quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Sou assim

Jacqueline Costa




Já conversamos sobre a coisa de as pessoas nas redes sociais nunca serem quem de fato são. Todo mundo é rico, bonito, bem relacionado, passa a vida viajando e os dias na beira da piscina. Ah, se não conhecêssemos os nossos amigos (e, em especial, aqueles que nem são tão amigos assim), passaríamos a crer que todos nós realmente vivemos na Ilha de Caras e já acordamos com um espumante na mão, simplesmente para brindar à vida.

Como "nem tudo que reluz é ouro" e "nem tudo que balança cai", sabemos que, na vida real, tudo é bem diferente. Nem todo mundo é tão bonito quanto parece. Todo mundo acorda com cara amassada. Às vezes, dormimos de maquiagem no rosto. Ir à academia não é tão delicioso como fazemos parecer. Passar um dia na companhia de um bom livro, jogada no sofá e vestindo aquela calça de moletom, não tem nada de glamour, mas é sim uma delícia. Nem todo mundo mora na zona sul. Qual o problema em admitir que moramos bem e que o nosso cantinho predileto no mundo inteiro fica um pouquinho longe? O desapego manifestado em excesso e a felicidade transbordando o tempo todo também não são normais. Não há nenhum problema em se admitir carente e sozinha algumas vezes.

Eu tenho me esforçado bastante para viver uma vida cada vez mais real. Acho que com o tempo, a gente aprende que não há vergonha nenhuma nisso. Todos nós temos fraquezas, não sabemos direito como lidar com a ansiedade nem com o medo. Eu aprendi que sou um misto de sentimentos e que, o tempo todo, vou medindo e achando um lugarzinho para cada um deles dentro de mim. É difícil ser segura o tempo todo. Vivo, algumas vezes, momentos de pânico e de tensão. Eles podem ser amenizados com uma simples ligação para o Eduardo Romeiro me fazer rir ou agravar a situação e, ainda assim, me fazer rir.

Cada vez mais tenho tentado ser eu e escolher o que gosto, não me render ao que não gosto, apenas para não ficar de fora. Estou tentando comprar o mínimo possível e usar mais tudo que tenho. Repito (e muito!) as minhas roupas. Afinal de contas, a maioria delas, eu sei exatamente quanto custou. Não ganho peças de marcas para divulgá-las (bem que eu gostaria!), porque sei que não sou nenhum ícone de estilo e elegância formadora de opinião. Em dias de inspiração, quero me produzir e me sentir linda. Nos dias de preguiça, prendo o cabelo em um coque desestruturado e no rosto, fico só com o protetor solar. Nesses dias, aposto em combinações que já usei e que deram certo, para não ter que pensar no que vestir. Quem disse que tenho que ser impecável sempre?

Eu me sinto gorda demais algumas (ou melhor, muitas) vezes. Mas elegi minhas prioridades e, nesse momento, a academia definitivamente não está entre elas. Decidi estudar e vou dar o meu melhor nisso, sem perder o foco e nem mesmo desviá-lo. Quando essa fase acabar, eu poderei me internar na academia todos os dias após o trabalho. Por mais que saiba que é uma fase, o relativo desleixo com o meu corpo me deixa insegura, mas eu logo penso que essa é apenas uma temporada e relaxo. Retomo o foco, as leituras, cadernos e exercícios, que são as coisas que mais importam para mim agora.

Sou normal. Sou uma mulher como outra qualquer. E acho que todas nós somos bastante assim, por mais que não queiramos admitir, para não afastar o glamour de nós nem por um segundo. Considero que eu não tenho nada de especial. Apenas talvez me enquadre perfeitamente na definição do Gui: Sou um ser binário, que quando não está conversando, está dormindo. Eu apenas ressaltaria uma correção na assertiva: Quando não estou dormindo estou conversando ou escrevendo...

Foto: Reprodução.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Agora falta pouco para o matrimônio!

Jacqueline Costa



O casamento era antes algo que me parecia tão distante. Por mais que sempre tivesse brincado com o tema e desafiado a imaginação até dos mais descrentes no amor, tamanha a convicção das minhas palavras, nunca imaginei que um dia fosse encontrar alguém tão disposto a viver o amor, em que acredito. Nunca pensei que existisse no mundo alguém que acreditasse num amor, em que o  respeito, a cumplicidade e o carinho estão em todas as coisas, permeiam todas as nossas decisões e guiam as nossas escolhas.

Eu achei e quando notei que isso estava acontecendo comigo de verdade, eu me entreguei. Desde então, tudo tem passado muito rápido, mas tudo é tão bom quanto no primeiro encontro. Eu me encho de saudades com apenas um dia longe e uma revoada de borboletas acontece na minha barriga todos os dias à noite, quando ele chega em casa.

Com os preparativos para o casamento, tornei-me muito mais emotiva e acho que até um pouco mais doce. Exatamente por isso, não consigo imaginar, menos ainda conseguiria prever, qual será a minha reação quando estiver na porta da Igreja, com toda a minha família, os meus amigos e o Gui me esperando. Não sei o que vou sentir quando vir também a Kel, a noiva mais linda do mundo, lá no altar. Considerando o meu entendimento de que todo mundo é um pacotinho, que vem com família, amigos e uma história, o meu pacotinho foi bem generoso e eu ganhei uma irmã ainda mais linda por dentro do que por fora, com quem também vou me casar.

