segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dividindo as tarefas

Jacqueline Costa



Eu e o Gui escolhemos dividir a vida e ter a nossa casinha. A partir de então, foi necessário muito mais do que amor. São muitas tarefas, que demandam esforço e um verdadeiro trabalho em equipe. Costumamos dizer que somos uma equipe. Cada um faz uma parte, ajuda como pode, para que todas essas tarefas sejam cumpridas com êxito.

Quem nunca morou fora de casa, não faz ideia de quantas decisões e iniciativas são necessárias por dia. Nós, sem entender nada sobre boa parte desses assuntos técnicos, já tivemos que resolver coisas sobre iluminação dos cômodos, decoração e organização. Não é fácil incluir na correria nossa de cada dia esses temas, mas os encaramos como "é o que temos para hoje".

Tivemos que comprar uma nova geladeira. Depois, um novo liquidificador e uma nova máquina de lavar. Tudo isso foi necessário após os antigos quebrarem. Tem entrega, instalação e o trabalho de nos livrar do item velho. Teve também a manutenção corretiva dos pés das cadeiras da sala, quando a marcenaria já é uma profissão rumo à extinção. Às vezes, temos ainda que nos lembrar da necessidade de aspirar os sofás, por causa da alergia.

Toalhas ficam velhas. Os lençóis que temos são insuficientes, quando recebemos visitas. Temos que comprar outros. Mais travesseiros reserva e colchões infláveis já aguardando o preenchimento da capacidade total da casinha para receber os amigos. Taças para vinho e  alguns utensílios domésticos, que não podem aguardar o casamento, também tiveram que ser adquiridos. Ainda tem as compras mensais de material de limpeza e dos alimentos e idas semanais ao sacolão.

Quem me dera fossem só compras... Os serviços são muito mais difíceis de lidar. Já sofremos muito para conseguir uma manutenção para os vidros da varanda. A migração do telefone do Gui até hoje ainda não foi concluída com êxito. Temos que estipular as tarefas diárias da moça, que trabalha aqui para a gente, para facilita a organização do trabalho dela. Temos ainda que organizar nossos guarda-roupas, dividindo os espaços e avaliando a necessidade de tudo aquilo que temos e guardamos.

Tudo isso dá trabalho, exige tempo e muita disposição. Para alguns casais isso será uma eterna fonte de discórdia à medida que apenas um se responsabiliza pela execução de tudo isso. Para mim e para o Gui, são coisas chatas, mas imprescindíveis. São chatas para nós dois e por isso, não apenas um merece carregá-las sozinho. Nós então as dividimos.

Desenvolvemos com o tempo uma técnica sem regras, mas em que há a divisão das tarefas. É custoso em termos de esforço e de tempo e nenhum de nós dois tem tempo de sobra. Eu tenho que aproveitar cada minuto, que tenho livre, para estudar. O Gui também nunca tem  tempo de sobra. O que faz a nossa técnica dar certo é mesmo o carinho que imprimimos em cada uma dessas coisas. Nós as encaramos como coisas importantes para a nossa casa, para o nosso espaço e vamos resolvendo cada uma delas com alguma dedicação e com muita paciência.

Todos os dias vão surgir novos afazeres, mas sabemos que temos um ao outro para dividi-los. E é nessa hora que descobrimos que dividir é também somar. A parceria, em todas essas coisas, aumentam a nossa cumplicidade e descobrimos o quanto tudo isso tem de carinho e de cuidado intrinsecamente. Nesse momento, relativizamos qualquer esforço ou raiva que tenhamos passado com essas coisas.

É delicioso viver isso! É mesmo! Mas vejo muita gente planejar a vida sem sequer mencionar a existência de tarefas domésticas, que podem ser demasiadamente desgastantes. Ouço muitas histórias, mas poucas são as pessoas que têm consciência disso. Começar uma vida a dois pode ser simplesmente delicioso para os que sabem amar e dividir para multiplicar esse amor.

O problema é que muitos não imaginam que o conto-de-fadas tem muitos detalhes que não aparecem nas páginas dos livros. Nunca há uma lixeira aberta nem roupas sujas. Nunca faltam talheres na cozinha nem Vanish na lavanderia. A geladeira nunca se esvazia e toda noite há um jantar e um bom vinho a sua espera. Ainda que você seja uma princesa, rodeada de serviçais, ainda surgirão tarefas e é justamente quando a execução se torna muito difícil e concentrada em apenas um dos dois, que o príncipe vira sapo.

Foto: Reprodução.

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