segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Nunca confie em blogs de viagem sobre a Índia ou seja (in)feliz em Karol Bagh

Jacqueline Costa




Vista da Jama Masjid Mosque. Mas as rua de Karol Bagh não eram lá muito diferentes.

Depois de um almoço delícia com alguns amigos indianos do Gui, embarcamos de Mumbai para Delhi. Vôo atrasado e algumas horas no aeroporto não foram capazes de tirar a nossa alegria. É uma delícia passar o tempo com o Gui, seja viajando, passeando ou em casa, sem nada para fazer, porque a gente se diverte muito, quando estamos juntos.

Ainda no aeroporto comprei um presente de Natal para ele. Ele achou um outro mais legal do que o que eu comprei. Troquei pelo outro, que ele julgava melhor, e o menino parecia uma criança de tanta alegria com seu novo brinquedo tecnológico!

Chegamos em Delhi e pegamos um táxi. Já tínhamos ali nos acostumado com a logística indiana: Vários carregadores ao lado das esteiras, querendo carregar nossas malas por algumas rúpias, vendedores, que vendem de tudo e taxistas, que não falam inglês.

Aliás, essa foi uma das maiores quebras de paradigma da minha vida. A gente estuda na escola que o inglês é um dos idiomas oficiais da Índia e tem em mente que todo mundo lá fala algum outro idioma oficial, além do inglês, é claro. Definitivamente, isso não é verdade. Só os ricos, que tiveram a oportunidade de estudar em boas escolas, e as pessoas ligadas ao turismo, que trabalham em hotéis, lojas e nos pontos históricos das grandes cidades, falam inglês. Na verdade, todo mundo se comunica pelo hindi e suas variações.

Em Delhi, pegamos o táxi, já mais acostumados aquele trânsito maluco, rumo ao hotel em Karol Bagh. O Gui escolheu esse hotel com base no que os blogs de viagens para a Índia aconselhavam. Eles diziam que se você não for mochileiro, o que definitivamente não é o nosso caso, deve ficar em Karol Bagh. E lá fomos nós!

Notamos que o táxi estava rodando demais, fazendo curvas demais e entrando em ruas estranhas e vielas bem estreitas. De repente, as ruas já não tinham mais asfalto, apenas terra batida (isso não é incomum nas grandes cidades indianas). Havia montes de lixo por toda a parte e moradores de rua, dormindo em torno de fogueiras. Os que estavam acordados, reviravam o lixo. Era tudo bem parecido com o lixão do Nilo e da Mãe Lucinda.

O táxi parou e esperávamos que tivéssemos encontrado uma ilha limpinha e acolhedora em meio a toda aquela confusão. Quando chegamos no quarto e abrimos a porta do banheiro, compartilhamos uma enorme vontade de chorar. Somos adeptos do simples, sem chilique, mas limpinho. É só do que precisamos. Mas aquele banheiro não tinha a menor condição. Baldes sujos no banheiro, uma banheira inacabada, faltava reboco em boa parte das paredes e as toalhas pareciam lonas de caminhão. Era realmente inabitável. Estávamos no "No limite" no meio do lixão de "Avenida Brasil"!

A primeira reação do Gui foi ligar para um amigo dele de Delhi, que nos convidou para um jantar com outros amigos em comum. Aceitamos! Afinal de contas, precisávamos de dicas sobre um lugar minimamente habitável naquela cidade e com um quarto disponível para nós.

Pedimos um táxi na recepção do hotel. Eles nos disseram que custaria 1500 rúpias. Sabíamos que era um verdadeiro roubo, mas não tínhamos saída. Precisávamos chegar naquele jantar! Víamos nisso a nossa salvação. Sério! A gente precisava sair dali o quanto antes possível.

Mas antes, ainda tínhamos um embate com o pessoal da recepção, que não queria nos devolver os nossos passaportes para sairmos. Como diria o povo de Florestal, "vê lá" se eu ia sair dali sem meu passaporte, com a minha cara de estrangeira, naquela terra estranha, em que nem todo mundo fala uma língua, que eu entenda... Depois de ter que ser um pouquinho, digamos, enérgica, estávamos com nossos passaportes em mãos e prontos para o jantar com os amigos do Gui.

