Fundamental é mesmo o amor

Jacqueline Costa

Inicialmente, destaco que este post foi, na verdade, um desafio lançado por Luiz Carvalho. Por mais que eu já estivesse em débito com esse tema, comecei a escrevê-lo por motivos não tão nobres, quanto ele merecia.

Explico: em uma conversa de bar, um dos presentes, que está prestando serviços na Rede Globo, foi questionado se já encontrou algum famoso por lá. Eu, que nem esperei a resposta, pedi a ele que encarecidamente abrace o Manoel Carlos por mim, se o vir por lá. Ainda reiterei que o autor faria emergir todo o meu lado tiete.

As pessoas acharam o meu fanatismo um tanto quanto estranho e eu expus os motivos de tanta admiração. Gostaria de ser capaz de emocionar as pessoas com o que escrevo, como ele faz, de fazê-las pensar na vida por outros ângulos, antes por elas impensados. É inesquecível para mim os diálogos, as declarações e as reflexões, que ele propõe.

Sempre fui fã das novelas dele e esperei ansiosamente por cada estreia. Já estou acompanhando cada detalhe da próxima, que só começará no ano que vem. Leio tudo sobre seu trabalho e não posso negar que suas obras influenciam sobremaneira a minha forma de escrever.

Depois de discorrer sobre o assunto, Luiz Carvalho disse que só começaria a acompanhar o Toda Conversada depois de um post sobre isso. Reconheço ser absurda a condição sine qua non, que o menino impôs, mas, pensando bem, o absurdo está no fato de que eu ainda não havia falado sobre isso aqui. Então, mãos à obra. O desafio foi lançado e eu espero que, depois disso, ele se torne meu leitor assíduo!

Manoel Carlos, que é também carinhosamente chamado de Maneco, escreveu 18 novelas e minisséries, que foram ao ar na Rede Globo e em outras emissoras. As histórias, criadas por ele, sempre têm como tema o amor, as relações e os limites desse sentimento. Elas se passam quase sempre no Leblon, bairro escolhido pelo autor para viver.

As personagens principais de suas novelas se chamam Helena, nome inspirado na decidida e forte Helena de Tróia. As mulheres são as grandes estrelas de suas obras. Ele dá importância para as pequenas coisas do dia a dia, sob o ponto de vista feminino, e, talvez por isso, me seja tão encantador. Segundo o autor, não há nenhuma outra justificativa para a escolha reiterada do nome, que se tornou uma de suas marcas. E para que explicação melhor?

Foram Helenas de Maneco Lília Lemmertz, Maitê Proença, Regina Duarte, Vera Fisher, Christiane Torloni e Taís Araújo. O autor homenageará a sua primeira Helena, com a filha dela, Júlia Lemmertz, como protagonista de sua próxima e, ao que tudo indica, última novela. Ele já se manifestou nesse sentido outras vezes, mas continuou escrevendo. Acho que o meu vício, é também o dele.

As histórias de amor, que se passam no Leblon, ao som de bossa nova, já fomentaram discussões sobre a gravidez na adolescência, quando esse tema ainda não era tão clichê, alcoolismo, leucemia, câncer de mama, violência doméstica, lesbianismo, o preconceito em relação aos idosos e as dificuldades que os paraplégicos e os portadores de síndrome de down enfrentam. Concordo que é dever da televisão fazer com que as pessoas reflitam sobre assuntos tão importantes e que todos os autores, de certa forma, fazem esse papel social, mas não com a leveza que ele imprime.

No entanto, o que mais me atrai em suas obras é o que, de fato, está relacionado ao amor e o que pode dele decorrer. Assim, Maneco já discutiu o que uma mãe é capaz de fazer pela filha, a paixão de mãe e filha pelo mesmo homem, os ciúmes doentios, a traição e o amor de uma moça linda por um padre, que também se apaixona por ela.

Ambientadas no Leblon, essas histórias só poderiam acontecer ao som de bossa nova e preferencialmente ao som da bossa de Tom Jobim. Para mim é impossível não andar por aquele bairro, cantando uma das músicas, que foram tema de suas novelas, como Wave, Sei lá, Corcovado e Pela luz dos olhos teus. Ando por lá, olhando cada detalhe em busca da inspiração que Maneco encontra ali. E é impossível não sair de lá cheia de ideias dadas por aquele cenário encantador.

A primeira novela do autor, que eu acompanhei, foi Felicidade. Mas foi a partir de História de Amor, que eu definitivamente me apaixonei por cada detalhe. O cenário, os personagens, a trilha sonora, a história, os diálogos e a forma que ele tem de tratar o cotidiano me encantam. Sempre tentei memorizar cada linha dita, como se isso me melhorasse a minha escrita e eu pudesse expressar toda a minha emoção de um jeito tão bonito.

Com Por Amor, Maneco ganhou o horário nobre e contou a história da troca dos bebês, feita por Helena, já que sua filha perdeu o útero no parto e já não podia mais ser mãe. Depois, ele compôs também Laços de Família, com a leucemia da Camila e o amor dela pelo Edu. Em seguida, escreveu a minha favorita, de que sou capaz de me lembrar até os pequenos detalhes: Mulheres Apaixonadas. Essa novela reuniu muito boas histórias em núcleos distintos e cada uma delas prendia a minha atenção como se fosse o tema principal da novela. Maneco escreveu, então, Páginas da Vida, que começou em Amsterdã, quando Nanda se apaixona e fica grávida Depois ela volta para o Rio, tem os gêmeos, morre e sua mãe não aceita a gêmea com síndrome de down, que, por conseguinte, é criada por Helena. E a sua última novela foi Viver a Vida, nome que ele já tinha dado a uma minissérie, que escreveu em 1984, para a Rede Manchete. Eu duvido que alguém nunca tenha ouvido falar da modelo Luciana que ficou tetraplégica e aprendeu a lidar com as dificuldades, que isso trouxe para a sua vida, e a reconhecer, de um jeito diferente, como sempre é possível ser feliz.

São essas as obras de Maneco, que mais me fizeram admirá-lo. Elas me inspiraram e ainda me inspiram. E fizeram com que eu quisesse escrever sempre mais e mais sobre o dia a dia. Fizeram também com que quisesse descrever o quanto é bom encontrar amor nas pequenas coisas.

O que o autor escreve, com que eu queira escrever cada vez mais e tentar alcançar o mínimo de sua habilidade criativa. É assim que eu me sinto uma de suas mulheres mais apaixonadas por tudo que faço. Maneco simplesmente propõe que devemos viver a vida e que busquemos sempre uma linda história de amor. Eu, que escrevo por amor, rabisco as páginas da minha vida e as ilustro com muita felicidade.

É realmente incrível a sensibilidade de Manoel Carlos, que tão perfeitamente sabe descrever o universo feminino e o que todo mundo gostaria de viver: um amor leve para toda a vida. Afinal de contas, ele traduz com perfeição os versos de Tom: “Vou te contar. Os olhos já não podem ver. Coisas que só o coração pode entender. Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho”.

Fotos: Reprodução.