É muita felicidade, muita alegria e muito amor para ser expresso em poucas palavras. Viver tudo isso é indescritível. Comentava com a mamãe que, quando fiquei noiva, faltava um ano e agora, restam apenas cinco meses. Vou controlando a ansiedade, que fica evidente, quando percebo que esse tem sido um dos meus temas favoritos.

Acho que se esse casamento fosse só meu e do Gui,  isso tudo ainda assim seria tão marcante e tão lindo para nós. Dividir isso com a Raquel e com o Ricardo, só adiciona ainda mais alegria e mais emoção para esse dia. Tudo vem em dobro. É muito mais empolgante ter com quem dividir cada detalhe, das decisões mais irrelevantes às grandes decisões sobre o tema. É muito mais divertido poder contar com as ideias do Ricardo e com os imbatíveis argumentos do Gui para não fazer o que ele não quer e rebater as quase obrigações, impostas pelos costumes e pelas listas do Cerimonial.

Queria conseguir guardar cada sugestão, cada piada e cada discussão sobre os temas mais engraçados. Acho que se puder fazer isso, terei bons motivos para sorrir sempre que me lembrar da preparação para o casamento.

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dividindo as tarefas

Jacqueline Costa



Eu e o Gui escolhemos dividir a vida e ter a nossa casinha. A partir de então, foi necessário muito mais do que amor. São muitas tarefas, que demandam esforço e um verdadeiro trabalho em equipe. Costumamos dizer que somos uma equipe. Cada um faz uma parte, ajuda como pode, para que todas essas tarefas sejam cumpridas com êxito.

Quem nunca morou fora de casa, não faz ideia de quantas decisões e iniciativas são necessárias por dia. Nós, sem entender nada sobre boa parte desses assuntos técnicos, já tivemos que resolver coisas sobre iluminação dos cômodos, decoração e organização. Não é fácil incluir na correria nossa de cada dia esses temas, mas os encaramos como "é o que temos para hoje".

Tivemos que comprar uma nova geladeira. Depois, um novo liquidificador e uma nova máquina de lavar. Tudo isso foi necessário após os antigos quebrarem. Tem entrega, instalação e o trabalho de nos livrar do item velho. Teve também a manutenção corretiva dos pés das cadeiras da sala, quando a marcenaria já é uma profissão rumo à extinção. Às vezes, temos ainda que nos lembrar da necessidade de aspirar os sofás, por causa da alergia.

Toalhas ficam velhas. Os lençóis que temos são insuficientes, quando recebemos visitas. Temos que comprar outros. Mais travesseiros reserva e colchões infláveis já aguardando o preenchimento da capacidade total da casinha para receber os amigos. Taças para vinho e  alguns utensílios domésticos, que não podem aguardar o casamento, também tiveram que ser adquiridos. Ainda tem as compras mensais de material de limpeza e dos alimentos e idas semanais ao sacolão.

Quem me dera fossem só compras... Os serviços são muito mais difíceis de lidar. Já sofremos muito para conseguir uma manutenção para os vidros da varanda. A migração do telefone do Gui até hoje ainda não foi concluída com êxito. Temos que estipular as tarefas diárias da moça, que trabalha aqui para a gente, para facilita a organização do trabalho dela. Temos ainda que organizar nossos guarda-roupas, dividindo os espaços e avaliando a necessidade de tudo aquilo que temos e guardamos.

Tudo isso dá trabalho, exige tempo e muita disposição. Para alguns casais isso será uma eterna fonte de discórdia à medida que apenas um se responsabiliza pela execução de tudo isso. Para mim e para o Gui, são coisas chatas, mas imprescindíveis. São chatas para nós dois e por isso, não apenas um merece carregá-las sozinho. Nós então as dividimos.

Desenvolvemos com o tempo uma técnica sem regras, mas em que há a divisão das tarefas. É custoso em termos de esforço e de tempo e nenhum de nós dois tem tempo de sobra. Eu tenho que aproveitar cada minuto, que tenho livre, para estudar. O Gui também nunca tem  tempo de sobra. O que faz a nossa técnica dar certo é mesmo o carinho que imprimimos em cada uma dessas coisas. Nós as encaramos como coisas importantes para a nossa casa, para o nosso espaço e vamos resolvendo cada uma delas com alguma dedicação e com muita paciência.

Todos os dias vão surgir novos afazeres, mas sabemos que temos um ao outro para dividi-los. E é nessa hora que descobrimos que dividir é também somar. A parceria, em todas essas coisas, aumentam a nossa cumplicidade e descobrimos o quanto tudo isso tem de carinho e de cuidado intrinsecamente. Nesse momento, relativizamos qualquer esforço ou raiva que tenhamos passado com essas coisas.

É delicioso viver isso! É mesmo! Mas vejo muita gente planejar a vida sem sequer mencionar a existência de tarefas domésticas, que podem ser demasiadamente desgastantes. Ouço muitas histórias, mas poucas são as pessoas que têm consciência disso. Começar uma vida a dois pode ser simplesmente delicioso para os que sabem amar e dividir para multiplicar esse amor.

O problema é que muitos não imaginam que o conto-de-fadas tem muitos detalhes que não aparecem nas páginas dos livros. Nunca há uma lixeira aberta nem roupas sujas. Nunca faltam talheres na cozinha nem Vanish na lavanderia. A geladeira nunca se esvazia e toda noite há um jantar e um bom vinho a sua espera. Ainda que você seja uma princesa, rodeada de serviçais, ainda surgirão tarefas e é justamente quando a execução se torna muito difícil e concentrada em apenas um dos dois, que o príncipe vira sapo.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Black Friday

Jacqueline Costa



Parece que a Black Friday chegou ao Brasil. Pelo menos foi o que os anúncios na TV me prometeram ontem. Até as marcas de carros anunciaram grandes descontos.

