terça-feira, 16 de outubro de 2012

Oneomania, a doença do consumo

Jacqueline Costa


Hoje, enquanto tomava meu café da manhã, assistia às notícias dessa manhã de terça-feira. Afinal de contas, diante do previsível caos do trânsito de São Paulo e na iminência de mais uma greve dos metroviários, sair de casa sem essas informações pode ser um risco para o o meu coração impaciente.

O jornal noticiava, que, desde cedo, fiéis lotavam a Paróquia de Santa Edwiges, cujo dia é comemorado hoje. O padre explicava, que as pessoas que estão imersas em dívidas e mais dívidas se socorrem da santa, conhecida por auxiliar a vida financeira de seus devotos. Mas ele salientou, que a Santa sozinha não opera milagres. Cada um tem que fazer a sua parte e ela apenas auxilia os mais desesperados.

Vim para o trabalho, pensando no quanto é comum ver jovens, que não sabem exatamente como lidar com vida financeira, não se preocupam com o futuro, não pensam em poupar e acabam comprando sem pensar em como pagar o novo bem adquirido ou se realmente precisam daquilo. Por isso, continuei lendo mais sobre o tema.

Segundo noticia o Jornal O Globo, a doença, que atinge 8% dos americanos, chegou ao Brasil. É a oneomania. Ela acomete os chamados compradores compulsivos. Um dos sintomas, que apresentam as pessoas que sofrem desse mal, é esconder as compras. Não se trata de um transtorno bipolar ou TOC. A oneomania é uma doença, que demanda um tratamento específico, apesar de muitas vezes vir acompanhada de depressão e entrega ao álcool e às drogas.

A pessoa que sofre desse mal costuma se considerar mão-aberta, até comprometer a renda pessoal e muitas vezes, a de sua família. É comum histórias, como a da entrevistada do jornal, que conta dever três vezes o seu salário. Ela trancou a falculdade, por não conseguir pagar as mensalidades, tem os cartões de crédito estourados e sonha em conhecer a praia, mas não consegue juntar 600 reais para realizar o sonho.

Outro entrevistado narra a perda do negócio, que possuía, e a dilapidação de todo o patrimônio da família. A partir de então, ele percebeu que havia algo errado. Procurou ajuda e, além do tratamento psiquiátrico, a que se submete, frequenta um grupo de devedores anônimos, nos moldes do AA. Segundo eles, alguns amigos do grupo não suportaram a pressão das dívidas e acabaram se matando e um ex-policial matou um credor, que o vinha cobrando com frequência.

Histórias como essa têm se tornado cada vez mais comuns. As pessoas não sabem usar o cartão de crédito e acabam se endividando. A partir do momento em que elas aprendem a conviver com a renda compometida, surge o risco de praticar cada vez mais o consumo desmedido e descompromissado. Muitas pessoas, a partir disso, acabam se tornando compradores compulsivos.

A moda e os lançamentos de coleções e pré-coleções com intervalos cada vez menores estimulam também sobremaneira o consumo. Quantas vezes já ouvimos relatos de pessoas, que compraram peças que nunca usaram? Isso é um sinal de alerta.

A compra pela compra deve ser abolida da vida de qualquer pessoa. Penso que uma coisa que não sai de moda é a compra consciente. Investir em peças, que podem ser usadas em diversos looks sempre esteve em alta. E verificar bem antes de digitar a senha do cartão se aquela nova peça realmente lhe será útil e combina com seu estilo, é fundamental.

Comprar não pode ser encarado como uma terapia e pode, na verdade, acabar saindo muito mais caro do que a sessão de um bom terapeuta. Contei aqui a minha saga com a sandália feia-horrível, adquirida num momento de extrema sensibilidade, no link http://todaconversada.blogspot.com.br/2012/09/sensibilidade-cara.html, mas acabei não revelando o que aconteceu depois. Voltei à loja e tentei reaver meu dinheiro , o que foi em vão. Sem opção, troquei por um sapato preto bem básico, mas sobravam quase 60 reais daquela maldita compra. Tive, então, que investir mais 50 reais na troca por outro produto, que, sem dúvida, não precisava.

Acontece com todo mundo. Então, num momento de fraqueza, acho que o negócio é mesmo se apegar com Santa Edwiges...

Foto: Reprodução.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A sua opinião, positiva ou negativa, sobre as minhas palavras sempre é importante para mim. Obrigada pelo feedback e por me ajudar a aprimorar e pensar sobre o que escrevo!