Jacqueline
Costa
Há pouco, quando ia para o aeroporto de Congonhas, ansiando por um fim de
semana tranquilo em Belo Horizonte, o táxi parou subitamente. E não foi apenas o
carro, em que eu estava, que parou. A pista foi fechada dos dois lados e ninguém,
a princípio, entendeu o porquê.
O
taxista, todo diligente, desceu do carro para saber o que estava acontecendo, todo seguro de si, deixando claro que tinha o completo controle da situação.
Ele apurou com alguns motoristas, que estavam mais adiante, e eu apenas vi um
deles apontando para cima.
Todo
mundo ali parado, quase que em sincronia perfeita, voltou os olhos para a torre laranja,
que passa por cima da Avenida 23 de Maio, e os pilotos usam para alinhar o
avião à pista. (Acabei de descobrir que ela se chama torre de aproximação). Lá
estava um policial militar, que, descontente com vida, amarrou uma corda ao
pescoço e pretendia se jogar de lá.
Estarrecida
com a cena e pensando o que leva alguém a uma atitude tão extrema, não
conseguia tirar os olhos daquele homem. Eu não sei se sou Pollianna demais
(refiro-me à personagem dos livros, que vê o mundo sempre cor-de-rosa) ou se
vivo uma fase linda demais para pensar em algo tão triste para alguém.
Para
mim, tudo sempre tem jeito. Com saúde e disposição, temos como sanar qualquer
problema. Não há nada que não possa ser resolvido. A vida é um bem precioso
demais para ser colocado em risco por qualquer motivo. Não há nada capaz de
desafiar esse valor.
Nesse
momento, percebi que a coisa tendia a piorar. O policial suicida sacou de sua
mochila rojões e começou a dispará-los em direção aos aviões que, para posar,
passavam por cima da torre, em que ele estava. Em seguida, o homem começou a se
despir. Ele tirava pacientemente cada uma das peças de roupa e as jogava pelos
ares. Esqueci de mencionar o facão, que o policial carregava consigo e que, para usar os rojões, foi amarrado à outra extremidade da corda, amarrada no seu pescoço.
A
essa hora, uma multidão enlouquecida gritava. Uns xingavam. Outros rezavam. Os
mais calmos filmavam e fotografavam. E eu lá... Resolvi aderir aos que
registravam a cena, paguei o táxi e resolvi seguir à pé, porque sabia que o
processo de remoção do homem da torre ia demorar muito.
Depois
que eu empreendi o movimento do "vou à pé", várias pessoas aderiram. O movimento
ganhou força e passageiros indignados caminhavam rumo a Congonhas, tentando não
perder o vôo. Mas de nada adiantou. Obviamente, por causa dos rojões o
aeroporto foi fechado e lá fiquei por mais de três horas, sem qualquer previsão de embarque.
Além
de pensar no valor que as pessoas atribuem à vida, penso ainda na seguraça da
tal torre de aproximação. Não é possível que qualquer pessoa possa nela subir,
descer, rodopiar, sem que haja nenhum tipo de fiscalização. Não é possível que não exista
telas, grades, muros ou qualquer outra coisa, que impeça ou, ao menos, dificulte a escalada das pessoas a essa
torre. Eu realmente estou indignada com a insegurança desses locais. Isso
porque ainda nem disse o que isso causou no trânsito de São Paulo, na aeroporto
e na vida de milhares, talvez milhões de pessoas, que em absolutamente nada contribuíram para
o descontentamento do policial com a vida, com o universo e com tudo o mais.
Aliás, quando o assunto é mobilidade urbana, para São Paulo, qualquer
comentário é dispensado. Tudo fica subentendido.
Por volta de duas horas após a escalada, o homem foi retirado de lá pelos bombeiros e levado para um hospital da região para exames. Segundo os principais portais de notícias, o homem é um policial reformado, afastado de suas funções por problemas psiquiátricos, casado e pai de três filhos.
Essas horas foram capazes de fazer com que a cidade registrasse 220 km de congestionamentos, o que não é superior ao recorde histórico de 295 km. Dezenas de vôos foram cancelados, o que retardará o encontro de muitos filhos com seus pais, no fim de semana que é destes.
Aproveito
o post para justificar todos os compromissos assumidos com os amigos de BH nessa noite e que foram desmarcados. Vou remarcá-los para uma próxima ida a minha cidade e continuar com
saudades de todos vocês! Em breve, estarei de volta e essa história certamente
entrará no meu rol de casos para contar.
Fotos:
Jacqueline Costa
Aposto que era Bambi. Se fosse corinthiano, mesmo que tudo estivesse errado na vida, batia no peito e falava: Aqui é curíntia, mano!
ResponderExcluirSem palavras, Be... Só consigo rir!
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