Como não estou precisando de nada e nada comprometida com os gastos excessivos, não procurei conferir nas ruas o que, de fato, está acontecendo. Meus colegas de trabalho, estão em polvorosa e só falaram sobre isso boa parte da manhã. Isso me deu uma vontadezinha de, pelo menos, espiar o que está acontecendo.

Procurei, em alguns sites, algumas coisas, pelas quais busquei nos últimos dias. Todas elas estavam com o mesmo preço. A máquina de lavar, a Nespresso, algumas roupas, sapatos, livros e itens para o cabelo e maquiagem, em todos os lugares em que antes havia buscado, tiveram os seus preços mantidos inertes. Quase todas as páginas dedicam um lugarzinho para as promoções. O que está diferente é mesmo a divulgação diferenciada desses espaços nessa sexta-feira. Nada além disso.

Parti para as passagens aéreas e tentei marcar datas dentro do período promocional, mas o site dessas companhias sequer completa a minha busca. Tentei mais algumas vezes, só para culpar a minha conexão aqui e consegui! Nada de preços fenomenais. Quando as companhias fazem aquelas promoções de final de semana, aparecem preços melhores.

Mas nada como alavancar as compras de Natal daqueles que ainda nem receberam o seu décimo terceiro, mas estão cheios de vontade de gastar! As pessoas se sentem atraídas pela promissora economia de alguns reais. Mesmo que ela não seja real, o que importa é a sensação de ter alguma vantagem na negociação do produto. Esse dia me parece ser especial mesmo apenas nas propagandas. Mas o que isso importa? A emoção de correr para o shopping e disputar o último produto da prateleira, faz o consumidor ficar muito mais satisfeito com a sua mais nova aquisição. E o preço não é item obrigatório no quesito satisfação.

Por falar nisso, quando vinha para o trabalho, o moço que andava na minha frente sacou o celular do bolso, ligou e ao ser atendido, disse:

- Bom dia, my friend! Dizem que hoje tem uma tal de "brack frIday"!

Leia-se "friday", com um sonoro "i" da língua portuguesa e com a exata pronúncia da palavra "frigideira". Ali já tinha ganhado o meu dia e como vou dizer que a Black Friday não vale a pena?

Foto: Reprodução.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Como se ter uma boa ideia?

Jacqueline Costa



Nos dois últimos dias, em função de uma viagem para BH, deixei as notícias irem se acumulando no meu Reader. Hoje, enquanto me atualizava e as botava em dia, eu me peguei pensando além das notícias, que ali estavam. Contemplava especialmente os blogs e divagava sobre como é bom poder falar o que penso, sobre as coisas, que me chamam a atenção e sobre o que acho importante, por esse meio.

Sei que nem todo mundo ainda tem acesso à internet, tem computador em casa e pode manifestar a sua opinião sobre tudo, sobre o mundo e sua realidade. Eu posso e me sinto muito privilegiada por isso. Tento fazê-lo da melhor forma possível.

Criei o Toda conversada, sem uma pauta ou uma estrutura definida. Não fui pretensiosa. Queria apenas permitir que outras pessoas tivessem acesso ao que escrevo, às minhas ideias expressas em palavras, que antes eram guardadas só para mim. Se um dia escreverei um livro, se minhas histórias estarão nas prateleiras das livrarias, eu não sei. Posso dizer que me apaixonei pelo desafio de criar e manter o blog, sem uma linha editorial, sem conteúdo definido, nem nada disso. O que me guia são as coisas, que me chamam a atenção.

Agora mesmo estava aqui pensando em quais foram as grandes ideias das pessoas que começaram a trabalhar com a internet nos últimos anos. Os blogs, que leio, em geral, são escritos por jovens, que escolheram um tema e mergulharam nele. Alguns mergulhos mais profundos do que outros, mas todos eles bem sucedidos. Essas pessoas entenderam mais rápido do que outras o potencial das redes sociais e das marcas na venda de suas ideias. Atrelaram uma coisa a outra e o sucesso foi inevitável.

Não conheço a fórmula para uma grande sacada. Isso não existe. Acho que acontece como um lampejo e algumas pessoas, que nele acreditam, acabam se dando bem. O "look do dia" e o "manual make-up" são grandes exemplos disso. Mas a rede já está repleta de pessoas que replicaram essa ideia e já não há espaço para ninguém, que não represente um grande talento, para fazer a releitura desse modelo.

Não sei se sou eu que sou inquieta demais e estou em busca desse lampejo para o blog ou se busco uma boa ideia para desenvolver na vida, em outros meios. Em qualquer caso, continuo fazendo a minha parte. Eu estou sempre lendo e pesquisando. Quem sabe o lampejo uma hora não aparece?

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Bossa

Jacqueline Costa



Depois de o apartamento ao lado ter se transformado em uma marcenaria, tive que adotar medidas para atenuar a minha dor de cabeça e continuar estudando. Os fones, que o Menino me trouxe da América, com noise canceling, não foram suficientes diante do barulho estrondoso. Acho que até motosserra eles estão usando.

