegou ao hospital com menos de um litro de sangue no corpo, assim como todo o mundo, o aplaudiram de pé. O homem que esteve entre a vida e a morte, agora sem as duas pernas, adaptou-se e dedicou-se ao ciclismo e agora estava no ponto mais alto do pódio. Depois de Londres, em busca de novos desafios, ele cogita inclusive retornar à Indy.


Histórias como essas são comuns às paraolimpíadas. Para aqueles que não convivem diretamente com ninguém que seja uma inspiração, como essas, e que faça com que inevitavelmente repensemos a vida, os jogos são uma grande oportunidade para isso.

Eles chegaram ao fim em Londres. Foram encerrados ontem, com show de Coldplay, Rihanna e Jay-Z. Comandaram a festa brasileira para receber a bandeira paraolímpica Carlinhos Brown e os Paralamas do Sucesso, com Herbert Viana, que ficou paraplégico após um acidente de ultraleve em 2001.



O Brasil já é, há alguns anos, uma potência paraolímpica. Certamente até 2016 novos talentos surgirão e se juntarão a grandes nomes como Daniel Dias para fazer muito bonito no Rio de Janeiro.

Fotos: Reprodução.

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