O taxista nos pegou no hotel e o sujeito não falava nem uma palavra em inglês. À medida que ele passava pelas ruas próximas, mais assustados nós dois ficávamos. Para piorar, não mais que de repente, ele parou, sem qualquer explicação, em uma rua totalmente escura com uns cômodos feitos com aquelas madeiras de tapume. Ali além de um bar com uma chapa para o churrasquinho local, que fazia uma fumaça sem fim, parecia funcionar alguma coisa como uma banca de jogo do bicho. Homens estranhíssimos estavam lá e o nosso taxista foi conversar com alguns deles.

A minha vontade era sair correndo dali, mas essa era, sem dúvida, a pior decisão. Eu via o pânico nos olhos do Gui e tudo o que eu tinha a fazer era tentar manter a calma, controlar meu coração, que queria sair pela boca, e as minhas mãos trêmulas, apesar de aquela ser a cena mais assustadora de toda a minha vida. Naqueles minutos, em que estivemos parados ali, um monte de coisas, todas ruins obviamente, passaram em nossas cabeças. Tráfico de pessoas? Não. Acho que já passamos da idade para isso. Arrancariam nossos rins? Talvez. Afinal de contas, somos jovens, estrangeiros, parecemos saudáveis e não falamos uma palavra em hindi. Podíamos ser facilmente sequestrados. Talvez quisessem só dinheiro. Em todo caso, éramos os reféns perfeitos!

O cara voltou para o carro e eu e o Gui ainda completamente assustados começamos ali mesmo a revelar nossos pensamentos e planos de fuga não efetivados. Segurávamos firme a mão gelada um do outro e resolvemos seguir. O motorista realmente nos levou para o restaurante, em que os amigos do Gui nos aguardavam.

Quando chegamos lá, ainda aterrorizados, recebemos imediatamente uma indicação, que nos parecia excelente. Seguimos a indicação e reservamos o hotel, que ficava pertinho da casa de um dos amigos dele. Era um hotel boutique lindo, chamado Visaya, com um restaurante delicioso e com um pouquinho de conforto imprescindível depois de tanto perrengue.

De todo jeito, antes de irmos para o outro hotel, tivemos que passar uma noite em Karol Bagh, no hotel imundo, no meio do lixão da Carminha. Não me lembro de sentir tanto medo nem quando eu era criança e me deparava com as coisas que eu não entendia. Mas naquela noite, percebi que no meio de todo aquele cenário desesperador, eu não tinha entrado em pânico, porque tinha o Gui ao meu lado. Antes de dormir, naquele dia, ele me deu o abraço mais forte de todos os tempos e me pediu para rezar e agradecer por tudo ter dado certo no fim das contas. Ele me fez sentir segura em seu abraço até que eu dormisse. Não foi nada fácil dormir depois de tudo aquilo, mas a saída daquele lugar estranho e a ida para Agra no dia seguinte nos inspirou.

Mais uma liçãozinha inusitada sobre a Índia: Conforme confirmado pelo amigo indiano do Gui, que nos indicou um novo hotel muito charmoso e bem confortável em Delhi, nunca confie nesses blogs de viagens sobre a Índia! Normalmente os que os alimentam e postam as informações, em que acabamos confiando, quando fomos parar em Karol Bagh, são mochileiros ou hippies, com padrão de exigência e de conforto bastante inferior ao nosso, já que estão em busca de meditação, ioga, do Tibet e do Nepal...

Foto: Jacqueline Costa

2 comentários:

  1. Ai lindona queria tanto ficar neste hostel
    http://www.saarinn.com/amenities.html
    é indicação de uma brasileira
    http://www.viagemparamulheres.blogspot.com/

    mas mewww to tao com um pé atras ... o negocio é ficar msm é em Connaught Place... obrigada pelo alerta!!!

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  2. Deborah,
    Não posso responder por todos os hostels da Índia, mas te asseguro que os que vi, andando na rua, não são nada bons. Todos parecem que estão em prédios meio abandonados, bastante mal cuidados. Aprendi que na Índia, querer economizar com comida e hospedagem pode virar um pesadelo.
    Segue o link do hotel para o qual nos mudamos em Delhi: http://www.thevisaya.com/. Nós até o indicamos para um amigo, que foi para lá depois da gente e ele nos disse que também adorou. O serviço é muito bom, o restaurante, excepcional e os quartos, muito limpos e agradáveis. E a diferença de preço para o hotel pegadinha em Karol Bagh foi muito pequena.
    Bjos e boa viagem!

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