Tive que adotar alguns sons que me permitissem estudar e reduzissem o ruído da instalação, que estão fazendo aqui ao lado. Escolhi a bossa nova. Gosto tanto dessa música, que consigo criar histórias, imaginar cenários, mas sempre a tendo como minha trilha sonora favorita. Aliás, não consigo passear pelo Leblon sem cantar alguma música que tenha o "tantantantan" característico.

Essas músicas são muito mais do que trilhas de Manecos, que embalam os amores e desamores de suas Helenas. Elas são atemporais. Muita gente ainda vai se encantar por Tom Jobim, mesmo depois de ter nos deixado, ou virar fã de João Gilberto, sem nunca ter ido a um show seu.

Eu sempre me surpreendo e me encanto com essas canções. Aos meus ouvidos, elas são mágicas. Imagino o Rio de Janeiro e mundo especialmente mais bonitos com elas. Não consigo eleger a minha favorita. Tenho algumas, mas em cada época, torno o meu olhar para uma e, naquele momento, digo que ela é a minha preferida. Posso dizer que tenho um carinho especial por "Wave", "Corcovado", "Desafinado", "Chega de saudade", "Ela é carioca" e "Pela luz dos olhos teus".

Depois de algumas horas de "tantantantan", que tornaram meus exercícios de Contabilidade muito mais doces, é impossível não ver um dia ainda mais bonito do que está. Veja só do que eu estou falando e Play!




Foto: Reprodução (Desculpem-me por ter repetido a foto usada há poucos dias, mas não encontrei nada que demonstre mais a minha sensação ao ouvir bossa nova do que ela).

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=dwLJhBzs-jo

domingo, 18 de novembro de 2012

Cheguei aos 30

Jacqueline Costa



Todos os anos, nessa época, já apresento naturalmente uma forte tendência a pensar na vida, em tudo que fiz, que construí e como foi o ano que passou. O tempo tem passado rápido e me consumido. Quando percebo, mais um ano se foi. Normalmente, as pessoas associam esse tipo de reflexão ao reveillon. Prefiro ligá-la ao dia em que completo mais um ano de vida. Afinal de contas, esse é o meu reveillon.

Gosto de agradecer todos os dias pela dádiva que é viver. O simples fato de acordar cedo e levantar da cama já me enche de esperanças e de alegria. Quando a isso computo o fato de acordo sempre com as palavras mais carinhosas e pacientes do mundo, por mais que me tirar da cama seja, algumas vezes, bem difícil, percebo que tenho muito mais a agradecer do que pedir.

Hoje fiquei pensando que exatamente há um ano atrás eu estava rumo a um dos lugares mais lindos, que já conheci: a Escócia. Assim que voltei para Londres ganhei o que sempre digo que foi o segundo melhor presente da minha vida: a visita do Gui. O primeiro foi o Eduardo Romeiro, quem me deu, quando fez com que o Gui entrasse para a minha vida.

Naqueles dias, percebi que o Gui era mesmo o homem com quem eu queria dividir a minha vida para sempre. A partir de então, fizemos planos, concretizamos alguns deles e estamos rumo ao altar. Com tanto amor, o que mais posso querer? Eu sempre me pergunto isso. A resposta é simples e permeia sempre essa data: Eu ainda tenho muito a realizar. Quero um emprego melhor, quero dar aula, quero ter filhos, quero escrever mais e estudar muito. Quero aprender sempre mais um pouco e não quero deixar de ser curiosa.

Dos 20 aos 30, a gente aprende muito. Eu aprendi a minha profissão, aprendi a amar, aprendi a ser feliz e ver o quanto há de felicidade nas coisas. Eu amadureci. Não tenho mais tanta pressa, porque aprendi a ser mais paciente. Já não tenho mais tanta pressa nem tanta afobação. Sei que as coisas têm seu tempo e já não quero mais transpô-lo. Cultivei amigos e soube discernir os conhecidos daqueles, que quero levar para a vida inteira.

Desfiz laços. Refiz outros. Ganhei uma casinha, um espaço meu e uma vida bem diferente da antiga. A minha forma de mensurar e de avaliar as coisas mudou. Eu sei separar o que quero daquilo que, de fato, preciso. Já não penso tanto mais em comprar. Quero colecionar saberes e sentimentos. Elegi prioridades e, com elas, ganhei grandes responsabilidades e desafios. Mas não pode haver nada mais encantador para mim do que me sentir desafiada e capaz de alcançar o que quiser.

Ainda tenho medos, mas sempre vou tê-los. Eles mudam a roupagem, mas nunca nos deixam. Também não pretendo me tornar totalmente destemida. Sofro algumas vezes. Sinto saudades em outras. Choro e fico "momenta", como o Gui gosta de dizer. Isso tudo só me mostra que sou mesmo mulher, com toda a complexidade intrínseca a essa espécie. Na verdade, sinto o maior prazer em sê-la.

Tornei-me mais vaidosa, mais cuidadosa, mais ativa. Como menos, tento me exercitar mais. Preocupo-me, muito mais do que há dez anos, com a minha saúde. Quero também me ver bonita. Quero me sentir bem para mim mesma. Quero gostar do espelho, ser amiga da balança. Sou muito mais segura e essa é a melhor sensação que encontrei nos últimos anos. É o grande carimbo do meu passaporte para os próximos. Bom, estou pronta!

