terça-feira, 24 de julho de 2012

Um pouco sobre o que escrever é para mim

Jacqueline Costa


Para nós, simples mortais, escrever não é uma arte. É apenas uma obrigação. Obviamente, não me meto a discutir a educação no Brasil. Não é esse o ponto. Não quero generalizar, dizendo que o brasileiro não sabe escrever, fala errado sem que isso esteja relacionado com regionalismos ou simples interjeições nem nada disso. O que muito me entristece é perceber, que pessoas que tiveram as mesmas oportunidades que eu, que estudaram nas mesmas instituições de ensino e que são tão ou mais espertas do que eu, não dedicam o menor zelo à escrita. Publicam erros, que beiram a vulgaridade, nas redes sociais, como o famoso "de mais" (separado!), redigem ofícios, comunicados e qualquer outro documento oficial, como se estivesse mandando um bilhete, e fazem do "naum" e do "pro/pra" itens obrigatórios na redação. Sinto informar, mas a língua portuguesa não é um chat na internet. Quando somos alfabetizados, assumimos o compromisso de usá-la para nos comunicar, mas usá-la da melhor forma possível. Afinal, por que não podemos nos comunicar bem? A vida social é regida por regras. Por que a língua, a escrita e a comunicação também não podem ser?

Voltando à questão da arte, há pessoas que usam a língua de maneira belíssima, que a dominam e sabem emocionar as outras com as palavras que escolhem. Essas pessoas normalmente não se consideram artistas. Elas apenas possuem mais desenvoltura no domínio da línguagem e, em especial, na justaposição das palavras. É isso que faz tocar. Nós não temos que ter essa pretensão. Eu não a tenho. Escrevo apenas o que sinto e descrevo o que vejo, com um pouco daquele zelo, que há pouco me referi.

Sobre o que escrever, devo dizer que existem pessoas, que escrevem muito bem, mas apenas sobre determinados temas. Se você impuser um tema novo, elas não dão conta. As pessoas excessivamente politizadas, como aqueles hippies do DA da fauldade, costumam ser assim. O que me seduz na escrita é encarar cada novo tema como um novo desafio e tentar superá-lo da melhor forma possível. Não ter vergonha de falar e se posicionar sobre tudo - da novela ao jornal, passando pelos comentários esportivos - ajuda bastante. Nesse ponto, a minha geração, anterior ao ENEM, era muito bem preparada. Afinal de contas, passamos o Ensino Fundamental e Médio sendo desafiados com temas clichês e politicamente corretos, que poderiam aparecer no vestibular. Eu nunca gostei de escrever sobre violência doméstica, a questão do lixo, racismo e nem nada disso, mas sempre encarei como "é o que tem para hoje". E ainda hoje, sempre que aparece algum tema, desde mensagens para os meus tios em encontro de casais à redações oficiais em concursos públicos, penso sempre nisso. Obviamente, quando escolho sobre o que escrever, vou direto falar sobre as pessoas, comportamentos e coisas que me chamam a atenção, mas, ainda assim, nem sempre falo de coisas que tem a ver comigo. O brasileiro tem tanto jogo de cintura para dar um jeitinho daqui e dali. Por que não o usar para escrever e desenvolver quaisquer temas que nos sejam impostos?

Em todo caso, acho que todo mundo devia experimentar. A escrita vicia. Quando eu vejo coisas que me chamam a atenção, eu imediatamente penso em como redigiria algo a respeito, como contaria aquela história. E você percebe que se apaixonou e não consegue viver sem essa espécie de grito silencioso, ao expressar o que sente e o que vê no papel, quando começa a relacionar temas sobre o que ainda quer falar. Eu coleciono muitos e acho que todo mundo devia viver esse tipo de paixão.

Foto: Reprodução

11 comentários:

  1. Ei Jacque,

    Adorei o seu novo projeto! Tenho certeza de que será um sucesso...

    Vai ser uma delícia poder "ouvir" seus causos todos os dias!

    Beijos,

    Kel

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  2. Obrigada, Kel!
    Tomara que todo mundo goste! E será um grande desafio para mim manter uma rotina de publicações e manter o meu saldo de histórias para contar!
    Bjos!

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  3. Jacque,

    Parabéns pela iniciativa!!

    Posso dizer que adorei seu primeiro texto e quero muito poder ler os outros!

    Abraços,
    Caroline Freimann

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    1. Muito obrigada, Carol! Quero mesmo que leia e que comente os meus textos para dizer o que gostou e também o que não gostou. Só assim posso repensá-los e melhorá-los. Bjos!

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  4. Ei Jacque!!
    Não sabia desse seu lado escritora!! Muito legal!
    Seu texto ficou ótimo!! Muito bom mesmo!! Adorei!!
    Beijos e sucesso!!
    Bella Cardoso.

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    1. Obrigada, Bella! Eu sempre tive esse lado mais latente em minha vida em alguns momentos e em outros menos, mas sempre o tive. Acho que agora encontrei a tranquilidade e a paciência necessárias para investir nisso e desenvolvê-lo. Bjos!

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  5. Jackie, admiro seus textos desde os tempos das aulas com a Tia Cenoura na 8ª Série, e posso dizer que concordo em gênero, número e grau no que diz respeito ao assassinato da língua portuguesa, principalmente na internet.

    Beijos e parabéns pelo blog.

    Dinarte

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  6. Didi,
    É muito bom saber que tenho um admirador como você, que sempre acompanhou a minha trajetória desde a 8ª série. E lá se vão 15 anos...
    Acho que desde aquela época, o Português era considerado algo caindo no esquecimento quando escrevíamos bilhetes, para conversar silenciosamente durante a aula. Você se lembra?
    Depois o e-mail entrou para as nossas vidas e o ICQ veio à tona como o lírio jogado no enterro da língua.
    Percebemos, com o tempo, a necessidade de resgatá-la para transmitir as nossas mensagens da melhor maneira possível. E é tão gostoso e tão bonito quando a usamos com zelo, né?
    Bjos!

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  7. Essa moca me mata de orgulho!
    Nao e a toa que sua redacao recebeu um 100 da banca da 2ª etapa da UFMG!
    Parabens pelo blog!

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  8. Sabia que a história do 100 na redação apareceria em algum momento aqui. Mas, sinceramente, achei que a Alyne Andrade fosse ser mais rápida. Afinal de contas, eu não conheço ninguém que goste mais dessa história do que ela... Acho que isso até merece um post. Só vou pensar bem em como contar isso. Bjos, Mirandinha!

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  9. jacque,

    achei muito interessante esta sua proposta. Somente hoje tive acesso ao seu blog e me diverti bastante com seus pontos de vista, que são claros, precisos na forma e no conteúdo. Seu texto é facil e flue de forma natural.
    Às vezes eu tb me arrisco a colocar no papel alguma coisa que me ocorra, ou que eu entenda que mereça ser registrado. Normalmente escrevo sobre algo que me chama atenção no meu quotidiano, sobre alguma lembrança perdida que quase sempre acaba me remetendo aos meus mais tenros dias. Isto acabou me rendendo um público um tanto fiel no seio de minha família, já que é deles que normalmente eu falo quando resgato alguma coisa perdida do fundo de minha memória. Escrevo na primeira pessoa, seguindo uma linha que acho que poderia ser identificada como cronica, colocando aqui e acolá algum ponto de vista meu entre as linhas de meu texto.
    Parabens pelo blog. Brincar com as palavras e encantar as pessoas é uma arte para poucos!

    Eduardo Ude

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