sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Espelho, espelho meu

Jacqueline Costa



Era só uma espera. Aguardava no shopping, enquanto meu marido não saía do trabalho. (Aliás ainda estou me adaptando a dizer "meu marido", mas acho uma delícia!) Aproveitava para ver vitrines, apreciar o que posso e especialmente o que não posso comprar, mas que há muito incluí na minha lista de desejos de consumo secretos. Ainda havia umas boas dezenas de minutos para esperar, quando resolvi entrar na Zara e provar algumas peças.

Enquanto eu escolhia, notei que duas adolescentes aproveitavam aqueles últimos dias de férias para fazer compras juntas, bem no fim da tarde. Uma discutia com a outra a respeito das escolhas daquela que estava acima do peso e eu só observava. Certamente, o espelho dessa mocinha era bastante caridoso e carinhoso com ela, que se via com uma silhueta bem mais fina e esguia do que realmente apresentava. Ela escolhia modelos curtos, decotados, rodados. Só aqueles capazes de ressaltar o que ela tinha de pior.

A amiga, preocupada ao constatar o gosto estranho da outra, dava alguns conselhos recheados de bom-senso, mas a mocinha não queria ouvir. Repetia que gostava de roupas assim e que era ela quem as usaria, enquanto apostava em cores e em um mix de estampas das araras da promoção.

O que mais me chamou a atenção é que a amiga preocupada, era das mais magrinhas e eu ficava imaginando como ela ficaria linda com sainhas mais curtas e camisas coloridas ou estampadas, mas ela só buscava vestidões soltos, tipo camisa, que também não eram os melhores para ela. Percebi que havia ali um excesso de conservadorismo desnecessário ou que o espelho a maltratava, já que o corpo dela aceitaria feliz um leque bem variado de opções.

Uma tão gordinha e liberal e a outra, magrinha e conservadora, pensava eu, enquanto saíam ambas da loja felizes com suas escolhas e eu parti para as minhas. Entrei para os provadores com umas 10 ou 12 peças. Dessas, apenas duas me serviram. O meu espelho também não tem sido o meu melhor amigo. Tenho me visto bem mais gorda do que realmente estou e só escolhia peças com tamanhos anormais para mim.

Definitivamente não sou o que eu acho que vejo no espelho sempre. Quando estou mais sensível, por qualquer motivo, penso que visto 42. Já se acordo de bom humor, me vejo garrada no 38, quiçá 36. Acho que todo mundo tem um pouco dessa inquietação consigo mesmo. Mas mais do que a amiga preocupada e conservadora, quero ser a amiga gordinha, desprendida, livre e feliz comigo mesma.

Foto: Reprodução.

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