Diante de tudo isso, completar 30 anos não é um peso. Não tenho vergonha disso. Pelo contrário. Não quero parecer mais nova. Quero saber viver o que cada idade pode me proporcionar. Sei que estou diante das melhores décadas da minha vida. Enquanto me sentir assim, cheia de vontade e animação ao começar cada novo ano, sei que estarei no caminho certo, vivendo a vida do melhor jeito possível.

Foto: Reprodução.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O que faz meus olhos brilharem

Jacqueline Costa



Li essa frase e fiquei pensando no que faz meus olhos brilharem. Acho que a sequência de sensações deliciosas é aberta com o brilho dos olhos, seguido do frio na barriga e finalizada com o acelerar do coração. E quantas e quantas vezes isso tem acontecido comigo... Tentei. Perdi a conta. Não dá para contar.

Quando se é noiva, um mundo novo se abre e os meus olhos passaram a brilhar diante de coisas que nunca antes tinha notado: flores, guardanapos, fotos, cores, modelos, sabores. Tudo me encanta. Não se trata de mania de uma menina romântica. Pelo contrário! Durante anos, eu não acreditei que um dia viveria tudo isso. Tornei-me dura e deixei de dar atenção para coisas simples e encantadoras. Mas agora, são coisas que me tiram o ar.

Olhar para o Gui e reconhecer nele o amor da minha vida, me tira o ar. Não consigo falar sobre ele ou pensar nele sem que os meus olhos brilhem com toda a intensidade. Toda a nossa história, cada pedacinho dela, me faz ter a certeza de que a minha vida mudou sim, mas mudou para muito melhor.

Receber o telefonema de uma amiga, que seja para saber sobre a logística de uma aposta, que ela já não se lembrava direito, para falar do próximo concurso ou só para dizer que está com saudades, é brilho na certa! Ainda que eu tente descrever o que sinto por tê-las comigo, mesmo de longe, não vou conseguir.

Mas há brilho também para os novos desafios que a vida guarda para mim. Quem sabe serei professora? Quem sabe abrirei um negócio? Quem sabe serei escritora? Os meus sonhos  e o desafio de realizá-los realçam o brilho dos meus olhos.

Sonhos e planos. Viagens. Ah, as viagens! Como eu gosto de pensar em cada detalhe, de sentir aquele frio na barriga ao arrumar as malas e de perder o sono na noite que antecede cada uma delas, como se ainda fosse uma criança, esperando, cheia de ansiedade, a excursão no dia seguinte.

Toda vez que olhos brilham, que olhares se encontram, a esperança se renova. Esse é, sem dúvida, um sinal eminente de alegria. E o que mais todo mundo pode querer do que encontrar a felicidade nas pequenas coisas, em todas elas? Pode haver algo mais bonito do que uma boa gargalhada ou do que um sorriso aberto? Não, não há.

Vamos deixar que façam nossos olhos brilharem. Vamos também dar motivos e muitos brilhos para quem está a nossa volta. As declarações de amor e de admiração são brilhos. Motivos para boas risadas são brilhos. Boas conversas são brilhos. E brilho é sempre sinônimo de alegria.

Foto: Reprodução.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Menos de uma semana, uma vida que passou e outra que começa

Jacqueline Costa



Falta menos de uma semana para o meu aniversário. Quando era criança, eu esperava essa data com muita ansiedade. Queria que o tempo passasse logo. Achava que ser grande era muito legal. Era como se eu quisesse que o tempo passasse só para mim, para que eu pudesse alcançar meus primos mais velhos e, quem sabe, chegássemos a ter a mesma idade um dia.

O tempo passou e eu continuo gostando de aniversários. Gosto que as pessoas se lembrem de mim, me liguem, me mandem mensagens de carinho. Gosto de perceber que faço parte da vida delas de alguma forma, que construímos alguns sonhos juntos ou que vivemos juntos momentos, que merecerão destaque para sempre em nossas histórias.

A cada aniversário, mais um aninho colecionado e a vida tem me dado sinais de que anda passando rápido demais. Já avisto a decoração de Natal das lojas e shoppings. Lá em casa mesmo, já montei a árvore.

Esse sinais não são sentidos só com a decoração da época festiva, mas também quando percebo que o meu corpo está diferente. Já não tenho mais a mesma facilidade para emagrecer, como na adolescência. Minha mente também mudou, porque passei a dar importância para um monte de coisas, que sequer faziam parte da minha realidade. Agora, tenho a minha casa, o meu amor e não é só isso. Penso muito na minha carreira, no meu futuro. Quero fazer compras mais conscientes, ser mais econômica e guardar mais dinheiro. Quero também aprender sempre um pouquinho mais, ler mais, estudar mais. Troquei a coleção de Havaianas por uma outra um pouco mais inteligente e útil para mim: a de conhecimentos novos, leituras novas e práticas de vida novas.

Conheci, de verdade, meus grandes amigos. A distância não é capaz de me separar deles, mas ela me mostra quem, de fato, é importante para mim e para quem eu realmente faço diferença. Uma mensagem apenas para contar uma piada, para rir da vida e para lembrar de coisas boas, enchem o meu dia. As dicas sobre coisinhas simples, que posso acrescentar ao casamento e as sugestões de ingredientes e receitas são sensacionais para mim. Mas o que me mata do coração é a ligação apenas para uma conversinha fiada ou para simplesmente dizer: "Estou com saudades!"

