Jacqueline Costa
Depois de muito susto na noite anterior, saímos de mala e cuia do hotel em Karol Bagh. Íamos para Agra e, na volta, direto para o novo hotel, que conseguimos reservar, conforme indicado pelo amigo do Gui.
A Daria estudou com o Gui e, junto com o marido, ela nos convidou para ir com eles para Agra, cidade em que fica o Taj Mahal. Um amigo indiano tinha indicado para eles um motorista, que nos levaria e passaria o dia todo conosco.
Eu entrei no carro e apaguei! Não tinha dormido direito na noite de puro terror, que tínhamos vivido em Karol Bagh. Era um daqueles carros grandes, de sete lugares, e eu fiquei com o último banco só para mim. A partir daqui, contarei a ida com as palavras do Gui, já que dela não tive a oportunidade de participar intensamente.
Saímos do nosso hotel antes das 7h30' e esperávamos chegar em Agra de duas horas e meia a três horas depois. Infelizmente não tivemos essa sorte...
Existem duas estradas que vão para Agra: uma antiga, que passa por dentro de várias cidadezinhas, com o trânsito indiano de praxe, e uma highway excelente, vazia e bem sinalizada, mas com pedágio.
O senhor motorista, para economizar no pedágio, nos submeteu a uma viagem de mais de cinco horas na estrada velha. A Daria, quando percebeu o que ele estava fazendo, ficou uma onça! Ela gritava, esbravejava, xingava o motorista e o mandava pegar a highway, mas ele foi reticente por bastante tempo.
Em uma das paradas, por causa do trânsito nessas cidadezinhas, cortadas pela estrada antiga, na qual viajávamos, uma moto bateu na lateral do nosso carro, bem pertinho de mim, mas meu sono me impediu de ver o que tinha acontecido... Isso também ocorreu quando o motorista tentou ligar o som do carro, para aliviar a tensão dos passageiros. O botão de ajuste do volume estava quebrado e, sem querer, ele colocou no volume máximo. Isso também não me acordou, deixando a Daria perplexa com meu sono.
A tensão era tanta, que o marido dela não aguentou e começou a vomitar sem parar. Ele era um tipo magro, baixo, de aparência bem frágil e que sucumbia, sem titubear, àquela russa e tanto, que é a Daria. O coitado parecia que ia morrer! Ele ficou tão fraco, que achei que não fosse nem aguentar descer do carro.
Diante de tudo isso, só o Taj Mahal para nos fazer rir de novo (apesar de que eu estava rindo por dentro com aquela viagem quase inacreditável). Por isso, quando chegamos a Agra, ao invés de pararmos antes nos outros pontos turísticos da cidade, fomos direto para o Taj Mahal.
Quando entramos e vimos aquilo, concluímos que tudo tinha valido a pena. É mesmo encantador. É a coisa mais bonita, que eu já vi na vida. Realmente aquilo merece o título de uma maravilha do mundo. Todos nós ficamos arrepiados, entusiasmados e acabamos, mesmo que apenas por alguns instantes, nos esquecendo da ida traumática para Agra.
São minuciosos detalhes esculpidos em mármore. Na verdade, para mim, aquilo é pura poesia em mármore. É uma história de amor, contada para toda a eternidade pelo Sr. Mahal, que resolveu assim se declarar para a Sra. Mahal, sua esposa favorita, que morreu ao dar à luz ao seu décimo quarto filho. O Taj foi construído sobre o túmulo da senhora. Claro que a parte da esposa favorita, a gente adapta para a nossa realidade e continua vivendo um sonho romântico com tudo aquilo a nossa frente.
Só foi uma pena descobrir que o Sr. Mahal, que teve a ideia brilhante, não pararia por aí, se ele não tivesse sido deposto por um de seus filhos. Ele pretendia construir para ele, para o seu túmulo, um Taj igualzinho, porém preto, do outro lado do rio, que passa atrás do Taj original. É, essa maravilha do mundo poderia ser até mais completa. Acho que fomos nós que saímos perdendo com esse golpe de estado aí...
Voltamos para o carro, rumo às outras atrações de Agra. Só não contávamos com o fato de que o carro não ligaria. Indianos de toda parte se uniram para empurrar. Tentaram fazer pegar no tranco, ligação direta, mas nada deu certo. O jeito foi acionar o mecânico mais próximo. Mais de duas horas depois e com a conta do mecânico paga por nós, o jeito foi voltar para Delhi.
Eu nem fiquei tão chateada assim. Afinal de contas, voltar para o Brasil sem conhecer o Taj Mahal é que seria realmente muito frustrante... Pronto! Missão cumprida! O Menino já tinha a sonhada foto naquela maravilha do mundo com a camisa do Cruzeiro, como ele tinha sonhado.
De volta a Delhi, combinamos que ficaríamos no hotel em que a Daria estava com o marido e, de lá, pegaríamos um táxi para o nosso novo hotel. Obviamente quando fomos pagar a viagem, solicitamos um abatimento no preço por causa das horas que perdemos na estrada velha, do carro quebrado e da conta do carro, que pagamos. O motorista não quis aceitar. Ligamos para o chefe dele e para o indiano, que nos tinha indicado esse senhor, mas nada foi resolvido.
Muito cansados e com a maior fome do mundo, já que o que comemos o dia todo foram os itens do regime (barrinha de cereal e biscoito integral), deixamos com a Daria o valor que achávamos justo e pegamos o táxi para o nosso hotel. Na saída, o Gui ainda conseguiu ver o motorista de tocaia com um outro homem, que deve ser o chefe dele.
No dia seguinte, soubemos pela Daria que ele não quis receber o pagamento e foi cobrar do nosso amigo indiano, com quem nos encontramos novamente em Udaipur e pudemos fazer o acerto direitinho. No fim das contas, essa viagem ainda saiu bem baratinha e apesar da confusão, o que ficou para a gente foi a vista do Taj Mahal, do que a gente nunca mais vai se esquecer.
Fotos: Jacqueline Costa
Jackie, imaginar a ida ao Taj Mahal já é sensacional, com seus textos viram um sonho mesmo. Mas, a melhor parte é a imagem do Cruzeiro resplandecendo em frente àquela maravilha do Mundo!!!!
ResponderExcluirDidi
Sabia que ia gostar da Nação 5 Estrelas, como diria o Gui, no Taj Mahal! Ele guardou a camisa durante a viagem para esse dia... Bjos, Didi!
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