terça-feira, 9 de outubro de 2012

Eleições

Jacqueline Costa



No último domingo, eu vivi a experiência de "servir à democracia" como mesária nas eleições municipais. Eu me tornei mesária voluntária para ganhar os dias de folga do trabalho, que me são bem úteis, mas me surpreendi e descobri que a experiência é muito mais intensa e muito mais gratificante do que isso.

Desde que meus pais se mudaram para Florestal, eu escolhi transferir meu título para lá, onde temos uma participação política muito mais intensa do que em qualquer outro lugar. Meus pais e meus tios sempre têm muito para contar sobre o que acontece na cidade. Sabem do que ela precisa e muito mais do que só criticar, eles também reivindicam e brigam pelas causas, que consideram justas. De carona, eu me sinto muito envolvida com o que acontece por lá. Sei que a participação política deve ser ativa em qualquer que seja o nosso local de residência, mas é muito mais fácil se envolver, discutir e tentar colaborar quando se sente que isso pode realmente influir naquela realidade. É muito difícil não se sentir apenas mais um numa cidade grande.

Eu, minha prima Lorena e muitos outros conhecidos trabalhamos no domingo. Eu fui para uma nova seção, em que a maioria dos eleitores votava pela primeira vez e muitos outros tinham acabado de transferir o título de eleitor para a cidade. Por isso, aquilo ali tinha um ar de novidade para todo mundo.

Como mesária, eu pude notar um fato, para o qual nunca tinha dado atenção. Em sendo obrigatório, o voto iguala todo mundo: ricos e pobres, negros e brancos, os mais estudados e os analfabetos, que optam pelo voto. Ali, na sala, em que eu estava, entravam as mais diferentes pessoas, com o mesmo objetivo: escolher seus representantes.

E, diante de tanta diversidade, deve ser muito difícil ser um deles. Há muito a fazer pelo povo com pouco recurso, pouco apoio, muita divergência política e os problemas a ela inerentes. Lidar com tudo isso não é para mim. Por isso, admiro quem, como meu primo Juninho, encara esse grande desafio com seriedade e honestidade.  Além disso, todo aquele que assume um cargo eletivo tem que ter em mente que se busca apenas um emprego público, deve fazer concurso público e não se candidatar a nada.

Ouvi vários relatos sobre compra de votos e candidatos manipulados, que representariam outro político. Isso era uma coisa muito distante para mim. Eu sempre ouvi dizer que isso acontecia em lugares paupérrimos, em que as pessoas, descrentes de um futuro melhor e buscando melhorar o presente, vendem seus votos. Eu tenho a esperança de que cedo ou tarde esses políticos, que o fazem, sejam punidos pelo desprezo das pessoas nas urnas e pelos tribunais competentes.

Vi vários analfabetos, que não assinam nem o nome. Eles normalmente arrumam uma desculpa para solicitar a tinta para assinar com o dedo. Elas claramente têm vergonha de não deterem o fantástico poder de juntar as letras e por estarem à margem do mundo dos livros, dos cadernos, das canetas. Isso, sem dúvida, foi o que mais me emocionou. Não imagino o que seria de mim sem as palavras. É um vazio angustiante. É se sentir sozinho e completamente isolado no mundo.

Outros tantos jovens demonstravam claramente muita dificuldade para assinar o próprio nome. Isso me remete à discussão pela educação de qualidade nesse país. De que adianta gerar apenas números sobre a melhoria da educação? Números não dizem nada. Analfabetos funcionais, aqueles que leem e escrevem com dificuldade, mas são incapazes de interpretar, de compreender as mensagens intrínsecas às palavras compõem o grupo de alfabetizados nesses números e são empurrados de uma série para a outra, sem qualquer verificação do que realmente sabem. Acredito que não adianta nada conhecer o código, mas não conseguir desvendar o mistério da reunião das palavras.

Não foi um dia marcado apenas pela tristeza dessas constatações. Também reencontrei meus tios, primos e muitos amigos, oportunidade cada vez mais rara, desde que me mudei para São Paulo. Isso sim é fonte inesgotável de alegria e de inspiração para textos bem mais otimistas e bem-humorados. Mas aquele dia foi, sem dúvida, tão marcante, quanto os bons momentos, que já vivi.

Foto: Reprodução.


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