O tempo vai passando e passa para todo mundo. A vida muda e as prioridades mudam com ela. Isso faz parte da gente. Fico pensando em quantos amigos já tive, em quantas pessoas com quem convivi e que, por força das circunstâncias, se afastaram. Foram viver a vida e realizar seu sonhos em outros lugares ou de outras formas.

Agora entendo que o mundo é grande demais para elegermos apenas um destino. Tenho o mundo para conhecer e um mundo de coisas para abraçar. Não vou me repetir. O que já vivi, já vivi. Ainda há muito por viver, por conhecer, por descobrir. Há muito lugares e muitos sonhos. E essa é a graça de constatar que o tempo passa. Vejo agora com muito mais clareza o que já fiz e o que ainda quero fazer.

Há experiências que só fazem sentido em determinada época da vida. Isso aprendi com minha segunda graduação. Não tenho mais a menor paciência para aulas, dúvidas, faculdade. Amo estudar, mas estudar sozinha ou com um grupo que tenha os mesmos interesses do que eu e que compartilhe da completa falta de interesse por perder tempo. As calouradas passaram. A presença periódica nas micaretas também. Tenho outras coisas para fazer e outras alegrias por viver.

Não me vejo mais vivendo aquelas mesmas coisas que vivi quando tinha 20 e poucos anos. Agora, meus interesses são outros e também não quero ter ou fingir que tenho 20 e poucos anos para sempre. Estou à caminho dos 30 e não vejo nada de mal nisso. Quero viver com intensidade cada experiência e descobrir como é bom ter mais segurança e mais independência do que quando estava por completar 20. Vou viver intensamente cada momento dessa nova fase a aprender a apreciar todos os sinais, que o tempo me dá, de que está mesmo passando.

Foto: Reprodução.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Foward Obama

Jacqueline Costa



Essa semana, Obama foi reeleito presidente dos Estados Unidos. Para mim, essa campanha foi mais tensa, bem mais difícil do que a anterior, sem aquela euforia marcada pela expectativa de mudança, que os americanos alimentaram após o governo Bush, e era traduzido pela frase: "Yes, we can!" Lembro-me de que camisetas com esses dizeres se esgotaram e o país parou para ver a posse do seu primeiro presidente negro.

Nessa semana, li e pensei bastante sobre o tema. A crise econômica e a oposição no Congresso foram fatores, que reduziram sobremaneira a sua capacidade de atuação em muitos setores. Sem dúvida, as expectativas do povo americano não foram superadas e alguns se viram frustrados diante de tanta esperança depositada em Obama. Isso, por si só, já representava um entrave para a reeleição. Mas ele soube superá-lo.

Obama venceu outra vez. Sua escolha pelos americanos demonstra que eles não imputam a ele a responsabilidade exclusiva por sua atuação no primeiro mandato e que o povo ainda tem alguma restrição em relação à escolha de um candidato não tão conhecido, como Mitt Romney. Por outro lado, Obama representa para os americanos, o que, de certa forma, Lula representa para o Brasil: um homem de origem humilde, que venceu na vida e acabou se tornando, com isso, espelho para muitos. Vamos combinar que o "vencer na vida", no caso de Obama, representa um pouco mais. Afinal de contas, ele é negro, de origem africana e não se restringiu à escola da vida. Cursou Havard.

Essa imagem de Obama explica muito o fato de ter recebido a maioria dos votos das mulheres, dos jovens e dos latinos. Mas não apenas isso agrada a esse público. O posicionamento do presidente, quanto às questões sociais, ao casamento gay, ao aborto e à imigração, foi, a meu ver, decisivo para a escolha desses eleitores.

A partir de agora, o desafio de Obama é superar a intransigência da oposição no Congresso e ter toda a astúcia necessária para concretizar, ao menos, parte das promessas feitas há quatro anos. Ele tem pela frente grandes e decisivas batalhas para o sucesso de seu governo como a economia, questões relacionadas à imigração, o meio ambiente, o programa nuclear iraniano e assegurar que os ganhos obtidos no Afeganistão e no Iraque não sejam perdidos com a retirada das tropas americanas desses países.

Para isso, ele tem os próximos quatro anos. Foward, Obama!



Fotos: Terry Richardson


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Que ansiedade!

Jacqueline Costa



Quando manifesto incessantemente a síndrome das pernas inquietas, minha barriga dói e eu sinto um imenso aperto no peito e borboletas em revoada no meu estômago, estou certa de que o que sinto é ansiedade. Hoje praticamente mergulhei numa piscina cheia disso e não estou conseguindo nadar. Só pratico umas braçadas para cá e outras para lá, mas não me desvinculo do principal tema que ronda meus pensamentos: a espera.

Não consigo sair da página da Fundação Carlos Chagas - FCC nem parar de apertar o F5. Estudo, estudo, estudo e, desde o início da semana, de tempos em tempos, vou até lá para ver se o edital, que espero fui publicado. Concordo que quanto mais tempo para estudar, melhor será, mas à medida que os meses passam e o casamento vai se aproximando, mais apavorada eu fico com a hipótese de essa prova ser no fim de semana do meu casamento.

Estou realmente muito ansiosa e não consigo me conter. Fico "momenta", como o Gui diz, "chorosa", "chatona" e penso a vida inteira na forma de múltipla-escolha. Até no supermercado fico pensando:

"O que falta lá em casa?
a) Suco de laranja;
b) Pão integral;
c) Queijo branco;
d) Arroz integral;
e) Alface."

