terça-feira, 2 de outubro de 2012

Gracinha

Jacqueline Costa


No último sábado, Hebe nos deixou um pouco órfãos de sua inconfundível gargalhada. Ela é aquele tipo de pessoa que se tornou familiar para nós, mesmo que a nunca tenhamos visto. Talvez porque apesar de ostentar exuberantes jóias, acho que a sua maior marca era a leveza e como via as coisas de um jeito bem simples.

Refiro-me à leveza das pessoas de verdade e que não fazem questão de esconder seus defeitos. É a leveza daqueles, que independente das conquistas alcançadas, ainda são capazes de sonhar com um ídolo, de eleger para si um rei, que no caso dela, foi o Rei Roberto Carlos. É a leveza daqueles que não se escondem atrás de uma cara de nerd bem imponente, que só são capazes de falar sobre "nerdices" correlatas. É a leveza dos que falam sim sobre futilidades, dos que sabem também ser superficiais, sem deixarem de ser inteligentes, dos que apontam para as coisas, em que muitos não veem a menor importância, tratando-as com seu devido valor.

Justamente por isso, ela esbanjava felicidade. Esse tipo de gente, que sabe falar sobre nada, que sabe fazer o tempo passar deliciosamente bem e que não tem a pretensão de salvar o mundo, mas apenas de bater um bom papo no sofá da sala, nos alegra, nos diverte e ameniza qualquer dor. Afinal de contas, quem não gosta de rir até perder o ar por causa de uma simples bobagem?

A alegria contagiante de Hebe e as conversas intimistas, que propunha ao público, fizeram com que se tornasse quase um membro de todas as famílias brasileiras. A cantora, que surgiu na década de 1940, e apresentadora, que posteriormente se consagrou com seu programas de entrevistas, fizeram dela uma mulher muito além de seu tempo, que rompeu barreiras delicadamente e trouxe para a televisão brasileira um toque muito feminino, capaz de encantar as mulheres, que se identificavam imediatamente com o que ela propunha discutir, e os homens, que, não mais que de repente, se viam interessados naquelas conversas no sofá.

Essa foi a receita do sucesso para Hebe: ser feliz e ser ela mesma. Ela sempre foi como quis ser. Sempre viu um mundo melhor do que ele é de fato. Sempre encarou corajosamente os desafios que a vida lhe impôs.

Todo mundo é um pouco Hebe. Todo mundo quer ser um pouco Hebe. E ser Hebe é ou não é um gracinha?

Foto: Reprodução.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A sua opinião, positiva ou negativa, sobre as minhas palavras sempre é importante para mim. Obrigada pelo feedback e por me ajudar a aprimorar e pensar sobre o que escrevo!