terça-feira, 4 de setembro de 2012

Como é ficar longe

Jacqueline Costa


Fiquei pensando naquela questão do tempo relativo, sobre o que dizia no último post, quando descrevi a minha espera pelo show do Diogo Nogueira no sábado. O tempo realmente foi muito diferente nesse fim de semana. A começar por minha ansiedade. Mas isso não foi o mais marcante.

O que realmente me deixou muito impressionada é como a gente se acostuma fácil com uma rotina deliciosa. Foi tudo muito bom, mas também foi muito difícil e estranho para mim passar esses dias sem o Gui. É como se tivesse ficado um mês sem ele. Passamos tanto tempo morando em cidades diferentes, mas desde que vim para São Paulo, nem me lembro mais da aflição e das saudades, que sentia nesses dias. Não gostei muito de recordá-las.

Acho que já disse isso aqui antes. A gente conseguiu perceber que não são os grandes gestos de amor os mais importantes. O que faz da vida a dois ser algo especialmente bom é encontrar o amor nas pequenas coisas. Depois que construímos esse dia a dia, é muito estranho para mim viver dias diferentes desses.

É impossível não sentir falta, especialmente quando se considera que o amor está no abraço de bom dia, no carinho para acordar o outro ou fazê-lo dormir, num café da manhã preparado para o outro, numa ligação inesperada ao longo do dia, só para ouvi-lo, sem, na verdade, ter nada para dizer. O amor está na alegria por chegar em casa depois do trabalho e encontrar o outro esperando. Está em não ter nada para fazer juntos, em rir de tudo e em realmente se divertir juntos. O amor está nessas coisas para as quais muita gente não dá a menor atenção.

Muito precisam de grandes gestos e declarações, de flores, presentes, jantares. É uma espécie do gênero "alto índice de demanda amorosa". Isso consome muita energia e é bastante difícil conciliar essas coisas com trabalho, estudo, academia e tudo que faz parte do nosso cotidiano. Implementar todo esse esforço no dia a dia é quase sobre-humano. Além disso, esses super feitos, de vez em quando, não suprem a necessidade de um pouquinho de amor todos os dias.

Vejo com uma certa frequência que as pessoas querem um amor que as torne o centro do universo, mas as coisas definitivamente não funcionam assim. Canso de ouvir frases do tipo "se ele quiser, vai ter que se esforçar", "eu valho muito e ele tem que me dar valor", "as coisas têm que ser do meu jeito", como se fazer surpresas, declarações e dar presentes o tempo todo afirmasse esse grito estridente de "sim, eu tenho auto-estima". Diria até "eu tenho uma grandessíssima auto-estima". Haja força de vontade e determinação para conseguir implementar essa campanha, essa batalha contínuamente. Qualquer santo acaba perdendo a paciência.

Além disso, nenhum relacionamento é construído com a dedicação apenas de um. Qualquer relação na vida depende de, pelo menos, duas pessoas. (No amor, por mais que "duas pessoas" seja o ideal, sabemos que há aqueles que não consideram esse número suficiente e apelam para mais gente nesse contexto, mas agora não é essa a questão). O que quero dizer, nesse caso, é que fazer dar certo depende de esforço e de colaboração mútuos. Nunca entendi porque tem gente que pensa que só um tem que se esforçar e correr atrás. Sempre vi o amor como uma via de mão dupla. Quando um dos fluxos dessa via é interrompido, é porque ali não existe mais amor.

Um relacionamento não é uma temporada de No Limite nem mesmo uma prova de resistência do BBB. Ele deve ser uma coisa leve, em que se deve fazer sim uma série de esforços e concessões pelo outro, mas nada que subjugue aquele que o faz e nada que seja tão desmedido.

Concordo que nesse mundo não é fácil encontrar alguém com a disposição de ser feliz junto com o outro. Mas quando se encontra, acho que jogar fora por exigências, que beiram o orgulho tolo ou o excesso de auto-estima, deve estar fora de questão. A não ser que todo mundo esteja disposto a se submeter ao "casar, nem que seja para passar raiva, só mesmo para não envelhecer sozinho", sobre o que minha madrinha já dissertou algumas vezes. Prefiro a parte mais divertida do discurso, em que ela defende veementemente que não há ética no amor e que é justo, moral e adequado roubar o homem das outras. Para ela, feio mesmo é ficar sozinho. Mas essa história eu deixo para contar depois.

Foto: Reprodução.

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