Ando pelos corredores pensando como enquadraria contabilmente cada item adquirido se fosse uma empresa disso ou daquilo. Na parte dos hortifruti, reflito sobre a safra, o impacto  das chuvas, dos subsídios etc. Fui completamente absorvida pelas disciplinas que certamente farão parte da prova e fico pensando o tempo todo no quanto ainda tenho que estudar.

Desse mal, não apenas os "concurseiros" sofrem. Quem nunca sentiu aquele frio na barriga diante de um momento importante ou de uma escolha difícil? Quem nunca quis que o tempo voasse e um determinado dia chegasse para que ele passasse logo? Quem nunca passou meses sonhando e esperando tanto por alguma coisa de uma forma que fosse difícil viver o presente sem querer estar no futuro?

Isso acontece com todo mundo. O que muda de uma pessoa para outra é a maneira de lidar com a ansiedade intrínseca a espera por algo ou por alguém.

Estamos sempre esperando por alguma coisa. A espera e a esperança por realizar isso ou aquilo só morre com a gente. Eu esperei muito pelo dia de vir para São Paulo. Agora espero por uma prova e pelo casamento. Daqui a pouco, esperarei por uma viagem de férias, por uma mudança de casa, pelos meus filhos. E todos os dias, espero com a mesma ansiedade do primeiro dia aqui, pela chegada do Gui em casa à noite.

A espera sempre tem também um lado bom, um lado gostoso. O problema é que, muitas vezes, é bastante difícil deixá-lo prevalecer, dar a ele o destaque que merece e viver só a ansiedade boa. Mas vou ainda aprender. A cada espera aprendo um pouquinho.

Foto: Reprodução.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Eu vou para a Índia!

Jacqueline Costa




Ontem eu me dei conta de que, em poucos dias, eu vou para a Índia. O dia começou um pouco mais cedo para que eu e o Gui tomássemos a vacina contra a febre amarela, necessária para entrar no país. Aproveitamos e atualizamos todas as vacinas atrasadas: tríplice viral e tétano. Nunca soube que depois de grande tinha que continuar tomando vacinas e acho que muita gente também não sabe, mas de dez em dez anos, essa atualização é necessária.

Fui para o Consulado da Índia solicitar o visto. Lá já identifiquei logo o clima indiano: todo mundo com a cor típica dos indianos, que acho que o pessoal de Florestal usaria com sucesso o termo encardido para designá-los. Todos falando inglês com aquele sotaque, que nem se eu quisesse, conseguiria imitar, mas que faz as palavras parecerem meio quadradas, eu acho. E o melhor: falavam inglês como se fosse um dialeto do leste da África dominado por apenas 200 pessoas. Assim, não tinham o menor pudor de falar sobre as pessoas da sala de espera, os pedidos de visto e os nomes estranhos dos pretensos viajantes, como se ninguém pudesse entender o que falavam.

Na sala de espera, aqueles tapetes gigantes, que me pareceram caros, sofás confortáveis de couro e fotos das figuras ilustres da Índia nas paredes. As pessoas, que esperavam ali, precisaram apenas de uma dúvida sobre o preenchimento do formulário para engatarem um papo bem animado sobre a vida na Índia e no Nepal. Quando olhei para os pés das pessoas de sandálias, apesar das ameaças de chuva em São Paulo, vários anéis de dedos do pé e tornozeleiras. Logo pensei: "Hippies!" E não estava errada.

Em poucos instantes, identificaram um amigo comum, alguma coisa tipo um mestre. Compartilhavam a experiência de tocar nos pés do moço e sentirem uma energia fortíssima, como em forma de ondas, verem o horizonte colorido e tal e etc. Falavam devagar, numa calma que tornava a minha paciência bastante diminuta.

Depois do tema energização com os pés do moço, passaram para a culinária local. Uma das moças lá da sala de espera está escrevendo um livro que correlaciona a comida indiana e do Nepal com o calendário religioso. Em determinadas épocas, alguns itens não são permitidos. Em outras, certos ingredientes são mais do que indicados. Pelo que entendi, isso nada tem a ver com safra e entressafra. O que rege as receitas é o hinduísmo mesmo.

Outra moça contava que tem um grupo de meditação para, segundo ela, oferecer aos paulistanos um espaço de relaxamento e encontro com Krishna. Em seu templo, as pessoas se alijam dos problemas e se tornam mais desprendidas. Penso que todo esse desapego é também um pouco de desapego da realidade. Se qualquer um, que lê o que escrevo, estivesse lá comigo, só de ver saberiam exatamente do que eu estou falando.

Meio chocada com o papo completamente surreal para mim, fui chamada para a entrevista. O meu entrevistador era brasileiro e não tinha qualquer traço de indiano. A minha cara, os brincos e as californianas no cabelo denunciaram a completa ausência de intenções de minha parte de me tornar Hare Krishna, entoar mantras e meditar o dia todo. Por isso, foi simples e rápida a minha passagem por ali.

Mas, por óbvio, como o Gui gosta que eu ressalte, não podia deixar de fazer algumas perguntinhas. Questionei se a concessão de vistos para a Índia era tranquila. O moço me disse que sim, mas que eles têm se tornado mais rígidos, por causa dos estudantes mochileiros, que descobriram o sudeste asiático, passam pela Índia e resolvem ficar lá para sempre com os mantras e a meditação.

Com todo o meu preconceito generalizante, diria que viram hippies e que isso é falta de couro. Pois é... Alguns pais concordam comigo e vão lá buscar os filhos. Só que os meninos insistem no projeto de vida com base no desapego e querem voltar. Nesse caso, o Consulado tem sido mais rígido na concessão dos vistos de turista.

