terça-feira, 18 de setembro de 2012

O que ele tem a perder?

Jacqueline Costa


Muitos devem estar se perguntando: agora com a decisão do STF, que condena Marcos Valério, pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e peculato, o que ele tem a perder? Há alguns dias, estou na expectativa de que ele conte tudo que sabe, sem censura, sem mais entender que as informações de que dispõe pode lhe trazer benefícios. Por alguns anos trouxe a proteção do PT. Agora, julgado e condenado, não mais.

Antes, Marcos Valério ainda nutria a esperança de que esse julgamento acontecesse num futuro distante e incerto. Ele esperava que politicamente o governo conseguisse postergar o máximo possível e que, quando acontecesse, terminasse sendo absolvido por falta de provas. Mas não foi o que aconteceu.

O STF entendeu que não havia, de fato, argumentos factíveis que justificassem o adiamento por mais tempo do julgamento. Seus ministros perceberam que estavam diante da causa mais importante, que aquele tribunal recebeu em toda a sua história, e queriam que suas palavras fossem com ela eternizadas. Além disso, eles notaram a importância de uma resposta social, diante de todo o absurdo que o maio escândalo da história política do Brasil contempla. Se não o fizessem, o principal órgão do Poder Judiciário brasileiro inevitavelmente cairia em descrédito.

O STF condenou Marcos Valério e, a partir de agora, o que ele ganharia guardando tudo o que sabe? Nada.

Na sexta-feira, eu e o Gui líamos o blog do Reinaldo Azevedo despretensiosamente, enquanto aguardávamos o início do show do Diogo Nogueira. Só mesmo durante o show parei de pensar no que ele noticiou: a publicação na Veja da entrevista mais bombástica desde a que foi dada por Pedro Collor.

Assim que acordamos, no sábado, o Gui correu para a banca para comprar a revista. Ficamos bastante decepcionados. Era uma reportagem, mas não uma entrevista no formato convencional de perguntas e respostas. De todo modo, afirmou que Lula era o chefe do esquema e que nele, Dirceu ocupava a posição de tenente e tinha conhecimento de todas as operações envolvidas. Sustentou ainda que o mensalão movimentou muito mais do 350 milhões de reais, quase sete vezes o que o Ministério Público apurou. O ex-presidente, ainda segundo a reportagem, recebia pessoalmente todos os doadores clandestinos e, juntamente com Dirceu, encontrou diversas vezes Marcos Valério no Palácio do Planalto. Além disso, disse que Delúbio dormia com frequência no Palácio da Alvorada para movimentar toda a parte financeira do esquema. Por fim, a reportagem afirmou que o intuito do Banco Rural, juntamente com o BMG e com a CUT era fundar um banco, para onde direcionaram os pagamentos dos trabalhadores filiados e ofereceriam a eles empréstimos consignados.

Interessante a reação petista às acusações de Valério. Eles agora sustentam que tudo não se trata de invenção do publicitário, que sabe que vai parar na cadeia e está desesperado. Normalmente eles pediriam a fita para confirmar a veracidade da história. Eles se negaram veementemente durante todo o fim de semana a fazê-lo, mas hoje afirmaram que estudam essa possibilidade.

Desde o estouro do escândalo do mensalão, pudemos concluir vários pontos, mas que nunca foram oficialmente confirmados. Por exemplo, o argumento de que o Lula nada sabia a respeito é subestimar a inteligência até das mais burras das criaturas. Sempre tive a certeza de que isso aconteceu, mas também esperava e ainda espero, que os envolvidos narrem com riqueza de detalhes como ele comandava tudo isso.

Isso pode acontecer em muito pouco tempo. Segundo noticiou Noblat, Marcos Valério gravou a sua versão da história, ainda no segundo semestre de 2005, em quatro cópias. Guardou três em cofres de bancos a que apenas ele e sua mulher têm acesso e enviou a quarta cópia para a cúpula do PT ter a certeza de que ele não estava blefando. Na época, ele temia ser morto ou ir parar na cadeia por muito tempo, deixando mulher e filhos desamparados. Aliás, a esposa do publicitário sabia que se ele desaparecesse ou morresse repentinamente, as três cópias guardadas deveriam ser entregues ao Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo e a O Globo.

Aquele era seu trunfo. E o foi por muito tempo. Só que agora, já não faz mais sentido esconder. Cedo ou tarde, todas as confirmações, que esperamos, aparecerão, seja nessas cópias, na entrevista na Veja ou em qualquer outro meio. Só é triste constatar que aqueles, que têm Lula como herói, não vão deixar de tê-lo por causa de tudo isso. É triste perceber que essa parte da população normalmente não acompanha discussões sobre o julgamento do mensalão ou, os que o fazem, certamente arrumarão uma teoria conspiratória para continuarem nutrindo a esperança de que temos um líder popular puro, ingênuo, incorruptível e quase um mártir trabalhador, chamado Lula.

Foto: Reprodução.

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