segunda-feira, 30 de julho de 2012

Cilada

Jacqueline Costa

Sabe quando você está de férias, com a cabeça vazia e apta a ter as ideias mais mirabolantes? Pois é... Foi o que aconteceu num verão em Itacaré.



Eu fui com minha irmã e minha prima para a casa da Polli Carvalho. Praias lindas, paradisíacas e ainda bem desconhecidas. Tínhamos o verão e reveillon de 2004 a serem comemorados com a amiga recém-chegada de uma temporada nos EUA e com a família dela.

Aliás, tenho que ressaltar o quanto essa família sabe receber bem: cafés da manhã, almoços e jantares deliciosos, muitas risadas e passeios inesquecíveis. Planejamos pouco mais de uma semana lá e acabamos ficando uns 20 dias.

Em uma manhã, fomos conhecer uma praia há 14 quilômetros da casa da Polli. Quando voltávamos, surgiu a ideia: por que não ir caminhando e apreciando o mar e a brisa? Deixamos bolsa, chinelos, e tudo o mais no carro da família e seguimos para a casa com toda a empolgação de quem gosta de praticar atividade física ao ar livre, mas raramente tem a oportunidade de fazê-lo.

E lá fomos nós. O sol a pino e 14 quilômetros na areia pela frente. Começamos bem empolgadas, mas desde a largada, a minha irmã já dava sinais de cansaço e expressava todo o seu descontentamento com a situação. Ressalto que nos idos de 2004 ela era a mais sedentária das criaturas, justamente porque nunca precisou se preocupar com a forma física, já que a magreza era (e ainda é) um de seus maiores predicados.

Andávamos, andávamos e nada! O pior é que pela praia não dá nem para medir a distância com precisão. Não tínhamos nenhum tipo de equipamento que o fizesse por nós. Não conseguíamos saber se faltava muito ou pouco, mas sabíamos que a única maneira de voltar para a casa da Polli era mesmo andando, já que o caminho era totalmente deserto.

Não tínhamos água potável nem protetor solar. Quando sentíamos a pele queimando, a solução era dar um mergulho no mar. Adotamos algumas paradinhas para descanso na sombra de algum coqueiro e, em seguida, seguíamos com a caminhada.

Aquela paisagem paradisíaca era o nosso consolo, mas deixou de sê-lo quando a areia passou a exercer seus efeitos nefastos na sola dos pés da minha irmã. Nas palavras dela, a areia tinha se tornado pedra pomes quente.

Ela também dizia que as paradas para descanso só prolongavam o sofrimento e que então preferia andar até chegarmos ao destino, sem parar. O sol também queimou os pés da menina que tinha constantemente vontade de chorar, por ter entrado nessa barca furada, e de me matar, por ter tido tão brilhante ideia.

Andamos, andamos e andamos e sempre que pensávamos: "é logo ali", surpreendiamo-nos com novos lugares, novas paisagens e coisas, que nunca tínhamos visto, mesmo fazendo uma caminhadinha todos os dias até o ponto em que nossos olhos alcançavam no horizonte. Ou seja, sempre que achávamos que estava chegando, ainda estávamos a léguas da casa.

Quando avistamos a Polli nos esperando, foi como se estivéssemos encontrado o pote de ouro no fim do arco-íris, mas sem a vibração logicamente correlata a esse momento. Nós não tínhamos forças para qualquer manifestação de alegria e satisfação. Lembro-me que apenas a minha irmã proferiu algumas palavras e foram as seguintes: "Polli, você pode me emprestar seus chinelos?"

E para tratar dos pés da minha irmã, que pareciam bacons assados? Maizena, pomada, água gelada. Como a menina sofreu... Caímos em uma grande cilada, mas ela, sem dúvida, foi a maior vítima.

Eu não mencionei antes, mas isso tudo aconteceu no dia do reveillon. À noite, não havia calçados que pudessem ser usados por ela. A menina não conseguia sequer andar direito! Chuva de espumante não era o que ela esperava da virada, mas chuva de maizena para ver se amenizava a dor das queimaduras.

Sempre que me lembro dessa história, vem imediatamente a minha cabeça um quadro do Fantástico, que se chamava Cilada e, posteriormente, virou filme. Nele, Bruno Mazzeo mostrava como qualquer passeio, viagem ou festinha pode virar um grande pesadelo. Sempre me pergunto por que não escrevi para o quadro, sugerindo essa história.

A mente vazia realmente pode nos presentear com ideias que se transformam em verdadeiras ciladas. E nesses casos, não há nenhum raciocínio sobre prós e contras entre a ideia e a implementação. Mas no fim das contas, essas ciladas acabam se tornando ótimas histórias para a gente contar. E eu coleciono algumas...

Fotos: Reprodução

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