Voltei para a sala de espera e enquanto guardava todos aqueles papéis, sempre necessários para a concessão de vistos, o mesmo grupo prosseguia animado com o papo. Falavam sobre a data de embarque e a ansiedade. Foi quando um moço, que antes já tinha se apresentado como recém-formado em Relações Internacionais (Minha irmã diria que ele ainda não percebeu que RI é como aula de violão. Você deve fazer por hobby, porque emprego nessa área é quase um milagre.), disse que vai primeiro para o Japão, mas chegará à Índia a tempo do dia 21/12/2012, o fim do mundo maia. Todos concordaram que essa data será reveladora e que pretendem estar na Índia quando ela chegar. Posteriormente também anuíram com a tese da moça, que tem o espaço de meditação aqui em São Paulo, que essa data revelará um novo homem. Para eles, será o fim da insustentável estrutura social e humana posta e que todos enxergarão, a partir de então, a necessidade de mudança.

Meu Deus! Foi demais para mim! Eu não espero uma data, prevista no calendário maia, para me tornar uma pessoa melhor. Tento fazer isso todos os dias. E não preciso marcar um encontro com Krishna para exercer a minha fé. É a coisa da onipresença. Não vou falar disso para não corroborar a tese daqueles, que acreditam que se Deus está em todos os lugares, não preciso ir à missa para me encontrar com ele, e não deixar a mamãe e as minhas tias furiosas. Mas, vale ressaltar: Eu rezo todas as manhãs, porque antes de encostar a cabeça no travesseiro, todas as noites, eu já dormi.

Agora é aguardar e ver o que a Índia me reserva, além desses brasileiros, que buscam apenas um encontro mais íntimo com Krishna...

Foto: Reprodução.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Reta final do Brasileirão

Jacqueline Costa



Já estamos mais do que na reta final do Brasileirão 2012. Esse não foi o campeonato mais disputado dos últimos anos, daqueles em que cada gol em toda rodada altera a classificação na tabela, mas algumas peculiaridades merecem menção.

Desde 1999, não me lembro de ter visto o Galo ir tão longe. Não me refiro à classificação final no campeonato e nem a quantas vezes o time encerrou sua participação à frente do seu maior rival, como os atleticanos gostam bastante de enfatizar.

Quero dizer que aquela foi a única temporada em que vi o Galo realmente  disputar o título, o que voltou a acontecer esse ano. Mas todo o desempenho aterrorizante da primeira fase do campeonato não se repetiu na segunda. Poucos são os atleticanos, que viram seu time ser campeão brasileiro, e as coisas, pelo menos em 2012, parecem que vão continuar assim.

De todo modo, o que me chamou a atenção foi como o Facebook se tornou a casa dos mais sobressaltados torcedores. Até mesmo aqueles, que não sabem sequer escalar o time do coração, se manifestam com a maior euforia ou reclamam com o maior vigor sobre o que não foi, mas deveria ter sido. Após os jogos, cruzeirenses e atleticanos, principalmente, só falam dos resultados da rodada. Não há qualquer outro assunto.

Furacão mesmo por essas bandas só é causado pelo descontentamento ou indignação dos torcedores, em relação à arbitragem. Sempre haverá erros e os prejudicados bradarão por justiça. Mas esse ano, realmente os erros foram além da conta.

Mais do que os erros, as manifestações no Face merecem destaque. Algumas engraçadíssimas. Mal posso esperar o fim de cada rodada para ver quais são as mensagens dos mais bem-humorados, como Dinarte Santos. Nem só esses merecem destaque. Discussões, nem sempre recheadas de tanta alegria, também me divertem bastante, como as protagonizadas entre Rafael Amorim e seus amigos. Esse é o lado bom das manifestações  "futebolísticas" na rede social. E como queria que todos os torcedores fossem como eles...

No entanto, há os insuportáveis que não sabem brincar com o tema. Tornam-no uma questão pessoal e provocam, discutem e fazem insinuações o tempo todo. Penso no que será dessas pessoas ao fim do campeonato, porque elas só sabem falar disso o dia todo, sete dias por semana. Será que eles desativarão o Face até o ano que vem? Se o fizessem ad eternum seria um favor a toda a rede.

A vida de ninguém se restringe ao futebol, nem mesmo a desses chatos de galocha. Há muito além disso no dia a dia de todo mundo e no que pode ser extraído, até mesmo das rotinas mais extenuantes. E se só essas coisas lhe chamam a atenção e merecem destaque, é porque sua vida deve ser muito sem graça.

Futebol é um esporte para quem pratica e entretenimento para quem acompanha. Nada além disso. Concordo que durante os 90 minutos, cada gol renova as esperanças de uma torcida e faz com que cada torcedor se esqueça dos problemas. Para muitos, essa é a única diversão, que a vida lhes proporciona e, por isso, esses momentos mereçam tanto crédito. Mas nada justifica a adoção de condutas agressivas e de posicionamentos extremistas, quando o assunto é futebol.

Como em tudo, só há vencedor se houver perdedor. Realmente, "se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado". Queria que todos percebessem, que vencedores e perdedores surgem toda semana, quando novos jogos são disputados. A alegria de um será a tristeza do outro. Isso só até a próxima rodada, quando começa tudo de novo...

Foto: Reprodução.