sábado, 1 de junho de 2013

Quando começa e quando acaba

Jacqueline Costa



No início dessa semana, recebi a visita da Alyne e da Pat, irmã dela. Por mais que elas venham sempre para cá cheias de compromissos, o tempinho que resta para ficarmos juntas é pouco, mas dá para botarmos a conversa em dia e rirmos um pouco.

Falávamos de relacionamentos em geral e de como as pessoas perderam de vista que a vida a dois não significa anular individualmente nenhum deles. Duas pessoas se unem, em prol de um objetivo comum. Normalmente, esse objetivo comum é ser feliz, mas ele acaba se esvaindo e sem que os dois percebam, o relacionamento se torna a busca de comprometimento, de cumplicidade, de amor e de respeito. Ele se torna a busca por coisas que deveriam, na verdade, ser sua base.

É cada vez mais comum ouvir casais dizendo que precisam fazer dar certo. Para isso, muitas vezes, um abre mão da própria dignidade e se submete a verdadeiras humilhações; situações absurdas, fruto de machismo exacerbado, de ciúmes sem fim e de discordância a respeito de tudo. Até o cor do mato passa a ser motivo para as mais vergonhosas brigas.

Ontem, depois de um passeio pelo parque, eu e o Gui paramos para comprar uma água de coco ao lado do estacionamento e tinha lá um casal aos berros, discutindo a relação e expondo todas as vergonhas para quem quisesse ouvir. Fiquei me perguntando que amor é esse? Por que as pessoas que se amam às vezes se tratam como se fossem inimigos?

O pior disso tudo é que é cada vez mais comum ouvir o discurso de que se o namoro está ruim, quem sabe se ficarem noivos resolve? Esse é só o início de uma cadeia de erros sem fim, porque essa decisão em nada muda a qualidade da relação. Pelo contrário! Isso implica em uma série de decisões e responsabilidades que só trará mais discórdia se o casal não estiver em sintonia.

Ficarem noivos não resolve, mas eles acabam resolvendo se casar. Outro erro e o relacionamento continua com os mesmos problemas, que tendem inclusive a só aumentar. Depois que se casam, resolvem ter um filho para, quem sabe, melhorar tudo. Depois do filho, os laços entre eles ficam cada vez mais fortes e indissolúveis, mas isso não garante a felicidade dos dois enquanto casal.

Depois de tudo isso, separar-se é muito mais traumático do que seria lá atrás, quando os dois constaram que o respeito tinha acabado e que faltava uma boa dose de cumplicidade e afeto para fazer dar certo. Esse tipo de história é sempre triste e me faz lembrar o que normalmente ouço do povo de Florestal: "O que é mal começado, é mal acabado".

Depois da conversa com a Alyne e com a Pat, fiquei me lembrando de quantos amigos eu vejo passando por isso. Quantas pessoas levam esse tipo de relação aos trancos e barrancos, mas preferem acreditar que o "antes só do que mal acompanhado" deve ser levado ao extremo. Quantas pessoas passam por situações ridículas, por brigas homéricas e por cenas que ultrapassam qualquer limite quanto ao desrespeito? O pior é ver quem a gente nunca imaginou passar por isso, vivendo uma submissão enorme em nome de um amor, que não reflete o verdadeiro significado da palavra. Quantas vezes já ouvi o relato da preguiça de voltar a procurar alguém e começar tudo de novo, por isso é melhor ficar com quem já se conhece bem, inclusive os defeitos. Mas será?

Bom, cada pessoa faz a escolha que acredita ser melhor para si. Mas para mim acreditar no amor não é engolir cada dia um novo sapo. Não é tolerar desrespeito e nem ficar pensando em como transformar o que é, de fato, imutável. Acreditar no amor é não desistir de encontrar alguém que te complete de verdade, que te respeite e te ame pelo que você é, que confie em você, torça por você e te admire. Acreditar no amor é buscar alguém para ser seu melhor amigo, seu cúmplice, alguém com quem queira dividir a vida.

Que as pessoas acreditem mais no amor...

Foto: Reprodução.

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