sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tudo estranho

Jacqueline Costa



Acordei com o despertador. Nem me lembro mais há quanto tempo isso não acontecia... Ele foi substituído pela versão luzinha, desde que me mudei para São Paulo. Versão essa muito mais delicada do que a que normalmente é necessária para me remover do sono mais profundo, que emplaco desde que encosto a cabeça no travesseiro. A luzinha entrou para a minha vida, porque ele se assusta com os barulhos de sirene, que eu usava antes para acordar e ver um novo dia.

Abri os olhos e procurei com as mãos onde ele estava. Constatei que era muito espaço só para mim. Ele não estava. Aquela cama me parece um pequeno latifúndio sem ele.

Fui para o banho. Um banho sem pressa, sem frio, bem sem graça para dizer a verdade. E o pão com queijo e o suco de laranja? Esses tinham o gosto mais estranho, que já experimentei. Era o sabor de se fazer sozinha todas as coisas do dia a dia que fazemos juntos.

As flores laranja da festinha de segunda-feira, que ainda decoram a sala, parecem-me em preto e branco. A vida anda menos colorida e bem mais sem graça, sem piadas, sem risadas, sem música.

Não tenho o terno para guardar, sapato no caminho para tropeçar nem vontades para conciliar. Por esses dias, sou só eu.

Tudo isso parece muito triste, mas, de fato, não é. São só saudades. Saudades sem fim, que parecem que não vão acabar nunca mais. Mas passam, acabam e eu nem vou me lembrar mais delas quando ganhar o melhor abraço do mundo.

Daqui a pouco, ele volta. São só uns dias, que no final das contas tornarão o nosso reencontro muito mais gostoso.

Foto: Carol Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A sua opinião, positiva ou negativa, sobre as minhas palavras sempre é importante para mim. Obrigada pelo feedback e por me ajudar a aprimorar e pensar sobre o que escrevo!